Capítulo Vinte e Nove

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Kim encarava a lápide recém-colocada à sua frente, mas os nomes gravados nela era um golpe devastador: Clara Górski Becker e de seu marido, Brian Becker. Abaixo do nome, a data de nascimento e uma simples inscrição deixada por aqueles que os amaram:

Amada filha, amiga e esposa.
Amado filho, amigo e marido.

Sua amiga, sua irmã, estava morta. Kim não conseguia dormir há dois dias, desde que recebeu a terrível notícia de que Clara havia sido vítima de um incêndio criminoso na penitenciária. Não houve tempo para despedidas. A última vez que Kim a viu foi durante o julgamento, quando Clara foi arrastada para fora do tribunal.

Agora, mesmo depois do memorial, Kim ainda não conseguia dizer adeus. O corpo de Clara estava tão carbonizado que o caixão teve de permanecer fechado, tornando a perda ainda mais dolorosa.

O coração de Kim afundou enquanto relembrava toda sua trajetória com Clara, desde o dia em que a amiga a encontrou assustada e machucada em seu quarto, até o momento em que ouviu Vitor pedir ajuda a Clara para planejar o pedido de casamento perfeito.

Foram tantos momentos preciosos ao lado de Clara que Kim não conseguiu conter outra onda de lágrimas e soluços. Era difícil acreditar que havia perdido a pessoa que mais se aproximava de uma família para ela. A dor de não estar ao lado de Clara em seus últimos momentos e imaginar o medo que ela deve ter sentido tornava a perda insuportável, difícil.

O choro sacudia Kim violentamente, e ela nem percebeu quando seus joelhos cederam. Agora, estava frente a frente com a lápide. Sentia uma vontade insuportável de se deitar sobre o túmulo recém-fechado, enquanto sua sanidade parecia escorrer entre seus dedos. Não conseguia entender como o desaparecimento de Brian havia culminado na morte de Clara.

A cabeça de Kim girava, sobrecarregada por tudo o que havia acontecido nos últimos dias e pela falta monstruosa que sentia da amiga. Ao fundo, ouvia risadas distantes, como se estivesse em outro mundo. Lentamente, se levantou e encarou a cena que se desenrolava perto da coroa funerária, onde uma foto de Clara repousava.

A mãe e a irmã de Clara estavam sorrindo. Seus rostos, cuidadosamente maquiados, não exibiam qualquer sinal de luto ou tristeza. Elas riam, como se estivessem em um descontraído churrasco de domingo, e não no enterro da filha e irmã. A visão fez o sangue de Kim ferver. Toda a tristeza, raiva e dor acumuladas se transformaram em uma única emoção: ódio. Lembranças das mentiras e ofensas que aquelas duas dirigiram a Clara durante o julgamento vieram à tona, e, tomada de coragem, Kim marchou em direção à dupla sorridente.

- Vocês deveriam mostrar mais respeito pela morte dela. - disse Kim, colocando-se frente a frente com Olga, que a olhou com desprezo, como se fosse um inseto insignificante.

- Clara teve o que merecia, depois de todos os crimes que cometeu. A bruxinha queimou como devia. - rebateu Olga, a voz carregada de ferocidade e satisfação. Parecia quase feliz por estar ali, diante do túmulo da própria filha.

O asco de Kim se somou ao ódio, e ela não pôde evitar o impulso que a levou a acertar um soco no rosto de Olga. O som estridente ecoou pelo cemitério silencioso, e a mulher mais velha caiu com um baque no gramado.

Daniela, tentando defender a mãe, avançou contra Kim e arranhou seu rosto, mas Kim não se intimidou. Com um golpe preciso, acertou o queixo de Daniela, que se desequilibrou. Kim aproveitou o momento e a derrubou no chão, distribuindo chutes em resposta a cada mentira que Daniela havia dito sobre Clara.

Kim não parava, dominada pela fúria que queimava em seu peito, enquanto as lágrimas corriam sem controle por seu rosto. Só percebeu o que estava acontecendo quando sentiu mãos firmes a segurando e a afastando da confusão. Seu choro angustiado ecoava pelo cemitério silencioso, e foi Vitor, determinado, que a tirou de lá.

Sombras do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora