Capítulo Oito

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TW: automutilação, temas sensíveis.

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O caminho até a rua Coimbra levou cerca de quarenta e cinco minutos e foi tranquilo, sem trânsito intenso, o que era particularmente estranho para Curitiba, sempre cheia e caótica. À medida que eu me afastava dos centros, o cenário mudava para casas antigas e históricas, parques, e os edifícios tornavam-se raros.

A rua ficava especialmente afastada do restante do bairro residencial. A área industrial era abandonada e mal cuidada, com poucas casas ao longo da rua e pouquíssimas que possuíam câmeras ou que pareciam habitadas.

O medo de uma emboscada ou até mesmo de ser presa fazia meu coração disparar; a adrenalina da briga no café ainda corria ferozmente por minhas veias, e eu estava atenta a qualquer movimento ou som que pudesse me alertar. O receio de que o medo tirasse minha capacidade de investigação e raciocínio assombrava minha mente. Perder algum detalhe nesse novelo de lã emaranhado poderia custar a vida do meu marido.

Onde quer que ele estivesse. Sentia em meus ossos, em minha alma e em minha mente que Brian ainda estava vivo. Não importava o que as estatísticas dissessem, mesmo que provavelmente ele estivesse morto — meu marido estava em algum lugar. Disso eu tinha certeza.

Deixei meu querido Jeep Compass uma quadra antes da rua Coimbra e percorri a pé a distância restante. O vento fazia o lixo se agarrar aos meus tornozelos, e o odor invadiu minhas narinas; o odor era o suficiente para enjoar qualquer um, mas eu já estava acostumada. Quando se trabalha como policial, a convivência com cadáveres e necrotérios se torna rotina.

Aproximei-me do ponto indicado por Daniela e não encontrei nenhum bloqueio policial ou qualquer sinal de que haviam estado naquela rua. O asfalto não tinha as marcas comuns de um tripé pericial ou do giz utilizado para demarcar áreas. O medo crescia em meu peito. Aquela rua havia sido minimamente investigada?

O ponto indicado por Daniela ficava praticamente no final da rua sem saída, cerca de duzentos metros antes da fábrica abandonada que ocupava todo o final da via. Observava qualquer possível ponto com câmeras ou pistas. Uma casa bem cuidada tinha câmeras apontadas para o outro lado da rua.

Corri, como se isso ajudasse a encontrar as informações mais rapidamente, como se Brian estivesse naquela casa. Toquei a campainha, e os segundos nunca pareceram tão longos. Um homem de, no máximo, quarenta anos saiu da casa. Seu rosto fácil de esquecer, a expressão desconfiada e a postura defensiva me fizeram entender que não seria fácil obter informações.

Eu teria que usar meu distintivo.

— Olá, senhor! Como vai? — Tentei manter o tom amistoso e educado; não queria assustá-lo. Sorri e me aproximei de seu campo de visão.

— Não quero nada. — Ele fez menção de voltar para dentro, e eu saquei meu distintivo.

— Por favor. Podemos conversar? São perguntas rápidas, não tomarei muito do seu tempo. Qual é o seu nome, senhor? — Tentei disfarçar o tremor nas mãos, falei calmamente e mantive a confiança.

— Meu nome é Armando. A polícia esteve aqui há alguns dias, mas não sei o que queriam. — Armando se aproximou mais da varanda, mostrando o rosto por completo. 

Suas feições cansadas e uma cicatriz brutal que atravessava o lado esquerdo pareciam recentes; ele não enxergava do lado machucado. As roupas limpas estavam bem passadas, e, no geral, ele parecia bem cuidado.

— Eles não falaram com o senhor? — O ódio tomava conta de mim.

Como Pedro pôde ser tão incompetente e ainda mentir na minha cara? "Estamos fazendo tudo o que podemos." Mentiroso.

Sombras do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora