A cabana era minúscula, para dizer o mínimo.
Uma cama pequena de solteiro ocupava o cômodo que deveria ser a cozinha e sala. Uma mesa cheia de lixo com uma cadeira solitária estava num canto esquecido, e, na pseudo-cozinha, havia alguns balcões decadentes, com várias portas soltas, e outras que nem estavam mais lá, perdidas há muito tempo.
Acorrentada e encolhida no banheiro imundo, estava minha irmã mais nova, vestindo apenas uma camiseta enorme que claramente não era dela. Seus cabelos ruvis acobreados, como os meus, estavam imundos e embaraçados em volta do rosto, que estava sujo, pálido e assustado. Os olhos verdes, tão familiares, estavam marejados e vermelhos, olhando para mim com desespero.
— Clara! — Ela exclamou, levantando-se do chão que um dia fora branco. — Ele me trouxe até aqui!
Ela gesticulava freneticamente, tanto quanto as correntes pesadas permitiam.
Observei melhor o local onde minha irmã estava acorrentada: uma espécie de gancho fixado ao chão segurava um elo da corrente pesada e prateada. Ela teria alguma mobilidade, mas o gancho de ferro só seria removido com ferramentas. Quem quer que tenha feito isso com a Dani, planejou há muito tempo.
— Quem te trouxe até aqui? — Perguntei, temendo a resposta.
Sentia os olhos de toda a equipe de legistas e do meu superintendente nas minhas costas. Quando cheguei na varanda decrépita da cabana, ninguém disse uma palavra, apenas apontaram onde minha irmã estava.
— Um homem enorme, com uma barba enorme e olhar selvagem!
Ela dizia, desesperada, enquanto tentava me abraçar. O toque dela era estranho, e todo o meu corpo rejeitava o contato, mas as lágrimas que escorreram dos seus olhos partiram meu coração em mil pedaços.
— Ele disse que era para esperar aqui e que você viria me resgatar. — Ela fungava na minha camisa e tremia incontrolavelmente.
— Está tudo bem. Eu estou aqui agora e preciso que você me escute, tá bom? — Disse, afastando alguns fios do rosto vermelho e molhado.
Minhas mãos estavam cobertas por luvas para preservar qualquer evidência.
— Nós precisamos tirar você daqui, mas eu preciso que você se lembre bem do homem que te trouxe e do que aconteceu antes. Isso vai me ajudar a encontrar quem fez isso.
Tentei afagar os cabelos dela, que agora parecia mais calma.
— Preciso que você fique tranquila enquanto eu converso com minha equipe para tirarmos essas correntes.
— Não! Por favor, não me deixe aqui. — Ela choramingou, agarrando-se a mim, seu corpo pequeno e magro tremendo, à beira de um colapso.
— Eu prometo que não vou te deixar, Dani. Vou estar ali na porta, onde você poderá ficar de olho em mim, tá bom? — Acariciei suas costas como pude e segurei uma de suas mãos para que se sentisse segura.
Ela me soltou do abraço apertado e assentiu, com os olhos marejados, enquanto eu me afastava. Meu superintendente se aproximou, preocupado e apreensivo.
— Temos alguma ferramenta para tirar aquelas correntes? — Perguntei, falando o mais baixo possível para que Dani não nos ouvisse. — Aquele gancho no chão parece bem firme para mim.
Pedro assentiu, provavelmente já tendo visto o gancho ao entrar.
— Solicitei que o batalhão mais próximo trouxesse algumas ferramentas e também o corpo de bombeiros. Se não conseguirmos remover o gancho, teremos que cortar um elo da corrente. —Pedro informou suavemente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sombras do Passado
غموض / إثارةA investigadora Clara Becker se vê mergulhada em uma teia de mentiras e mistérios quando sua irmã e seu marido desaparecem sem deixar rastros. Quando sua irmã é encontrada em uma cabana isolada, o que parecia ser o fim do mistério apenas abre caminh...