A tensão não se dissipou no caminho até a lanchonete, mas, ao menos enquanto dirigia, Lexa mantinha a atenção em outra coisa. Eu estava com tesão e frustrada após as provocações dela. Lexa ficou distraída durante o café, porém eu achava que não tinha a ver com frustração sexual. Quando voltamos para o carro, ela bateu os dedos no volante, nervosa.
— Temos tempo para passar em um lugar?
— Claro. Harper só vem me buscar daqui a uma hora.
— Ok. Ótimo.
Ela me deu um beijo no rosto e engatou a ré.
Lexa dirigiu por ruazinhas até chegarmos a Hyde Park. À medida que penetrávamos no labirinto de ruas, as casas iam ficando maiores, e os jardins mais elaborados. Paramos em frente a uma casa vitoriana de dois andares com uma torrezinha e uma varanda circular na frente. Havia vasos enormes dos dois lados da escada. As janelas de vidro chumbado e as venezianas, pintadas de um preto mordaz, formavam um contraste lindo com os tijolos. A casa era linda.
— Foi aqui que eu cresci — contou, colocando o carro em ponto morto.
— É incrível.
— Era. Ainda deve ser. Não aproveitei a casa tanto quanto deveria na infância. — Ela pegou minha mão, acariciando as articulações dos dedos com o polegar. — Levou um bom tempo para vender depois que meus pais morreram. O Kane cuidou de tudo, porque eu era nova demais para resolver isso sozinha. Foi colocada à venda algumas vezes desde então.
— Por causa do que aconteceu?
Às vezes os acontecimentos deixavam uma sombra. Depois que Niylah e sua família morreram, a casa em que tinham morado ainda guardava um eco da presença deles. Fiquei pensando se, no caso da morte dos pais de Lexa, o eco era mais como um grito.
— Do ponto de vista jurídico, você precisa contar a potenciais compradores que houve um assassinato, então isso foi um impedimento. Ano passado, foi colocada à venda no começo do outono. Era uma boa época do ano para vender. Tudo parecia tão perfeito quanto as pinturas do Norman Rockwell. As folhas estavam amarelas e alaranjadas, e os jardins fantásticos. Minha mãe adorava os jardins dela.
Ela fez uma pausa, imersa em uma lembrança. Esperei que continuasse, ciente de que Lexa não compartilhava esse tipo de informação com qualquer um.
— Vim aqui em um dia em que a casa estava aberta à visitação. Estava curiosa, sabe? A família que morava aqui tinha transformado o quarto dos meus pais em escritório. Não parecia o mesmo, mas ainda assim fiquei em pânico ali dentro.
— Imagino — falei, apertando a mão dela.
— Tinha um cofre embutido na parede. Minha mãe pendurou um dos quadros dela na frente para escondê-lo. As pessoas que compraram a casa fizeram a mesma coisa. Mas eu me assustei, porque o quadro na parede era uma dessas impressões de anjo medievais. Aquilo me chocou, porque o quadro da minha mãe também era de um anjo, só que moderno. E a paleta de cores era bem diferente, mas me assustou mesmo assim…
Ela ficou em silêncio, mordendo os piercings do lábio enquanto olhava pela janela para a casa.
— Tenho uma lembrança horrível da noite em que meus pais foram
assassinados.Eu me virei de frente para ela. Lexa quase nunca falava sobre os pais ou sobre os acontecimentos que envolviam a morte deles.
— Nunca falei sobre isso com ninguém. E não sei se estou me lembrando errado das coisas, já que eu estava chapada. — Ela brincou com meus dedos enquanto organizava os pensamentos. — Na hora em que abri a porta do quarto deles, tudo ficou mega claro, mas, ao mesmo tempo, eu meio que… saí do meu corpo. Sabe quando você está em um sonho e é como se estivesse vendo tudo de fora?
Assenti.
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Marcadas para sempre
RomanceSegunda temporada de flor da pele. Depois de perder Clarke, a tatuadora Lexa Woods volta a ser atormentada por seu passado traumático, e suas noites são tumultuadas por pesadelos sobre a morte dos pais. A única maneira que encontra para ficar em pa...