Curitiba, Paraná.
Dias atuais.
As sirenes da polícia estavam gravadas em minhas pálpebras. Sentada na calçada, tudo era insignificante. O som distante da voz de um policial me dava dor de cabeça. Registrei apenas que um morador havia chamado a polícia porque ouviu meu choro desesperado e ficou preocupado.
— Senhora Becker, Pedro Andrade está aqui para levá-la até a delegacia.
O oficial me informou, no exato momento em que meu superintendente descia da viatura. Eu poderia gritar com ele ou acusá-lo de investigação negligente, mas meu cansaço físico e mental havia atingido novos níveis, e eu só queria minha casa, por mais vazia que estivesse.
— Clara, pode vir comigo, por favor?
Pedro me pediu calmamente enquanto abria a porta do passageiro do meu carro. Assenti, exausta de tanto brigar, e sentei-me em silêncio, afivelando o cinto de segurança. Meus olhos ardiam por conta das lágrimas, e meu rosto estava completamente vermelho e manchado. A mistura de fuligem e lágrimas deixava minha pele acinzentada.
Estava exausta. Física, mental e emocionalmente esgotada.
Eu tinha mais perguntas do que respostas, e isso era frustrante, mas também fazia parte do que eu amava no meu trabalho como investigadora. As peças que sempre se encaixavam ao final de cada caso, cada conclusão que elucidava o enigma, eram o que me motivavam. Porém, nesse caso, eu não conseguia ver o fim daquilo. Os motivos, a linha do tempo, qualquer coisa minimamente útil... tudo me escapava.
— Clara, o que aconteceu para te deixar nesse estado?
Pedro questionou calmamente enquanto dirigia em direção ao batalhão. Minha intuição me dizia para não contar nada a Pedro, que nada de bom viria disso. Decidi segui-la e, assim, relatei apenas meias verdades.
— Estava curiosa sobre a rua em que Brian e Daniela foram vistos pela última vez, só isso. Estava chorando porque toda a tensão e o medo vieram de uma vez só enquanto eu dirigia, depois que saí daquela rua. Mas era apenas uma curiosidade mórbida e não deveria ter ido até lá.
Relatei, cabisbaixa. Era a melhor forma de convencer Pedro do meu arrependimento por ter ido até lá. Não contaria sobre a carta, nem sobre as gravações que consegui, tampouco sobre a informação de que ele estava fazendo vista grossa sobre o desaparecimento de Brian.
— Então você não interrogou ninguém ou arranjou alguma confusão?
— Não, como eu disse, era só curiosidade.
A frieza na minha voz me assustou, mas, se era o necessário para manter minhas preciosas pistas comigo, faria o que fosse preciso. Se contasse para Pedro, ele levaria as informações que eu tinha e eu não teria nenhuma garantia de que elas seriam investigadas corretamente, se é que seriam investigadas.
Como Pedro parecia satisfeito com minha resposta, decidiu me levar para casa, com uma viatura nos acompanhando. O caminho de cinquenta minutos transcorreu em completo silêncio. Pedro me conhecia bem o suficiente para entender que eu precisava de espaço e não disse mais uma palavra sequer. Suspirei aliviada quando os portões brancos de casa surgiram à minha frente.
Pedro conferiu rapidamente os cômodos, guiado pelo costume policial, e me abraçou forte ao se despedir. Normalmente, eu me sentiria segura e confortável ao lado dele, mas só sentia um vazio extremo e uma tristeza sem fim. Os portões se fecharam, e me vi completamente sozinha. Decidi ligar para Kim. Reconhecia que não estava em condições de ficar sozinha e pedi para passar alguns dias com ela.
— O simples fato de você ter me pedido já mostra o quanto você está mal. Claro que pode ficar aqui; nem precisa pedir. Vou avisar a portaria que você está vindo e pode tomar um banho de banheira para relaxar.
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Sombras do Passado
Mystery / ThrillerA investigadora Clara Becker se vê mergulhada em uma teia de mentiras e mistérios quando sua irmã e seu marido desaparecem sem deixar rastros. Quando sua irmã é encontrada em uma cabana isolada, o que parecia ser o fim do mistério apenas abre caminh...