Capítulo Nove

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Milo Almeida:

Depois de comer, fui me deitar; no entanto, não aguentei mais ficar rolando na cama. Coloquei um roupão sobre o pijama e saí ao sol da manhã. Seu brilho machuca meus olhos quando me sento num canteiro de trevos perto do estábulo, olhando para a mansão. 'Sempre há algo a se perder se não tomarmos bastante cuidado', falei, olhando para o anel no meu dedo. As palavras dele, com olhos distantes, demonstraram que entendia bem minha dor e sabia quais sentimentos obscuros haviam surgido dentro do meu peito.

Ele perdeu a família por causa do mundo sobrenatural. O ressentimento de tudo e a raiva cresceram a cada dia, como se fosse uma bomba-relógio prestes a explodir, desejando vingança. Ele usou isso a seu favor, indo atrás e pegando a espada, um item de herança de sua família por gerações. Foi à luta e teve sucesso, mas com o passar do tempo, sua sede por mais só aumentou, até que me encontrou e quis me ensinar o que já sabia.

O anel brilhou com o raio de sol que o tocou. Apertei os punhos, tentando me convencer de que esse é o momento de provar a minha coragem. 'Agora, nada me prende', sussurrei para mim mesmo. 'Não tenho como perder algo a mais nessa vida.'

Eu sei que minha mãe tinha muito a perder se continuasse aqui, e decidiu fugir para sobreviver com seu verdadeiro amor. No entanto, acabou perdendo tudo, inclusive a vida, em segundos. Sou diferente dela e não tenho muito a perder se permanecer ligado ao reino das fadas. Continuar ligado ao reino das fadas parece não ter o mesmo peso para mim. Minhas raízes, embora estejam aqui, não se entrelaçam tão profundamente quanto as de minha mãe quando quis vir para esse lugar e se casar por um desejo tão ilusório de amor e riqueza. A incerteza me abraça enquanto observo o mundo ao meu redor.

No entanto, ainda há um futuro incerto à minha frente. Aceitar a proposta de Brand de ser seu noivo é como mergulhar em um oceano desconhecido. Ainda assim, sinto que há uma parte de mim que anseia pela aventura e pelas possibilidades que esse novo caminho pode trazer.

Olho novamente para o anel no meu dedo; poderia finalmente ser feliz. 'Nada me prende agora.' Essa sensação de liberdade é intensa, como se as amarras que me seguravam estivessem se desfazendo. Mas junto com essa liberdade vem a responsabilidade de minhas escolhas e ações. Entre os mundanos, tinha que me conter mais; com as fadas, poderei soltar o meu lado mais louco e selvagem, desafiar tudo da maneira que desejo. Mesmo que isso pareça me fazer sentir como se fosse deslocado do mundo, agressivo demais para viver no mundo mundano e talvez complicado demais para ser de alguma corte feérica ou ser respeitado sem fazê-los me temer.

Sinto uma brisa suave passar por mim, como um toque de incentivo. Talvez seja hora de enfrentar o desconhecido com coragem e determinação. Seja qual for o resultado, sei que as lições aprendidas até agora me guiarão.

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Enquanto voltava para o quarto, encontrei três servos que sussurravam entre si. Caminhei pelo corredor sem empregados ou, muito menos, com um cavaleiro que o lorde deve querer colocar ao meu lado; nem sequer levantei uma sobrancelha depois de ouvir suas vozes.

Eram zombarias dizendo ofensas contra um mortal; os criados rosnantes falaram como se quisessem ser ouvidos enquanto me aproximava deles.

A espada surgiu e, quando notei, estava cravada a poucos centímetros deles que zombavam; nossos olhos se encontraram por segundos. Então, encolheram-se por alguma razão; o outro ficou em silêncio.

— Acho que essas paredes precisam ser pintadas novamente — Falei. — Que tal vocês serem as latas de tinta que poderei usar nesse processo?

Os dois tremeram, saindo da minha frente em segundos.

Uma promessa Ao Lorde FadaOnde histórias criam vida. Descubra agora