10. Lexa

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As pessoas estavam me irritando pra caramba naquele dia. Harper e Jasper, para ser mais precisa. Eles ficavam me olhando, obviamente esperando alguma coisa. Talvez achassem que eu perderia a cabeça ou que me sentaria e faria uma reuniãozinha para contar como me sentia com a volta de Clarke, o que não ia acontecer. E não só porque eu odiava compartilhar essas baboseiras. Meus sentimentos estavam uma confusão, e eu ainda tentava entendê-los.

Eram duas e pouco da tarde. Clarke tinha ido resolver algumas coisas e eu só conseguia pensar em quando ela voltaria. Peguei a pasta da minha cliente daquela tarde, bem como os desenhos de Kane, que ia dar um pulo no estúdio naquela noite para vê-los. Eu achava que aquela visita repentina tinha mais a ver com o que havia acontecido no jantar de domingo do que com a tatuagem em si, mas não me importava. As intenções de Kane eram boas, mesmo que ele estivesse tentando mexer com a minha cabeça.
Deixei o desenho dele na minha mesa e levei o outro para a sala privativa. A tatuagem iria da metade das costelas até a parte superior da coxa, descendo pelo lado direito do corpo. Era um desenho legal, e a cliente era uma garota bacana. Eu já tinha feito umas tatuagens menores em Amy, mas aquela era a primeira incursão dela em uma tatuagem de várias sessões. Eu estava bem animada para trabalhar em mais um desenho complexo.

Deixei a porta aberta e comecei a me organizar. Faríamos uma sessão de apenas duas horas, porque a área das costelas é sensível pra cacete e eu não queria forçar a barra. Seria suficiente para traçar o contorno desde que não fizéssemos muitos intervalos. Amy era realista em relação a sua tolerância à dor, diferente de alguns babacas que reservavam quatro horas da minha agenda e amarelavam no meio do caminho.

— Oi — disse Harper, recostada no batente da porta.

— A Amy já chegou?

Olhei para o relógio. Eram só duas e dez. A garota era pontual, mas não chegava tão cedo assim para as sessões.

— Ainda não.

Harper entrou e fechou a porta.

— E aí?

Eu sabia muito bem que ela estava me encurralando ali. Estava esperando uma chance de me interrogar desde que eu surgira com Clarke no estúdio.

— Como você está?

— Bem.

— Só “bem”?

Alisei o estêncil.

— Não precisa ficar jogando verde. Pergunte o que quer perguntar.

— Como estão as coisas entre você e a Clarke?

Eu achava que a maneira como eu a tinha beijado antes de ela ir embora
respondia à pergunta. Pelo visto, não.

— A gente está se acertando.

— O que isso significa exatamente?
Franzi a testa.

— Significa o que significa. Ou você está querendo uma reprodução fiel da nossa conversa para poder dar sua opinião imparcial sobre o que acha que eu devo fazer?

— A Raven me ligou hoje de manhã. Parece que ela teve uma conversa
interessante com a Candy ontem à noite.

Merda. Notícias ruins chegavam rápido. Eu nem tinha visto Candy naquela noite, estava preocupada com outras coisas. Tentei parecer o mais ocupada possível, conferindo a tinta.

— Ah, é? E o que ela disse?

— Que a Costia se engalfinhou com uma garota que, pela descrição, é igualzinha à Clarke e acabou com o nariz quebrado. Parece que a Candy também mencionou que você deu uma passada na Dollhouse. Ela disse que a Costia teve um chilique depois que você foi embora. Você não quer preencher as lacunas dessa história?
— Clarke deixou as chaves com a Raven antes de ir para Arden Hills. Ela parou na Dollhouse achando que a Raven estaria lá, mas acabou tendo uma discussão com a Costia. As coisas esquentaram. Eu fui lá e a busquei.

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