Capítulo Vinte e Três

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Mais uma vez, em menos de vinte e quatro horas, meu superintendente me encarava preocupado. A equipe de polícia chegou à minha casa em menos de quinze minutos e já começava a vasculhar tudo novamente.

As fichas dos pais biológicos de Brian foram recolhidas, assim como o par de mãos sobre a bancada. A equipe forense coletava evidências de qualquer superfície que os invasores pudessem ter tocado, tanto no escritório e quarto quanto no restante da casa.

Pedro, que subitamente se lembrara de como fazer seu trabalho, isolou minha casa e deixou policiais de guarda, já que agora era considerada uma cena de crime. Avisei-os de que não ficaria ali durante a noite, e Pedro me aconselhou a levar oficiais comigo para onde quer que eu fosse.

Recusei.

Não sabia quem estava de olho em mim, quantas pessoas rondavam minha casa e, mais importante, se era alguém da polícia que me vigiava como um gavião. Não me dei ao trabalho de avisar para onde ia, mas sabia que Pedro mandaria alguém me seguir. Então desviei da casa de Kim e segui para um hotel onde já encontrara alguns informantes anônimos durante meus dias de investigadora.

Como previa, dois oficiais entraram alguns segundos depois de mim e foram em direção à recepção, enquanto eu os observava das poltronas do bar, a alguns metros do balcão de check-in. Esperei até que entrassem no elevador, já que sabiam do pseudônimo que eu usava para me registrar ali.

Saí tranquila do hotel, observando qualquer movimento suspeito, e segui para a casa de Kim, com o HD e as fotos das fichas queimando no bolso. Sem contar o celular de Brian, que praticamente implorava para ser investigado, algo que eu faria assim que chegasse à casa de Kim.

Notei o carro preto pelo retrovisor, seguindo-me a dois carros de distância. Já perto do condomínio de minha amiga, a melhor rota seria estacionar em algum estabelecimento para observar se ele seguia em frente ou se esperava próximo ao meu carro.

Conhecia um restaurante charmoso que servia lámen e decidi pegar duas refeições antes de encontrar minha amiga, que me aguardava ansiosa e preocupada em sua casa. Perguntei a Kim qual das opções ela queria e aguardei o casal simpático preparar as refeições, enquanto observava a porta. Não vi o bendito carro passando pela frente do restaurante.

Ao sair do restaurante, tentaria observar se havia algum carro estacionado na rua bem iluminada. Aproveitei o tempo livre para reler a foto da ficha dos Almeida, memorizando os traços dos pais de Brian, que parecia uma mistura dos dois.

Também verifiquei se já haviam ligado o telefone falso e, para minha tristeza, ele ainda estava desligado. Intrigava-me o que havia de tão importante no celular de Brian para que o quisessem tanto. Estava curiosa demais para verificar o conteúdo, mas tinha medo de acessá-lo em público.

Logo as refeições ficaram prontas, e saí do restaurante prometendo ao simpático casal que voltaria mais vezes. Já do lado de fora, não percebi sinais do carro e segui para a casa de Kim, sempre atenta ao retrovisor.

Ao chegar ao condomínio de Kim, estacionei e fiquei alguns minutos para ter certeza de que o carro não estava à espreita. Mais importante, precisava garantir que ninguém observava Kim e Vitor. Se era efeito do cansaço ou realmente alguém me seguia, nunca saberia.

Deixei o carro na vaga que Kim havia reservado para mim e segui o curto caminho a pé, observando o condomínio bem iluminado e tranquilo. Assim que entrei na casa, Kim correu como um raio até mim, analisando meu rosto e questionando sem parar se eu estava machucada.

— Mulher, pelo amor de Deus! — Ri do assombro nos olhos de minha amiga, tentando amenizar o clima tenso ao fazê-la rir. — Precisa de muito mais que um brutamontes para me derrubar. — Lancei uma piscadela em direção a Kim enquanto organizava nossa comida na bancada.

— Você é louca?! Uma pessoa te ataca e você está sorrindo assim? — Kim me encarava indignada. Minha amiga de um metro e meio podia ser bem assustadora quando queria. Melhor não tocar no assunto das mãos na caixa.

— Kim, eu prometo que estou bem! Podemos comer, por favor? — Tentei tirar o foco do ataque, já que sabia que não conseguiria esconder os acontecimentos por muito tempo. Precisava desesperadamente desabafar, mas não queria envolver mais ninguém próximo a mim.

Sentamos à bancada para uma refeição silenciosa. Kim estava cabisbaixa, segurando o guardanapo com força, como se tentasse não surtar.

Subitamente, ela se levantou e jogou a comida na pia. Minha amiga me encarava com lágrimas nos olhos e tremia tanto que temi que desmaiasse.

— Eu entendo você esconder informações de mim, Clara. Eu realmente entendo! — Kim chorava, emotiva como eu. — Mas você não pode esconder como se sente. Você praticamente não come, não para em casa e, quando volta, parece que viu um fantasma!

Ela segurava meus ombros, olhando diretamente na minha alma. Um nó na garganta dificultava minha respiração, enquanto eu tentava segurar as lágrimas.

— Kim, tudo o que eu quero é que você e Vitor fiquem seguros. Não suportaria se algo acontecesse com vocês.

— Você pensa que eu não sei que está nos rastreando o tempo todo? Que acorda no meio da noite e fica de guarda no sofá, esperando um bicho-papão entrar? — Kim me sacudia levemente, tentando me fazer enxergar o quão fundo eu estava caindo.

Chorei como criança no ombro dela, sem coragem de contar tudo, especialmente sabendo da ameaça direta na carta que ela recebera.

O silêncio entre nós foi quebrado por uma batida na porta. Meu coração disparou. Fui silenciosamente até o olho mágico e vi Pedro parado.

— Clara Becker, você está detida por ocultação de provas e obstrução da justiça.

A caminhada até a viatura foi um borrão.

No fundo, sabia: o que quer que o desaparecimento de Brian tivesse iniciado, não terminaria tão cedo.

Texto revisado. 

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