Entrei no estacionamento da Tiffany’s. Eu não tinha comprado um presente de Natal para Clarke e já estava em cima da hora. Comprara só algumas coisinhas, mas nada que dissesse a ela como eu me sentia sem precisar recorrer a palavras. Harper tinha me mandado ali para dar um jeito nisso. Eu não fazia a menor ideia do que comprar, mas, segundo Harper, na Tiffany’s não tinha erro, então lá estava eu. Quarenta e cinco minutos antes do meu próximo cliente.
Eu deveria ter planejado melhor aquele passeio. Estava usando roupas de trabalho: jeans, minha camisa do Inked Armor e coturnos gastos. Ao menos a jaqueta não era tão terrível, porque era preta. Estava torcendo para que fosse discreta o suficiente para que eu não me destacasse como um ponto vermelho na neve.Em geral, eu não ligava, mas aquilo era importante e eu não queria estragar o presente de Clarke. Era nosso primeiro Natal juntas e eu desejava criar novas lembranças. Memórias boas que talvez ajudassem a aliviar a dor da perda dela. Depois de todos aqueles anos, eu ainda tinha dificuldades em enfrentar as festas de fim de ano. Minha esperança era de que agora, com Clarke, as coisas melhorassem.
Tranquei o carro e me dirigi à entrada. Muitos carros pelos quais passei eram da categoria “luxo”. Vários playboy-móveis, um Lexus maneiro e um Audi bem elegante. Abri a porta da loja chique, preparada para ser escorraçada, mas estava tão cheia que minha chegada passou quase despercebida. A loja estava repleta de empresários bem vestidos com a mesma missão que eu.
Uma das moças atrás do balcão olhou para mim, me analisou de cima a baixo e sorriu, mas sua atenção foi desviada quando um homem careca se aproximou. O sorriso dela se abriu ainda mais quando ele apontou e ela destrancou uma janelinha atrás do balcão para pegar uma bandeja de pulseiras de diamante. A julgar pelo traje, o cara estava pronto para gastar uma grana preta.
Enfiei as mãos nos bolsos, lamentando não ter pensado em mudar de roupa. Uma simples calça social em vez de jeans teria aumentado minhas chances de ser bem atendida. Tentei não chamar atenção enquanto dava uma olhada em volta. Eu só queria comprar algo e me mandar dali.
Parei em frente a uma vitrine com anéis de noivado. Eu tinha visto a aliança de Clarke em fotos; o diamante era enorme. Eu não conseguia imaginá-la escolhendo algo daquele tipo. Ela era mais sutil. Não que eu devesse estar pensando nisso; a primeira experiência dela com toda essa coisa de noivado tinha sido traumática pra cacete. Nenhuma de nós jamais ia querer aquilo — não agora. Talvez nunca.Eu ainda nem tinha dito a Clarke que estava apaixonada por ela. Quase falara na manhã anterior, quando enfim estive dentro dela de novo. Seria uma revelação e tanto. Foi o sexo mais intenso que tive na vida, e não apenas por causa do alívio físico. Foi bem mais intenso do que isso. Clarke e eu nos conectávamos em um nível diferente, e eu queria estar com ela de novo daquele jeito.
Mas aquela espera toda foi idiota. Na noite anterior, Clarke ficou tão dolorida depois do sexo que acabei de molho na banheira com ela por uma hora. Demos uns amassos peladas, e eu perdi um pouquinho a cabeça. Tentei afastar a imagem de Clarke nua. Meu pau já estava respondendo e tive que forçá-lo a recuar com ameaças mentais de castração.
Dei uma olhada na vitrine seguinte e sorri quando vi o presente perfeito, brilhando em uma caixinha de veludo. Percebendo uma movimentação em minha visão periférica, me virei e vi a moça que tinha sorrido para mim agora parada a mais ou menos um metro de distância.
— Oi, meu nome é Francine. Posso ajudá-la a encontrar alguma coisa?
Até o nome dela me fez sentir inferior, o que era absurdo. Eu podia bancar
compras em uma loja como a Tiffany’s. Era a presunção automática dos outros baseada na minha aparência que eu não conseguia tolerar, que me fazia evitar lugares como aquele.
Dei uma olhada em volta. Todos os outros vendedores, em sua maioria mulheres, usavam roupas sociais e esperavam. Um homem estava parado atrás do balcão sem interagir com ninguém. A roupa dele era diferente das outras espalhadas pela loja. Devia ser o chefe. Ele estava com as mãos às costas e olhava atentamente para a vendedora que me atendia. Que babaca. Ela devia ter perdido no palitinho e teve que me atender. Sorri.

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Marcadas para sempre
RomansaSegunda temporada de flor da pele. Depois de perder Clarke, a tatuadora Lexa Woods volta a ser atormentada por seu passado traumático, e suas noites são tumultuadas por pesadelos sobre a morte dos pais. A única maneira que encontra para ficar em pa...