24. Clarke

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A conversa com Lexa, seguida pela blitz, me deixou sóbria rapidinho. Ela não estava bêbada, mas o agente Murphy se recusou a largar o osso, ainda mais depois de ver o meu estado e o do carro.

Eu ainda sentia os efeitos dos remédios, mas a preocupação forçada de Murphy com meu bem-estar não passou despercebida. O dia tinha sido longo e difícil, e ele não estava ajudando. A hostilidade aberta dele em relação a Lexa só aumentava minha ansiedade.

Nos últimos dez minutos, Murphy ficara me questionando sobre o amassado no carro, o fato de eu estar descalça e o estado do meu casaco. Ao menos a agente Miller tinha falado de outras coisas, embora as perguntas fossem capciosas.

Os detalhes que ela coletou a partir da nossa conversa tinham menos a ver
comigo e mais com Lexa. Ela perguntou sobre os pais dela, sobre o trabalho, colegas e onde Lexa passava o tempo livre. Essas perguntas eram fáceis de responder, porque eu podia ser sincera. Os detalhes mostravam Lexa de uma perspectiva positiva. Ela passava todo o tempo livre comigo e, se não estava comigo, estava com um grupo seleto de pessoas.

Olhei para o carro da polícia estacionado a uns dez metros dali. Ao menos Lexa não estava mais trancada lá dentro. A agente Miller a liberara quase imediatamente. Lexa estava parada com os braços cruzados, mas nem de perto tão chateada quanto estava assim que ela a soltou.
Eu me encolhi ainda mais dentro do casaco, desejando que tivéssemos ficado na casa de Indra. AG ficaria bem uma noite sozinha. Se não fosse pelo meu colapso, ainda estaríamos sentadas naquela poltrona enorme e confortável em vez de estar lidando com a polícia. O agente Murphy ainda estava me dando sermão e meu rosto estava vermelho de raiva e humilhação. Embora ele não devesse ter muito mais do que trinta anos, as rugas permanentes na testa fediam a reprovação paternal.

— Já disse, não batemos em nada no caminho para casa — falei, irritada com as perguntas. — Você me perguntou a mesma coisa de vinte maneiras. A resposta não vai mudar.

O policial se agachou; seu corpo largo ocupava todo o vão da porta. Ele se
esticou e se segurou no apoio de cabeça, me prendendo no carro e bloqueando minha visão de Lexa. Ele falou mais baixo:

— Você acha que seus pais iam aprovar a sua namorada se estivessem vivos?

Eu me afastei dele.

— Isso é irrelevante e não é da sua conta.

— Vou dizer o que eu acho. Acho que eles ficariam decepcionados. Ainda mais se soubessem o que você deixa essa garota fazer com você. E ainda por cima no capô do carro. Isso não demonstra muito respeito por si mesma.

— Você não faz a menor ideia do que está falando — rebati, incapaz de conter o tremor na voz.

— Ah, não? Baseado na sua incapacidade de fazer contato visual, vou em frente e digo que você está mentindo, menina. Talvez você deva pensar com um pouco mais de cuidado no que faz e com quem faz. Isso pode levar as pessoas a pensarem pouco de você.

— Acho que esta conversa terminou.

— Se você diz…

Ele se ergueu com um sorriso longe de ser amigável.

— Só mais uma coisa. Você não está encorajando a Woods a reabrir o caso dos pais dela, está?

— Por que não estaria se isso pode dar a ela um pouco de paz?

— A questão nem sempre é do que as pessoas precisam. Pense. Aquela garota andava com gente barra-pesada. Se quer ajudá-la, talvez você deva persuadi-la a deixar as coisas pra lá. Nunca se sabe que tipo de esqueleto ela pode encontrar se continuar cavando.

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