Origens (parte dois)

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Curitiba, Paraná.

Seis anos atrás.

— Clara!

Vitor me cumprimentou animado na porta do escritório, seu sorriso radiante alegrando meu dia, especialmente após minha recusa de ontem. Sorri de volta, e juntos subimos no elevador. Perguntei o que causava tanto alvoroço, e ele prometeu me contar no escritório.

Ao sairmos do elevador, um homem de cerca de quarenta anos nos aguardava nas cadeiras. Estranhei vê-lo ali, pois todas as reuniões eram agendadas, e não lembrava de nossa estagiária mencionar qualquer cliente tão cedo naquela manhã.

— Bom dia, senhor! Tudo bem? — Cumprimentei-o com um sorriso, e ele retribuiu a gentileza.

O homem era alguns centímetros mais alto que eu, mas ainda abaixo da média. Seus olhos castanhos eram gentis e calorosos, e o cabelo, salpicado de fios grisalhos, denunciava sua idade.

Entramos no escritório, e pedi que ele se sentasse em minha sala, enquanto chamei Vitor para conversarmos em particular. Ele fechou a porta rapidamente e começou a falar com entusiasmo.

— Clara, aquele homem na sua sala é Otto Becker. Ele entrou em contato comigo há alguns dias, oferecendo comprar o nosso escritório para fundi-lo com o dele. Acho que você já ouviu falar dele; trabalhou muitos anos como procurador-geral de Curitiba e tem sua própria rede de escritórios de advocacia.

Vitor estava vermelho de empolgação, enquanto eu tentava entender a situação. Se vendêssemos nosso escritório, ambos ficaríamos sem emprego, certo?

— Espera, me conta tudo desde o início. Você já fechou a venda sem me avisar?

— Claro que não! Só conversamos por telefone e marquei este encontro para entendermos o que ele quer antes de tomar qualquer decisão. Nunca faria isso sem te consultar. — Vitor segurou minha mão direita com carinho, e eu a apertei de volta.

Sorri e o convidei para irmos até a sala de reunião com o senhor Becker, que parecia extremamente satisfeito por estar ali.

— Senhor Becker, é um prazer conhecê-lo. Me chamo Clara Górski. — Sorri enquanto lhe estendia a mão, e ele retribuiu com um aperto caloroso e um sorriso.

Invejei sua calma; ele parecia tão sereno, como se estivesse em uma praia, imune a qualquer tensão, pelo menos era essa a impressão que me dava, sendo uma estranha.

Vitor puxou o assunto da compra, direto ao ponto como sempre, e conversamos por cerca de uma hora e meia. Otto nos explicou o processo de aquisição, afirmando que continuaríamos a trabalhar, mas sob a empresa Becker Advocacia. Nossas cotas seriam vendidas a ele, e passaríamos a trabalhar em sua sede, onde teríamos a oportunidade de crescer e, eventualmente, comprar nossas cotas de volta como associados. O que ele desejava, dizia ele, era nosso intelecto e o desenvolvimento de nossas carreiras.

Particularmente, achei a proposta boa demais para ser verdade. Um estranho querendo comprar nosso escritório apenas para nos desenvolver? Quais seriam seus reais interesses?

— Senhor Becker, agradeço a oferta, mas, para ser honesta, estou achando a proposta boa demais para ser verdadeira. O que o senhor ganharia ao nos "desenvolver"? Considerando que já somos advogados formados com um escritório aberto.

— Considerando que vocês são novos, trabalhar para uma firma mais conhecida que o escritório recente de vocês é uma excelente oportunidade para se tornarem reconhecidos. Tenho vários contatos de advogados que receberam a mesma proposta e podem compartilhar suas experiências. Uma delas, que vocês devem conhecer, é a advogada Lívia O'Connor.

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