O toque do celular me tirou de um sonho. Resisti, o rosto lindo de Lexa desaparecendo enquanto eu piscava no escuro. Peguei o telefone antes que a ligação caísse na caixa postal. O relógio na mesa de cabeceira indicava que eram quase cinco da manhã.
— Alô? — atendi, a voz rouca de sono.
Ouvi um suspiro suave.
— Você atendeu — disse ela, incrédula. — Achei que não atenderia. Liguei antes e nunca tinha conseguido falar com você. Mas dessa vez… Por que você não atendeu antes?
Percebendo a angústia dela, agarrei o telefone, como se quisesse abraçá-la através do aparelho.
— Eu queria.
— Então deveria ter atendido.
Nas três semanas anteriores, eu quase tinha atendido, várias vezes. A dor no meu peito, que piorava a cada dia, tinha se tornado uma punhalada de
agonia. Se eu tivesse atendido as ligações dela, teria voltado para Arkadia, em vez de resolver tudo em Arden Hills, merecendo Lexa ou não.— Eu sei. Queria ter atendido. Você está bem? Aconteceu alguma coisa?
— Tive um sonho ruim.
Ela parecia tão frágil, como se estivesse envergonhada por ligar por aquele motivo.
— Ah, Lexa. Eu sinto muito. — Meus olhos se encheram de lágrimas. — Sobre o que foi?
Ouvi um ruído suave do outro lado da linha. Alguns sussurros. Uma pancada baixa repetida duas, três, quatro vezes. Um som de engasgo, seguido por um baque alto. A distância me deixava de mãos atadas. Eu queria atravessar o telefone e aliviar a dor dela, como ela tinha feito por mim tantas vezes.
— Lexa?
— Desculpe. — Ela tossiu. — Deixei cair uma coisa.
Mas ela não conseguiu me enganar.
— Foi um pesadelo?
— Achei que fosse real. Quando acordei, achei… — Outra batida baixa.
— Foi com seus pais?
— Não.
— Foi comigo?
— Sim. — A voz dela falhou. — Você estava, você estava, você estava… Caralho! — Lexa se atrapalhou com as palavras.
— Está tudo bem agora. Eu estou aqui. Estou aqui e estou bem. Não aconteceu nada de ruim comigo. — Eu tinha esperança de conseguir acalmá-la se continuasse falando. — Foi só um sonho.
— Eu não conseguia alcançar você. Você estava morrendo e eu não conseguia… O sangramento, tinha tanto sangue, e você estava, e você estava… — Ela começou a se agitar. — Senti um vazio grande pra cacete sem você aqui. Me sinto tão vazia! — Então ela perdeu o controle. As palavras se misturavam, sem sentido. — Eu não sabia que ia me sentir assim. Não sabia. Não teria deixado você… Eu quero… Eu quero…
Cobri a boca com a mão para conter um soluço, horrorizada por ter feito aquilo com Lexa. Achei que, quando fosse embora, ela veria que eu era uma escolha ruim, mas, em vez disso, ela estava desmoronando.
— Shh, está tudo bem, Lexa. Sinto muito mesmo. Eu queria estar aí com
você — falei baixinho.— Então venha para casa — suplicou ela.
— Eu vou. Deixá-la foi difícil demais. Eu sei que deveria ter ligado e explicado. Mas só tenho mais algumas coisas para resolver.
— E depois você vai voltar para casa?

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Marcadas para sempre
RomanceSegunda temporada de flor da pele. Depois de perder Clarke, a tatuadora Lexa Woods volta a ser atormentada por seu passado traumático, e suas noites são tumultuadas por pesadelos sobre a morte dos pais. A única maneira que encontra para ficar em pa...