22. Lexa

295 40 8
                                    

Estávamos a quatro quarteirões de casa quando fomos paradas em uma blitz. Em um dia normal, isso não seria um problema. Os dois drinques que eu tinha tomado à tarde já haviam sido eliminados do meu organismo havia muito tempo. Tive horas de sobra, comida e atividade física para diluir os efeitos. Minha cabeça, contudo, estava uma merda. Transar em locais semipúblicos nunca tinha sido um problema, mas fazer isso com Clarke naquele estado me deixou péssima. Sem contar que a própria Clarke estava bem mal.

Ela se encolheu no banco e se sentou sobre as pernas, o vestido esparramado cobrindo as canelas e os pés. Clarke reclinara o banco, de modo que estava quase de bruços, deitada de lado, virada para mim. Seus olhos estavam fechados; sua boca, relaxada; sua respiração, lenta e profunda. Ela havia pegado no sono — o que deveria me fazer sentir melhor, porém significava que eu a tinha esgotado. Quando o carro parou, Clarke se endireitou, piscando. Ela olhou através do para-brisa para as luzes brilhantes dos carros de polícia.

— O que está acontecendo? Algum acidente?

— É só uma blitz para pegar quem bebeu.

— Ah.

Ela ajustou o banco de volta para a posição vertical, mas não relaxou. Esfregou os olhos com a manga do casaco, manchando de rímel o tecido claro. Incapaz de ficar parada, tentou tirar a mancha. Por fim, desistiu e ficou olhando pelas janelas enquanto a fila de carros avançava. À medida que as luzes se aproximavam, ela ficava mais tensa. Estiquei o braço e alisei o cabelo dela, repousando a mão em sua nuca.

— Talvez seja bom você pegar um lenço no porta-luvas. Seu rímel escorreu um pouco.

Aquilo era um verdadeiro eufemismo. Ela parecia um personagem de um filme do Tim Burton. Não era o ideal, considerando que ambas teríamos que conversar com os policiais, mas eu não queria estressá-la ainda mais. Ela fez o que sugeri, vasculhando o porta-luvas atrás do pacotinho de lenços para a viagem que eu guardava ali. Tirou um pacote de camisinhas. Puta que pariu.

Só tínhamos usado camisinha nas primeiras vezes, antes de termos a conversa constrangedora sobre segurança, parceiros anteriores e toda essa merda. Constrangedora para mim, pelo menos, por causa do meu passado duvidoso. Eu tinha evitado dar muitos detalhes na época, e ela confiava o suficiente em mim para acreditar. Aquela conversa, por si só, me disse muito sobre a experiência limitada de Clarke.

— Devem estar vencidas — avisei.
Lutei contra a vontade de jogá-las pela janela — não eram algo que eu quisesse explicar em uma noite já ruim. Clarke estreitou os olhos para ler a pequena data impressa no quadradinho de plástico.

— Só vencem daqui a seis meses — disse ela, jogando o pacote no meu ombro.

As camisinhas caíram entre o meu banco e o console central.

— Eu nem lembrava que elas existiam.

— Tem mais alguma coisa que você pode ter esquecido? — perguntou ela de repente.

— Tipo o quê?

Olhei para Clarke enquanto ela fuçava o porta-luvas, surpresa com seu tom de voz. Os lábios dela estavam apertados em uma linha fina.

— Ah, sei lá. Um caderninho com telefones de garotas aleatórias? Uma
agendinha preta? Quem sabe algumas calcinhas-troféu?

— Isso é uma piada, né?

— Nada de agendinha preta então? Ah, claro que não, você não repetia suas conquistas. Fora a Costia, certo? Como sou boba. Esqueci.

Ela estava irritadiça, totalmente o oposto de seu humor habitual. Clarke não era mesquinha e não usava meu passado contra mim.

— Está brava comigo?

Marcadas para sempre Onde histórias criam vida. Descubra agora