Capítulo Catorze

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Milo Almeida:

Quando despertei novamente, Tary ainda estava no quarto comigo, e a abracei novamente, sentindo a familiaridade reconfortante de seus braços ao meu redor. Então, ela se afastou lentamente, com um sorriso terno nos lábios, ainda limpando suas lágrimas e delicadamente enxugou as do meu rosto com as pontas dos dedos.

Já fazia anos que não chorava, mas ver minha irmã naquele quarto, após treze anos separados, fez com que as barreiras que eu tinha erguido ao redor do meu coração começassem a desmoronar. As lembranças de nossa infância juntos, das risadas compartilhadas e dos segredos sussurrados durante as noites de verão, inundaram minha mente.

Tary olhou profundamente nos meus olhos, sua expressão misturando alegria e tristeza, como se estivesse revivendo todas aquelas memórias conosco. Senti um nó na garganta enquanto assentia, incapaz de encontrar palavras que pudessem descrever a enxurrada de sentimentos que inundava meu peito naquele momento. As palavras pareciam insuficientes diante do que eu queria expressar.

Ela tomou a iniciativa de começar a falar.

— Como você cresceu! — disse Taryn, arrumando o seu vestido. — Devo dizer que quando recebi a ordem do Lorde Brand para vir até aqui, tudo foi contra a minha vontade. Mas vim porque ele disse que não aceitaria um não como resposta, e fui trazida à força.

— Você não queria me ver? — perguntei com a voz trêmula, engolindo novamente o nó na garganta, contendo as emoções. — Taryn, ficamos separados por treze anos. Eu vivi sem uma família durante anos, até que meu mestre me encontrasse e cuidasse de mim com todo o coração, e ele foi tirado de mim. — Controlei a voz. — Você não imagina o quanto isso está sendo doloroso para mim. Saber que minha própria irmã hesitou em me ver quando eu estava à beira da morte é a pior coisa para mim.

Ela balançou a cabeça negativamente.

— Não é isso que estou dizendo. — Taryn falou. — Não queria que você me olhasse do jeito que está fazendo agora. Está me olhando como se eu fosse igual àquele homem. Como se eu fosse uma feérica.

— Taryn... — Engoli em seco, sentindo a amargura na língua e um aperto enorme no coração. Peguei suas mãos. — Pensei que você tivesse me esquecido, esquecido de nossos pais. Nos momentos mais sombrios da minha vida, eu pensava que você tinha me abandonado, vivendo uma vida incrível no mundo feérico, sem se importar com o mundo humano. Eu me sentia sozinho no mundo, sem pais ou irmã. — Fiz uma pausa. — Quanto mais eu tentava afastar esses sentimentos, mais eles retornavam, trazendo desespero e agonia.

Percebi que estava chorando novamente, e Taryn me abraçou com força.

— Nunca vou esquecer do meu irmãozinho. — Taryn disse. — Mas às vezes não posso evitar sentir que me tornei uma versão distante daquela que éramos na infância. — Ela suspirou, afastando-se. — Pareço uma estranha para você. Não sou mais a pessoa que você conheceu na nossa infância.

— Você sempre será minha irmã mais velha — Sussurrei. — Não importa o que você pensa sobre si mesma. Eu sei quem você é no seu coração. Sempre saberei, não importa quanto tempo leve.

Deixei as cobertas de lado e me levantei, o que foi um grande erro.

De repente, fiquei tonto, com os joelhos bambos. Estiquei a mão para segurar um dos postes da cama, mas acabei segurando o vestido dela, e ambos fomos ao chão com um estrondo alto.

— O que aconteceu comigo? — Perguntei.

— Seu corpo está exausto — Tary falou.

A porta se abriu abruptamente, e Brand e seus irmãos invadiram o recinto para nos ajudar. Acredito que essa seja a primeira vez que os vejo em um lugar que não seja através daquele quadro na parede.

Uma promessa Ao Lorde FadaOnde histórias criam vida. Descubra agora