30. Lexa

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A terapia foi um saco. Foi como passar uma hora em um microscópio. Falei para a psicóloga que não ia voltar, mas mesmo assim ela marcou uma sessão para dali a quatro dias. Então disse que eu era muito sortuda por ter tantas pessoas na minha vida que se preocupavam comigo. Rabugenta, enfiei no bolso o cartãozinho com o horário marcado. Eu poderia ligar mais tarde para cancelar a consulta.
Saí da casinha pitoresca localizada entre lojas antiquadas e atravessei a rua até o café onde Clarke estava tomando chá com Indra. Estavam a uma mesa em um canto nos fundos.

Nenhuma das duas percebeu quando entrei, absortas demais na conversa. Em frente a Clarke havia um pedaço de bolo comido pela metade e uma pilha de guardanapos rasgados.
Uma garota vestida com uma blusa rosa-claro e calça preta parou na minha frente. Perto demais. Eu estava acostumada com pessoas que mantinham uma distância maior.

— Oi! Mesa para um? — Ela me olhou com uma expressão esquisita. —
Caramba. Você tem os olhos mais verdes que eu já vi! São, tipo, superazuis.

— Ah… Obrigada? Vim encontrar minha tia…

— Que fofo!

— … e minha namorada. Elas já estão aqui. — Apontei para a mesa delas.

— Ah — disse ela. Seu sorriso sumiu, porém ela não desviou o olhar. Aquilo foi estranho pra cacete.

Contornei a garota e fui até Clarke e Indra, que se levantou assim que me viu. Não entendi por que ela parecia tão surpresa, até que lembrei que ninguém, fora Clarke e os policiais, tinha me visto desde que eu havia tirado os piercings faciais. Ela me deu um abraço caloroso e sussurrou “obrigada” no meu ouvido. Eu não sabia bem por que ela estava me agradecendo, mas retribuí o abraço.

Puxei a cadeira de uma mesa vazia e a coloquei ao lado de Clarke. Ela parecia bastante ansiosa. Torci para que tivesse pedido algo descafeinado, senão ficaria agitada pelo resto do dia. Antes que me perguntasse qualquer coisa sobre a sessão, uma garçonete se aproximou e ficou me olhando com a mesma cara estranha. Pedi um café e um garfo extra para poder terminar o bolo de Clarke.

— Correu tudo bem?

Clarke aproximou a mão do meu braço, mas não me tocou. Em vez disso, colocou as mãos no colo e tentou mantê-las quietas. Será que eu estava tão mal assim desde a ida à delegacia? Foi então que decidi que não ia cancelar a sessão seguinte. Por pior que fosse conversar sobre as merdas que eu tinha feito e pelas quais tinha passado, não podia esperar que Clark suportasse aquilo ou a mim se eu mesma me recusava a fazê-lo.

— Correu tudo bem. — Dei um beijo na cabeça dela. — Tenho outra sessão
daqui a alguns dias.

Ela pareceu surpresa com a confissão.

— Sério? — perguntou com os olhos marejados.

— Ei. Está tudo bem, gatinha. Vamos ficar bem. — Passei o polegar pelo lábio inferior dela.

— Bom, acho que já vou indo — disse Indra, levantando-se.

— Não precisa — respondi com uma leve decepção.

— Kane vai para casa mais cedo hoje.

Ela trocou olhares com Clarke e ficou com as bochechas coradas. Eu não quis saber por quê. Indra vestiu o casaco e Clarke se levantou para abraçá-la. Indra sussurrou algo que não ouvi e passou a mão carinhosamente pelo cabelo de Clarke antes de se afastar. Era um gesto maternal e afetuoso.

— Te ligo amanhã para dar uma resposta — garantiu Clarke.

— Não tem obrigação nenhuma.

Indra deu um beijo no rosto dela e foi embora. As duas eram bem mais
próximas do que eu imaginava.

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