Capítulo Dezessete

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Mais uma vez, eu ouvia as sirenes das viaturas de polícia. Legistas recolhiam amostras por toda a minha casa, e o caos organizado da investigação de uma cena de crime tomava conta do ambiente. Suspirei enquanto estava sentada no sofá, sentindo falta desse caos, que tanto amava nas investigações — mas agora, por ser a investigada, tudo me deixava desconfortável.

Meu superintendente, Pedro, fez várias perguntas para entender o ocorrido, e eu relatei desde o primeiro bilhete até o sangue no chão. Ao narrar tudo, percebi minhas várias decisões equivocadas: não ter chamado a polícia desde o primeiro bilhete, não ter buscado um acompanhante quando fui até a casa naquela manhã... Eu sabia que Pedro também pensava o mesmo, mas nada poderia ser mudado; só restava aceitar os erros e encontrar o invasor.

— Você tem alguma ideia de quem poderia querer te ferir dessa forma?

Pedro me olhava preocupado enquanto fazia a pergunta. Não sabia se ele estava preocupado com minha situação atual ou com nosso último encontro.

— Pode ser qualquer um. Prendi muitas pessoas nesses anos como investigadora. Seria uma lista bem longa de se fazer.

Tentei sorrir, mas provavelmente saiu mais como uma careta. A vontade de contar sobre os últimos acontecimentos era grande, mas eu ainda não sentia confiança suficiente, então preferi manter essas informações para mim.

— Como andam as investigações sobre o desaparecimento do Brian? Alguma novidade?

Perguntei já imaginando a resposta, mas torcendo para estar errada.

— Infelizmente, não. Estamos analisando as câmeras do possível trajeto que ele fez com a irmã e o local onde ela informou que o viu pela última vez.

A mentira saía tranquila de sua voz, e isso me fazia sentir culpada por ter me descontrolado com ele na última vez que nos vimos. Mentiroso. Não conseguia acreditar que o homem diante de mim era o mesmo tutor que me treinou como investigadora e com quem dividi grande parte dos últimos dez anos.

Pedro se levantou, disse que me avisaria sobre qualquer novidade, e logo saiu da casa com a equipe de legistas, que levaram várias amostras, inclusive das marcas de luva no meu pescoço. Finalmente fiquei sozinha no caos em que meu lar havia se tornado. Suspirando, decidi agir por mim mesma e peguei o frasco de amostras que consegui surrupiar dos legistas.

Com lágrimas escorrendo pelo rosto, fui até o jardim, observando todo aquele sangue no chão, e colhi as amostras o mais cuidadosamente que pude, para enviá-las a um amigo de uma delegacia em outra cidade. Que se dane a investigação do Pedro; eu faria a minha própria e da maneira que achasse correta.

Liguei para Lucas, o legista da cidade próxima a Curitiba, e pedi que nos encontrássemos no café mais próximo do batalhão dele. A viagem até lá levaria cerca de duas horas, então combinamos para o fim da tarde, quando seu turno terminasse e eu já estivesse com a mente mais organizada.

Organizei a casa da melhor forma possível e liguei para Kim para contar o que aconteceu. Minha amiga surtou do outro lado da linha, dizendo que viria para minha casa imediatamente com uma espingarda. Sorri e disse a ela que não se preocupasse — mesmo entendendo os motivos dela. Expliquei sobre a viagem até a cidade vizinha e pedi que não me esperasse acordada.

Kim implorou para que eu a levasse junto, mas eu não queria colocá-la em risco desnecessário. Expliquei que poderia ser perigoso e preferia que ela ficasse o mais longe possível de toda essa confusão. Felizmente, minha amiga entendeu. Desliguei e subi para o meu quarto, onde arrumei uma mala maior com roupas, rezando para que nenhum bilhete aparecesse em minha cama.

Por mais que eu duvidasse que aquele homem voltaria tão cedo, o medo estava enraizado em mim, e eu me assustava com qualquer barulho. Decidi lavar o chão antes do banho e desci para o local que agora parecia um matadouro, com tanto sangue espalhado. Como a perícia havia pedido minhas roupas para a investigação, vesti algo mais confortável, que facilitasse a tarefa que me esperava.

Sombras do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora