Capítulo Vinte e Cinco

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Odiava aquela cama da penitenciária, o cobertor irritava minha pele e não podia tomar um banho decente naquele lugar esquecido. Sem contar o tratamento que recebia das detentas e das agentes, fui empurrada, cortada e socada por ser uma policial, mas eu não revidava.

 Aguentava com um sorrisinho presunçoso no rosto e não me dava ao trabalho de me defender. O problema ali eram elas e não eu, sabia da minha inocência, por mais que fosse difícil de acreditar.

As detentas tinham ódio considerando que já mandei alguns de seus parceiros para a prisão e as agentes tinham ordens para infernizar minha vida, uma policial presa era sempre motivo de linchamento, considerada uma criminosa tão asquerosa quanto qualquer uma das detentas e até pior. Uma traidora, como gostavam de me chamar.

Faltavam apenas algumas horas para o meu julgamento e Vitor e eu tivemos a semana mais exaustiva de nossas vidas montando minha defesa e escolhendo testemunhas. Além de reunir todas as provas de vídeo que pudéssemos encontrar e considerando que a polícia não colaborava para liberar as provas, estávamos exaustos.

— Um amigo meu dentro da procuradoria me disse que vão tentar te acusar de homicídio daquele homem, o que você recebeu as mãos dentro da caixa. — Vitor me informou em um dos dias, ele parecia tão preocupado quanto eu quanto às minhas chances de ser considerada inocente.

No fim das contas, reunimos o maior número de evidências disponíveis e decidimos convocar Linda, Otto, Kim, meu pai e alguns psicólogos e psiquiatras conhecidos na área criminal para testemunhar a meu favor. Não queria a desequilibrada da minha irmã como testemunha — já que ela nunca concordaria em testemunhar ao meu favor — e minha mãe menos ainda, já que sempre tomaria o lado da filha de ouro, então para que pudesse evitar mais problemas do que já tinha, optei por não convocá-las.

Vitor tentaria jogar com as inconsistências que haviam no meu caso, desde a abertura direta de acusação, sem as fases corretas de audiência preliminar e produção de provas, já que o juiz já ouviria diretamente às testemunhas e examinaria as evidências.

Com essas inconsistências, um juiz munido de bom senso seria capaz de ordenar minha liberdade, já que o caso todo estava permeado de evidências circunstanciais e testemunhas. É claro que eu torcia para o melhor, sabia que Vitor era um dos melhores advogados com quem já trabalhei, mas meu amigo não teria chance contra um jogo sujo.

O que me restava era revisar tudo o que ensaiamos para o julgamento durante o caminho.

Kim me mandou um conjunto de alfaiataria, uma camiseta branca e um par de saltos para o julgamento, troquei o conjunto de moletom feio e pobre da prisão no banheiro do tribunal, dando graças por tirar o tecido áspero do meu corpo. Se fosse acusada, pelo menos seria com estilo.

Fui praticamente arrastada até a sala de audiência, onde pude ver os rostos dos meus sogros, do meu pai e de Kim. Não esperava que minha irmã e mãe comparecessem e, francamente, preferia assim.

Me sentei ao lado de Vitor, que estava extremamente calmo. Uma habilidade que invejava no meu amigo, era o "modo advogado" como apelidei. Uma vez em audiência, meu amigo não se abala por absolutamente nada e era criterioso em suas palavras, já prevendo o que a acusação diria.

Admirava-o imensamente por isso, já que não conseguia lidar com audiências nos meus dias de advogada. Preferia muito mais o estudo de casos e pistas do que lidar com audiências como aquela. Ao contrário de meu amigo, eu me encontrava uma pilha de nervos, tinha vontade de sair correndo e me enfiar no buraco mais próximo.

O juiz entrou na sala e todos nos levantamos, toda aquela burocracia de julgamentos estavam esquecidas no fundo da minha mente, achava tudo muito chato e sem graça enquanto fazíamos os juramentos. O juiz se apresentou como senhor Rodrigues e ele deu início na audiência ao ouvir a procuradoria primeiro.

Sombras do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora