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Saí do banheiro com um sorriso bobo e o teste na mão. Positivo. Eu já tinha essa sensação, fazia dias que meu corpo estava estranho, os enjôos, o sono. Quando vi aquele sinal no teste, a realidade bateu na minha cara em cheio. Por incrível que pareça eu não estava surtando. Eu, grávida.
Não era um plano, nem de longe. Nunca achei que ia ser assim, tão cedo. Estranhamente isso não me incomodava. Sempre gostei de crianças, ser mãe não era o fim do mundo para mim ao contrário, era um dos meus sonhos.
Mas aí vinha o problema. Ele. O Simon. Esse sim era o problema. Lembro da última vez que tocamos no assunto. Ele foi direto: odiava crianças. E isso me travava. Se ele já era distante agora, imagine com uma criança no meio?
Eu tive vontade de jogar o teste no lixo e fingir que isso nunca aconteceu. Mas eu sabia que isso era covardia.
Dois anos juntos e parecia que o exército roubava ele de mim cada vez mais. Não era só a distância física, ele se distanciava emocionalmente também. Sempre foi assim desde o começo. Frio, fechado. Às vezes me tratava como se eu fosse invisível. Aí vinham as brigas. Eu odiava brigar mas parecia que não tinha outro jeito. Toda vez que eu pedia um pouco mais dele, ele se fechava mais. Eu sabia que ele tinha seus traumas, seus demônios. Mas isso me machucava, e muito.
Enquanto estava sonhando com uma vida juntos, ele parecia estar sempre longe. Eu não sabia se ele algum dia voltaria, sabe? Voltar mesmo, voltar pra mim, como no começo..
Sentei na cama olhando pro teste. E agora? O que eu faço? Não tinha como esconder isso pra sempre. E mesmo que eu quisesse, eu não ia. Eu nunca fujo dos problemas. Mas a responsabilidade de ser mãe já estava me deixando de cabelo em pé. Eu mal conseguia lidar com as emoções que ele trazia, agora tinha mais isso? Ele ia surtar. Pior, ele ia me odiar. Eu sentia isso. Ainda assim o aborto não era opção. Nem que eu quisesse!
Levantei da cama e comecei a andar de um lado pro outro nervosa. O silêncio da casa me sufocava e só consigo pensar em como ele ia reagir. Será que ia me culpar? Dizer que eu fiz de propósito? Esse tipo de coisa sempre passava pela minha cabeça quando o assunto era ele. O Simon não lidava bem com surpresas.
Não posso mais voltar atrás com isso..
Olhei de novo pro teste. Agora eu tinha que contar. Só não fazia ideia de como. Era difícil não imaginar a cara dele quando eu contar.
[Naquela noite]
- Sabe, eu estava pensando. E se a gente tentasse ter um bebê? - Puxei assunto, fico com um receio da sua resposta.
