Capítulo Cinco

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Após o episódio do urso de pelúcia, Pedro apareceu com a equipe de legistas, e fui levada para um quarto maior, onde um guarda estava a postos na porta. Meu superintendente se recusava a me deixar ajudar, limitando-se a fazer perguntas sobre o paradeiro do urso de pelúcia e sem nunca responder aos meus inúmeros questionamentos.

Até que, cansado de mim, ele solicitou ao médico um atestado de duas semanas para mim.

Duas semanas de afastamento, quatorze dias e trezentas e trinta e seis horas até poder voltar ao trabalho. Duas semanas nas quais eu teria que lidar com uma casa vazia e assombrada. Durante esse período, não consegui dormir no meu quarto, o quarto de Brian; não conseguia deitar na cama onde dormíamos juntos.

Nesses quatorze dias de afastamento, quase perdi o restinho de sanidade que me sobrava. Ficava parada na porta do escritório de Brian, sem a mínima coragem de entrar no cômodo, que agora me parecia assombrado. Minha casa inteira parecia assombrada; o cheiro de Brian enfraquecia à medida que ele não retornava para reforçá-lo. Antes de tudo, minha casa era meu porto seguro, meu refúgio e minha fortaleza.

O dia podia ser o pior possível, mas ao chegar em casa e sentir o cheiro do meu marido, ver seu rosto, tudo se dissipava, e eu finalmente encontrava paz. Agora, tudo o que restava era uma casa vazia e fria, assombrada por memórias demais e pessoas de menos.

Após minha alta do hospital, meus pais ofereceram meu antigo quarto para que eu pudesse descansar e não ficasse sozinha. Recusei várias e várias vezes. Não queria nenhum quarto além do meu, nenhuma companhia além da minha. Talvez fosse inconsequente me isolar após eventos tão traumáticos, mas eu simplesmente não ligava.

Queria paz e sossego, e sabia que, com meus pais, não teria isso. Sabia que suas intenções eram boas, queriam ter certeza de que eu estava bem, mas, embora fossem cuidadosos, eram sufocantes. Durante os dois dias em que fiquei no hospital em observação, praticamente implorava para que parassem de me perguntar o tempo todo se eu estava bem, se queria comer ou se precisava de algo.

Foram quarenta e oito horas ininterruptas de perguntas e olhares de pura pena. Nesses dois dias, minha irmã também me visitou com seus dois filhos extremamente barulhentos. Ela teve alta dois dias antes de mim e não parecia a mesma pessoa que encontrei naquela cabana suja.

Seus cabelos cor de cobre agora estavam limpos e perfeitamente alinhados; seu rosto estava carregado de maquiagem; as unhas postiças, gigantescas e pontiagudas, estavam de volta; e os saltos altíssimos também. Olhava para minha irmã e quase não a reconhecia sob toda aquela produção. Temos dois anos de diferença, eu com vinte e oito, sendo a irmã mais velha. Observando minha irmã, ela aparentava pelo menos trinta e dois anos.

Durante as visitas ao hospital, ela não parava de falar sobre como se sentia abençoada por nunca ter tido um aborto e sobre como uma mulher pode ser infeliz se não engravidar. Tudo o que eu conseguia pensar era que ela parecia uma boneca inflável. Seus seios estavam desproporcionais em relação ao corpo franzino e magro; a camiseta decotada deixava o busto praticamente à mostra, como se o silicone fosse estourar a qualquer momento.

Em algum ponto do seu monólogo, eu a interrompi e perguntei o que aconteceu quando ela e Brian desapareceram. Daniela empalideceu, parecia à beira de explodir em lágrimas, balbuciou algumas palavras desconexas e saiu com os meninos. A única pessoa que poderia ter alguma informação valiosa sobre o ocorrido parecia um coelhinho assustado.

— Você não deveria tratar sua irmã assim; ela passou por muita coisa — minha mãe defendeu Daniela. Logo meu pai partiu em minha defesa, argumentando que eu passei pelo inferno, enquanto Daniela falava sobre seus filhos e estava sã e salva com o marido e os meninos. Pelo menos um deles tinha bom senso.

Sombras do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora