11. Clarke

385 49 14
                                    

AG estava encolhida na cama de Lexa, dormindo em uma almofada minha. Ela ergueu a cabeça, soltou um miado grogue e repousou o queixo entre as patas. Eu me sentei ao lado dela e fiz carinho entre suas orelhas. Rolando de maneira graciosa, ela se espreguiçou, gostando da atenção. AG tinha crescido enquanto eu estive em Arden Hills, mas não muito. Eu gostava do fato de ela ainda parecer um filhote.

— Senti saudades de você — falei, fazendo carinho na barriga listrada com uma mancha branca no meio.

 
AG ronronou em resposta e pulou para o meu colo. Colocou as patas nos meus ombros e cutucou minha bochecha com o focinho. Eu me deitei sobre os travesseiros de Lexa; eles tinham o cheiro dela. Era outra coisa da qual eu sentira falta. Estava usando uma das camisetas dela quando saí de Arkadia. Dormi com ela até perder o cheiro.

Lexa tinha trocado os lençóis antes de sairmos de casa naquela manhã. Embora a química inegável ainda estivesse presente, a conexão que tínhamos havia sumido. Eu só esperava que não tivesse se esvaído para sempre. A última vez que ficamos, logo antes de eu ir embora, tinha sido muito mais carinhosa. Eu queria ter contado a ela como me sentia. Ainda queria contar. Mas ela não estava preparada para ouvir, e eu tentava criar coragem para pronunciar as palavras. Elas não teriam peso algum se eu não conseguisse convencê-la de que não iria embora de novo.

Fiquei com AG por mais tempo do que pretendia, perdida em lembranças e preocupações. Às nove, voltei ao Inked Armor. O estúdio ficaria aberto por mais uma hora, porém, se eu me mostrasse disponível, talvez Lexa decidisse que queria passar mais tempo comigo.

Ela estava atendendo um cliente quando entrei no estúdio. Ao menos aquele era homem, cliente antigo, dada a quantidade de tatuagens nos braços. Monty e Jasper também estavam ocupados; ambos ergueram a cabeça e acenaram para mim. Lexa parou a conversa e abriu um meio sorriso.

— Oi, gatinha — cumprimentou. — Vou levar um tempinho aqui ainda. A Harper está no escritório vendo os orçamentos.

Mordi o lábio por dentro para evitar que meu sorriso ficasse escancarado
demais. O fato de ela ainda estar usando aquele apelido só podia ser um bom sinal.

— Tudo bem. Vou ver se ela quer companhia.

O cliente ficou me olhando com um interesse especulativo enquanto eu passava por eles, mas Lexa não nos apresentou, então segui até os fundos. A porta da sala de Harper estava aberta, mas bati mesmo assim. Antes, podia ser que eu tivesse entrado sem bater, mas eu não sabia quais eram os limites agora e não queria tomar nada como certo. Harper me olhou de trás da tela do computador enquanto os dedos voavam pelo teclado.

— Oi! Entre.

— Não quero interromper — avisei, ainda à porta.

— Interrupções são sempre bem-vindas, e a gente tem que botar o papo em dia. — Ela parou de digitar e voltou toda a atenção para mim. — Como foi o seu primeiro dia de volta?

— Bom.

Harper se levantou e deu a volta na mesa, me puxando para um abraço. Era exatamente do que eu precisava.

— Desculpe ter colocado você em uma situação complicada — murmurei em meio ao cabelo cor de lavanda de Harper. Ela o havia pintado enquanto eu estava fora. Antes era cor-de-rosa, como algodão-doce.

— Do que você está falando? — perguntou ela, me soltando.

— De todas as mensagens e e-mails enquanto eu estava fora.

— Ah, isso. Fui eu que corri atrás de você, e não o contrário, então você não precisa se desculpar por nada.

— Mesmo assim. Você é amiga da Lexa. Eu não queria prejudicar sua amizade com ela; foi por isso que não respondi logo.

Marcadas para sempre Onde histórias criam vida. Descubra agora