Origens (parte sete)

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Há 6 anos.

Brian observava Clara dormir pacificamente ao seu lado. A mulher, de no máximo um metro e sessenta, dormia enrolada em um dos vários cobertores que ele colocara ao seu redor. Brian dizia que era uma maneira de protegê-la, já que Otto sempre fazia isso com ele quando tinha pesadelos.

Os dois haviam passado a noite anterior jogando conversa fora e assistindo Friends, mesmo que Clara já tivesse visto a série milhares de vezes. Ele sorria ao se lembrar do riso fácil e do bom humor da ruiva ao seu lado; só conseguia pensar em como era raro encontrar uma pessoa tão autêntica quanto ela neste mundo insano.

Já estava acordado há meia hora e, mesmo assim, não conseguia tirar os olhos do rosto sereno da advogada. Queria gravar cada detalhe em sua mente: o formato oval do rosto delicado, o nariz levemente arrebitado com mais sardas do que poderia contar, os lábios grossos - que sempre tinham uma resposta sarcástica pronta - em formato de coração; os cílios longos e os olhos mais verdes que já tinha visto na vida; e, é claro, os cabelos ruivos acobreados e flamejantes.

— É sempre bom dormir com um psicopata te encarando, sabe. — Clara resmungou, ainda de olhos fechados, enquanto seus braços se fechavam ao redor de Brian, que corava por ter sido pego no flagra.

— Não me lembro de ter me chamado assim ontem à noite, Clarinha. — Brian provocou, malicioso.

Depois de tanta conversa, Brian puxou Clara para o seu colo e bem... esse era o motivo de agora estarem completamente nus debaixo dos cobertores. Ele não se lembrava de quando foi a última vez que quis conversar tanto com alguém ou de como suas bochechas doíam de tanto sorrir. Era estranho o quanto Clara o fazia se sentir bem, ao mesmo tempo em que sentia medo e curiosidade.

Clara apenas revirou os olhos enquanto seguia para o banheiro compartilhado com Kim e Vitor — roubando sua camiseta no processo — , logo desaparecendo no cômodo. Em seguida, Brian ouviu uma batida na porta do quarto e rapidamente escondeu as roupas de Clara da melhor forma possível, já que imaginava que fossem seus pais.

E lá estavam Otto e Linda para saudá-lo.

— Cadê o seu colega de quarto? — Otto perguntou, estranhando a ausência de Vitor.

— Foi ao banheiro. — Brian respondeu, vestindo uma camiseta, não queria que os pais vissem os arranhões que Clara havia deixado em suas costas.

— Ah, é uma pena que Kim e Vitor não tenham ficado juntos, aí Clara poderia vir para este quarto. — Otto bufou e resmungou enquanto se sentava em uma das poltronas próximas à janela.

Brian, assim como Clara, achava a insistência de Otto desconfortável. Por isso, não mencionava mais Clara para os pais nos últimos meses, mesmo confiando na mãe. Sabia que Linda não guardaria esse tipo de segredo do marido, e vice-versa. Eles eram um belo casal de fofoqueiros.

— Pai, por favor. Já conversamos sobre isso um milhão de vezes. Acho desconfortável que você insista tanto para que Clara e eu tenhamos algo a mais. Já pensou que isso pode ser considerado assédio? Ou que ela simplesmente não queira nenhum relacionamento comigo? — Brian pontuou, chamando a atenção ao mencionar assédio, já que seus pais sempre fizeram o possível para proporcionar um ambiente seguro para todos ao redor, incluindo os sócios do escritório.

Otto, percebendo o incômodo que sua insistência causava, ficou horrorizado. Gostava demais da garota esforçada que conhecera por acaso e não queria deixá-la desconfortável de forma alguma.

— Perdoe seu velho, meu filho. Você nunca falou tanto de alguém para nós quanto falou de Clara, então me perdoe pelo entusiasmo. — Otto se desculpou, apertando o ombro do filho, que era vários centímetros mais alto.

Sombras do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora