Capítulo Trinta e Um

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Madrugada do dia 4 de setembro de 2022.

A dor irradiava pelo meu crânio, que parecia prestes a explodir. Meus olhos tentavam entender onde eu estava, que lugar escuro era aquele, e por que eu estava em algo que parecia uma maca. Sentia o solavanco do carro, que me enjoava. Tentei me levantar, mas para minha surpresa, minhas mãos e pés estavam amarrados àquela estrutura, impedindo qualquer movimento. O pavor me dominou. Onde eu estava? Por que estava amarrada? Quem dirigia o carro que me levava, sabe Deus para onde?

As lágrimas escorriam, desenfreadas. A última lembrança que eu tinha era da coronhada da agente penitenciária. Nem sabia em que dia estava. Quanto mais tentava lembrar, mais minha cabeça doía. Tentei gritar, pedir ajuda, mas minha mandíbula estava travada por uma mordaça. Quem quer que estivesse ao volante, certamente planejava me matar. O carro parecia menor, mais quente, e a mordaça também me impedia de respirar.

Eu estava sufocando.

Me debati, tentando chamar a atenção do motorista, ao menos para que me deixasse respirar. Logo o carro parou. Ouvi passos do lado de fora, o som do cascalho revelando que a pessoa que vinha em minha direção era pesada. Não sabia o que era pior: o sufocamento ou o fato de não saber quem era aquela pessoa que, possivelmente, seria meu assassino.

Quando a porta da van se abriu, um homem imenso entrou. A luz dos postes, contra sua silhueta, não me permitia ver seu rosto na penumbra, apenas suas formas robustas. Ele acendeu uma lanterna direto no meu rosto, a luz branca me cegando. Senti a mordaça ser ajustada, e consegui respirar, ofegante, mas ainda sem poder falar. Implorei do jeito que podia para que ele me deixasse ir, prometendo não contar a ninguém. Ele não disse nada. Apenas injetou algo na bolsa de soro, que percebi, pela primeira vez, estar conectada ao meu braço direito.

Tão rápido quanto chegou, ele se foi.

Por um tempo, meu corpo ficou dormente, leve, até que meus olhos finalmente se fecharam.

Por um tempo, meu corpo ficou dormente, leve, até que meus olhos finalmente se fecharam

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Acordei em uma cama de solteiro. A luz do sol entrava discretamente por uma fresta da cortina pesada, fazendo meus olhos doerem. Meu corpo não estava muito melhor: quando me movi — ainda com medo de estar amarrada — senti dores por toda parte, como se tivesse sido atropelada por um caminhão. Levantei-me e observei o lugar desconhecido.

O que presumi ser um quarto era pequeno e bem iluminado, apesar da cortina densa. A cama de solteiro encostada na parede branca tinha cobertores e lençóis da mesma cor. Havia uma mesa pequena encostada na parede oposta, com várias folhas de papel em branco e lápis de cor emborrachados. Me lembrei dos lápis que meus sobrinhos usavam: as pontas não eram afiadas e o corpo era de um material flexível.

Um banheiro pequeno e sem espelho ficava próximo à porta. Foi por ela que uma mulher entrou. Sua aparência me assustou: olhos azuis enormes e cristalinos, cabelos negros repuxados em um coque apertado, e uma expressão de desgosto que enrugava todo o rosto.

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