Dar um tempo com o Simon parecia a única saída para evitar que a gente se destruísse de vez. A ideia era me afastar, respirarum pouco sem ele por perto. O problema é que ainda tenho que encarar o desgraçado todo santo dia nos treinamentos e nas missões. O problema era em Simon; seu jeito possessivo me irritava, a gente brigava até por causa de um “bom dia” dado a um recruta. Para ele, tudo tinha que ser dele, só dele.
Hoje passei o dia com Johnny, o tempo todo de risadinha, me distraindo. Eu sabia que ele estava de olho, aquele olhar pesado nas minhas costas era desconfortável. Ele odiava, e dava pra ver nos olhos dele. Ver o que um dia ele achou que era só dele, se afastando. Eu não suportava ver ele quieto. Me deixava ansiosa com o coração na garganta, esperando o momento que ele ia explodir. Eu ria mais alto e chegava mais perto de Johnny, só pra fazer questão de mostrar que tava bem, que estava me divertindo. Céus isso era tão infantil..
Acho que a pior parte era encarar ele e tentar agir como se nada tivesse mudado, como se ainda não doesse lembrar de como a gente era antes.
A noite caiu. A base estava silenciosa, só o som distante dos outros soldados terminando o dia. E minha cabeça não desligava, porra, era como andar na beira de um precipício. O dia todo foi uma merda, desde os treinos até essa palhaçada de tentar ignorar Simon. Eu não conseguia parar de pensar na forma como ele me olhou, como se estivesse planejando algo.
Depois de rolar na cama por um tempo, desisti de tentar dormir. Levantei e me arrastei até a cozinha da base. Quem sabe um café ajudasse a dar um tempo nessas paranoias. Caminhei pelos corredores escuros indo até a grande porta, abri ela com um estrondo, e adivinha quem estava lá! Johnny.
— Não consegue dormir também? — Resmungou com uma caneta na mão.
— Infelizmente — Dou de ombros, indo direto pegar um café.
O silêncio entre nós era confortável, o que era raro de se encontrar por aqui. Enchi a xícara e me joguei numa cadeira ao lado dele. Johnny ficou mexendo na caneta, rabiscando algo num pedaço de papel velho que estava sobre a mesa. Me deu vontade de perguntar o que era, só que não estou com cabeça pra conversa. Só queria uma companhia, e Johnny era meu melhor amigo.
— Eu tô tão cansada — Começo, dando um gole no café, sentindo o líquido quente descer pela garganta — Simon.. — Suspirei, só de pensar sentindo um peso nos ombros.
— Chega, s/n. Esse cara tá acabando com você, e você sabe disso. Enquanto você tá aí se desgastando, ele nem se importa de verdade — Johnny me corta.
Nossa.
Suas palavras bateram forte, jogando a realidade na minha cara. Eu sei que ele tinha razão, e ouvir aquilo em voz alta vindo de alguém que realmente se importava, doeu.