Capítulo Três

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A cabana era minúscula, para dizer o mínimo.

Uma cama pequena de solteiro ocupava o cômodo que deveria ser a cozinha e sala. Uma mesa cheia de lixo com uma cadeira solitária estava num canto esquecido, e, na pseudo-cozinha, havia alguns balcões decadentes, com várias portas soltas, e outras que nem estavam mais lá, perdidas há muito tempo.

Acorrentada e encolhida no banheiro imundo, estava minha irmã mais nova, vestindo apenas uma camiseta enorme que claramente não era dela. Seus cabelos ruvis acobreados, como os meus, estavam imundos e embaraçados em volta do rosto, que estava sujo, pálido e assustado. Os olhos verdes, tão familiares, estavam marejados e vermelhos, olhando para mim com desespero.

— Clara! — Ela exclamou, levantando-se do chão que um dia fora branco. — Ele me trouxe até aqui!

Ela gesticulava freneticamente, tanto quanto as correntes pesadas permitiam.

Observei melhor o local onde minha irmã estava acorrentada: uma espécie de gancho fixado ao chão segurava um elo da corrente pesada e prateada. Ela teria alguma mobilidade, mas o gancho de ferro só seria removido com ferramentas. Quem quer que tenha feito isso com a Dani, planejou há muito tempo.

— Quem te trouxe até aqui? — Perguntei, temendo a resposta.

Sentia os olhos de toda a equipe de legistas e do meu superintendente nas minhas costas. Quando cheguei na varanda decrépita da cabana, ninguém disse uma palavra, apenas apontaram onde minha irmã estava.

— Um homem enorme, com uma barba enorme e olhar selvagem!

Ela dizia, desesperada, enquanto tentava me abraçar. O toque dela era estranho, e todo o meu corpo rejeitava o contato, mas as lágrimas que escorreram dos seus olhos partiram meu coração em mil pedaços.

— Ele disse que era para esperar aqui e que você viria me resgatar. — Ela fungava na minha camisa e tremia incontrolavelmente.

— Está tudo bem. Eu estou aqui agora e preciso que você me escute, tá bom? — Disse, afastando alguns fios do rosto vermelho e molhado.

Minhas mãos estavam cobertas por luvas para preservar qualquer evidência.

— Nós precisamos tirar você daqui, mas eu preciso que você se lembre bem do homem que te trouxe e do que aconteceu antes. Isso vai me ajudar a encontrar quem fez isso.

Tentei afagar os cabelos dela, que agora parecia mais calma.

— Preciso que você fique tranquila enquanto eu converso com minha equipe para tirarmos essas correntes.

— Não! Por favor, não me deixe aqui. — Ela choramingou, agarrando-se a mim, seu corpo pequeno e magro tremendo, à beira de um colapso.

— Eu prometo que não vou te deixar, Dani. Vou estar ali na porta, onde você poderá ficar de olho em mim, tá bom? — Acariciei suas costas como pude e segurei uma de suas mãos para que se sentisse segura.

Ela me soltou do abraço apertado e assentiu, com os olhos marejados, enquanto eu me afastava. Meu superintendente se aproximou, preocupado e apreensivo.

— Temos alguma ferramenta para tirar aquelas correntes? — Perguntei, falando o mais baixo possível para que Dani não nos ouvisse. — Aquele gancho no chão parece bem firme para mim.

Pedro assentiu, provavelmente já tendo visto o gancho ao entrar.

— Solicitei que o batalhão mais próximo trouxesse algumas ferramentas e também o corpo de bombeiros. Se não conseguirmos remover o gancho, teremos que cortar um elo da corrente. —Pedro informou suavemente.

Sombras do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora