Às seis e vinte e três da manhã, a porta da rua se abriu no andar de baixo, e o alarme de segurança apitou, sinalizando a chegada de Echo. Prendi a respiração enquanto prestava atenção no barulho da senha sendo digitada, depois um bipe de alerta seguido por um xingamento de Echo.
Na noite anterior, eu tinha mudado a senha do alarme pela sétima vez em uma semana. Passei a fazer isso depois que acordei com ela de pé ao lado da minha cama, berrando sobre a tatuagem nas minhas costas. Sofrendo abuso verbal da minha quase cunhada não era uma boa maneira de acordar. Então, como ela frustrou minhas tentativas de trocar a fechadura, fiz do sistema de alarme o pesadelo da vida dela.Echo inventou frases bem criativas que descreviam exatamente o que pensava de mim; ela sabia que o alarme dispararia a qualquer momento. Peguei meu iPhone, coloquei os fones de ouvido e busquei a lista de músicas que eu tinha criado para aquele show de horrores. Um rock pesado encheu meus ouvidos quando o alarme disparou com força total.
Pouco depois, ela começou a bater à porta do meu quarto. Peguei o controle remoto na mesa de cabeceira, liguei o som conectado à TV, mandei ver no techno e fui tomar banho. Echo odeia techno.
As batidas haviam cessado quando saí do banho e me vesti. Furtiva como uma assaltante, girei a maçaneta da porta e a abri um pouquinho para espiar lá fora. Nada de Echo, mas isso não queria dizer que ela tinha ido embora. Ela já havia esperado por horas outras vezes; sua persistência não tinha limites.
Ao lado da porta havia uma pilha de papéis e uma caneta para eu assiná-los e assim ceder o imóvel para ela. Echo tinha aparecido todos os dias, mas, na última semana, suas táticas haviam mudado um pouco. De vez em quando, ela deixava os papéis e me pegava de surpresa mais tarde ou à noite. Nos últimos dias, tinha voltado à estratégia da espera.
Minha reação era sempre a mesma: eu rasgava os papéis e os observava caírem no chão como flocos de neve. Destruí-los havia se tornado um ritual que eu apreciava. Eu estava prestes a rasgar os que ela tinha deixado para mim naquela manhã quando reparei que não eram os mesmos de sempre. A pilha era menor. Folheei os documentos, franzindo a testa enquanto assimilava o conteúdo. A última página continha minha assinatura desleixada. Segundo o que eu estava lendo, eu havia assinado uma procuração em nome de Echo.
Eu não tinha nenhuma lembrança de ter lido aquele documento, tampouco de tê-lo assinado. De acordo com a data, havia sido redigido e escriturado dois meses depois do acidente. Eu já havia saído do hospital naquela época, mas não tinha condição alguma de cuidar de mim mesma. Por isso, Echo havia se disposto a controlar minha medicação.Agora eu entendia por quê.
- Echo! - gritei, amassando os documentos e correndo escada abaixo.
Ela estava sentada à bancada da cozinha, digitando no laptop com o café ao lado. Como se aquela fosse a casa dela, e não a minha. Fechei o laptop com tudo nas mãos dela.
- Qual é o seu problema? - berrou Echo, levantando-se e deixando a cadeira cair para trás. O ruído metálico ecoou no espaço amplo.
- O meu problema? - Empurrei os papéis no peito dela. - Qual é o seu
problema? Você acha que vai conseguir me chantagear para passar a casa para o seu nome?Ela me segurou pelo pulso para me impedir de atacá-la. Seu lábio se curvou em um sorriso de desdém.
- Tenho uma procuração. Posso tirar tudo de você se eu quiser.
- Ficou maluca? Você realmente acha que isso vai funcionar? Eu nem estava lúcida quando assinei esse documento.
Tentei me desvencilhar, mas ela apertou ainda mais, fazendo os ossos do meu pulso rangerem dolorosamente.
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Marcadas para sempre
RomanceSegunda temporada de flor da pele. Depois de perder Clarke, a tatuadora Lexa Woods volta a ser atormentada por seu passado traumático, e suas noites são tumultuadas por pesadelos sobre a morte dos pais. A única maneira que encontra para ficar em pa...