Capítulo Quatorze - Almeida (parte um)

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TW: abuso infantil e uso de substâncias ilícitas.

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Curitiba, Paraná.

19 anos atrás

— Moleque desgraçado! Ele chamou o conselho tutelar, Mariana! Isso pode acabar com todo o nosso esquema, porra!

Brian escutava os pais discutindo pela porta do escritório, o seu genitor estava possesso devido a denúncia de abuso dos professores e o conselho tutelar notificou a família de que o menino seria entregue a um orfanato. Após muitas visitas das assistentes sociais, a situação de Brian não melhorou.

O menino era constantemente espancado, sofria abusos psicológicos e a gota d'água para sua professora foi o menino aparecer com um olho roxo e o lábio arranhado. O que a professora não sabia, era que o pai fazia questão de bater em Brian nos lugares que não apareciam.

Todos os ferimentos em seu rosto ou em qualquer lugar visível pelo uniforme, era causado pelo próprio Brian ou por algum garoto maior que ele decidia provocar, o que foi o caso do olho roxo. Para se ver livre dos abusos constantes, Brian decidiu mentir que os ferimentos visíveis eram causados pelos pais.

O menino de apenas dez anos preferia passar a morar nas ruas do que naquele buraco do inferno que era o lugar que deveria chamar de lar. O pai constantemente trazia o que ele chamava de "brinquedos de adulto", que consistiam em armamento pesado e drogas dos mais variados tipos. A mãe, em contrapartida, fazia o uso do "produto" fornecido pelo marido e Brian podia contar nos dedos quantas vezes viu a mãe sóbria.

O menino também não se lembrava de qualquer palavra de amor ou de apoio que fosse. Brian escutou passos pesados do pai e correu para se esconder em um painel solto sob o chão do quarto de hóspedes que raramente era utilizado, sentia-se em um caixão toda vez que estava ali, mas para escapar do pai, ficaria ali por horas.

Ouvia o pai gritando enfurecido para que os empregados encontrassem o menino e ouvia a casa toda em polvorosa, procurando por ele. Ouviu a porta do quarto em que estava se abrir e passos leves no assoalho, estava com tanto medo de ser o pai que prendeu a respiração, com medo de que fosse descoberto.

— Menino Brian, está aqui?

A voz doce da única pessoa que lhe mostrou misericórdia soou pelo quarto. Suelen sempre cuidou dos ferimentos do menino, a mulher de trinta e cinco anos tinha dois filhos em casa e não suportava ver o que faziam com o garoto. A mulher já cuidou de todos os tipos de ferimentos do menino, que iam desde queimaduras de cigarro a membros quebrados.

Decidida a pôr um fim naquela situação, conversou com Brian e lhe disse que se pedisse ajuda em sua escola, iriam ajudá-lo. Sem contar as inúmeras vezes em que fez denúncias anônimas, também gravou alguns momentos em que Rubens, pai de Brian, gritava com o menino.

Suelen teve pesadelos em um dia em que a mãe de Brian, Mariana, havia dito que Brian testemunhou as relações sexuais da mulher com múltiplos parceiros. Antes do "negócio" de Rubens dar certo, Mariana se prostituía para conseguir comprar drogas, então a quantidade de homens que já levou para a casa em que Brian estava, era enorme.

A mulher abriu o painel que sabia que o menino se escondia e encontrou Brian encolhido no pequeno espaço. Sabia do lugar pois ela mesma tinha descoberto o compartimento há meses e ensinou o pequeno onde se esconder para escapar dos monstros que lhe deram a vida.

— Vamos, precisamos te tirar daqui.

Suelen segurou as lágrimas ao ver que o pequeno segurava a respiração, com medo de ser descoberto. Para sua sorte, estava com o carrinho em que levava as roupas para a lavanderia, então pediu para que o menino se escondesse lá enquanto ouvia passos dos guardas da casa vindo em direção ao quarto.

Sombras do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora