2-𝙿𝚛𝚒𝚖𝚎𝚒𝚛𝚊 𝙼𝚎𝚖𝚘́𝚛𝚒𝚊

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Oymyakon -Rússia.

17:00 pm

Hospital

—Ai, que claridade é essa? — indago comigo mesmo.

Coloco as mãos em meu rosto para tampar a claridade extrema que emanava do quarto. Ao tentar levantar, sinto alguns aparelhos conectados ao meu braço para verificar meus sinais vitais. Retiro cada aparelho e eles começam a apitar sem parar, o que faz minha cabeça palpitar de dor, como se um martelo estivesse batendo em um prego, só que de forma constante. Retrato o corpo sobre o chão, encolhido entre as pernas, na esperança de que aquele som cesse.

— Jake, você tem que se deitar — Brian aparece no quarto, e sua feição estava desesperada.

— Faz esse som parar!!! — grito.

Com os olhos fechados, percebo movimentos no quarto além de Brian e, ao ver que o som tinha cessado, abro os olhos para averiguar. Deparo-me com uma equipe de enfermeiros olhando para mim como se eu fosse o cara mais estranho que já viram passar por esse hospital.

— Nunca viram um homem no seu estado mais frágil? — falo com uma voz dengosa de um homem incompreendido.

Brian balança a cabeça rindo enquanto direciona os enfermeiros para fora do quarto. Pelo vidro perto da porta, vejo-o gesticulando ao fundo.

— Tudo bem, posso ficar com ele uns minutos? Logo chamo vocês. — escuto, por fim, as últimas frases, e todos concordam com a cabeça, se retirando.

Ele volta ao meu encontro, estendendo a mão para que Brian me ajude a levantar, e o mesmo faz sem esperar que eu peça. Foi uma luta para levantar; meus músculos pareciam estar aprendendo a se equilibrar novamente. Ele me ajeita com todo cuidado em cima da cama e arrasta a cadeira que estava lá no final para perto da minha cabeceira.

— Vem sempre aqui? — pergunto com um olhar sarcástico, mas no fundo ele sabia que eu temia as explicações sérias sobre o acontecimento. Não o deixo falar e, para quebrar o clima, aponto para as rosas que estavam na cabeceira, exalando um odor insuportável por todo o quarto.

— Espero que não seja ideia sua.

— Pior que veio de onde menos esperávamos. — Seu sorriso foi debochado e gentil, como se apreciasse o ato da pessoa que deu as flores, e eu, como um bom entendedor, sabia de quem se tratava.

— Por isso fede tanto, igual à dona que tentou me asfixiar com esse cheiro. — cruzo os braços emburrado.

— São cravos, e dizem que elas têm o dom de atrair bênçãos e vitórias. — diz alegre, com aquele olhar de fascínio.

— Estou precisando de uma porção dobrada. — estendo as mãos para os céus em posição de receber. Rimos da situação até o silêncio tomar conta do ambiente. Acho que ele, como um bom amigo, estava sendo compreensivo e queria que eu tomasse a iniciativa sobre o assunto. De qualquer forma, de uma hora ou outra, eu teria que saber o que aconteceu.

— Eu morri, não foi? — pergunto. Brian começa a gargalhar sem conseguir se controlar.

— Então não teve aquelas paradas de ressuscitação e reanimação? — e ao vê-lo sem conseguir se conter, acabo me entregando às gargalhadas, até não ter mais graça.

— Está assistindo muito filme, Jake. — tenta recuperar o fôlego para tentar se explicar e acaba falhando novamente.

— Eu quero que você vá embora. — pressiono o botão para chamar uma enfermeira para retirá-lo daqui. Ele segura minha mão para impedir e fica tentando se desculpar.

Jᥲᥒᥱᥣᥲ᥉ d᥆ Tᥱ꧑ρ᥆Onde histórias criam vida. Descubra agora