Capítulo Cinco

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Milo Almeida:

— Como já disse, nos veremos em breve. — Dizendo isso, rodopiou, e um furacão de pó dourado surgiu. Em segundos, ela desapareceu.

Instantes depois, os feéricos começaram a se levantar desesperadamente, procurando por ar, mas alguns não se moviam mais. Em minutos, seus corpos começaram a se desfazer, gravetos e folhas secas surgiram, e senti um aperto no coração.

Uma das meninas que estava ao lado do lorde Brand se ajoelhou, ao lado de cada vestígio que um feérico morto deixou para trás.

— Levem o senhor Milo para sua casa, Brand. — O Grande rei disse, quebrando o silêncio. — Ao nascer do sol daqui a um dia, iremos homenagear os mortos.

Todos no recinto balançaram a cabeça, minha espada brilhou voltando à forma de anel. Fiz uma reverência para o grande rei e saí da sala do trono. Os cortesãos que estavam do lado de fora entraram, e ouvi vários começarem a chorar.

Senti meu corpo começar a tremer, as memórias invadindo minha mente cansada. Parei abruptamente, fechando os olhos com força. As imagens do passado surgiram como flashes, trazendo de volta a dor, a angústia e o medo que eu havia tentado tão desesperadamente esquecer.

Eu estava de volta àquela noite fatídica, quando tudo mudou. As risadas alegres da minha família foram substituídas pelo som dos gritos e das lâminas cortando o ar. Vi os rostos sorridentes dos meus pais se transformarem em expressões de terror e desespero. Minhas mãos tremiam incontrolavelmente, como se eu estivesse lá novamente, impotente para impedir a tragédia que se desenrolava diante de mim.

As vozes ecoavam em meus ouvidos, as palavras cruéis e ameaçadoras dos assassinos. Lembro-me de ter me escondido, de ter ficado paralisado pelo medo, enquanto testemunhava a perda brutal dos meus pais. A sensação de impotência era avassaladora, e meu coração batia descompassadamente, como se estivesse revivendo o terror daquela noite.

Senti alguém pegar na minha mão, abri os olhos para ver quem era. Para minha surpresa, era Brand que me olhava preocupado. Sem dizer uma palavra, ele esfregou minhas costas e depois se afastou quando chamaram pelo lorde. A princesa Manoela surgiu e me olhou preocupada.

— Está tudo bem? Parecia que você ia desmaiar. — Manoela disse, e mordi o lábio. — Foi por causa dos corpos. Ainda tem trauma em ver cadáveres.

Olhei para ela em choque, já que ela era mais nova que eu. Engoli em seco, mas sabia que os feéricos estão acostumados desde cedo a verem corpos sem vida e que isso não é nenhum incômodo para eles.

— Sim, eu estou bem. — Respondi. — Só preciso de um momento para relaxar a mente. Podemos só ir para a casa do Lorde Brand.

— Sem problemas, eu irei com você. Imagino que meu irmão estará ocupado nesse momento. — Manoela respondeu, balançando a cabeça. Para minha surpresa, ela entrelaçou nossos braços. — Como cunhada, vou ser sua melhor amiga. Não posso dar esses direitos aos meus irmãos.

Acabei rindo, enquanto andávamos pelo corredor até o local onde a carruagem estava nos esperando.

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Quando chegamos na mansão de três andares, pintada de marrom e branco, o sol já estava nascendo. Entrei no quarto que foi reservado para mim, abrindo as janelas para deixar o restinho de ar fresco entrar, enquanto tirava a roupa da corte que me fizeram usar, uma blusa vermelha com calças verdes.

Se me perguntarem como estou me sentindo nesse momento, posso dizer que estou totalmente acalorado com os acontecimentos recentes. Minha pele parecia apertar e meu coração não desacelerou. No caminho de volta, Manoela tentou me acalmar, dizendo que já testemunhou coisas muito piores do que corpos largados no grande salão que surgiu de uma rainha bruxa do mal que envenenou todos os feéricos do local.

Uma promessa Ao Lorde FadaOnde histórias criam vida. Descubra agora