Não fomos tomar café da manhã. E Lexa estava atrasada para o trabalho.
— Você vai entrar e dar oi para todo mundo, né? — perguntou ela enquanto atravessávamos o saguão do prédio.
— Talvez seja melhor eu esperar até mais tarde — respondi, hesitante.
Eu me sentia estranha depois do sexo, que não ajudou em nada a aliviar a tensão entre nós. Andávamos lado a lado, sem nos tocarmos.— Eles sentiram sua falta também. Não foi só a mim que você deixou para trás.
A lembrança da dor que eu tinha causado provocou uma nova onda de remorso. Eu havia trocado uma culpa por outra, mas ao menos tinha algum controle sobre aquela situação. Aquilo eu podia consertar. Ao menos eu esperava que sim.
— Tudo bem. Vou lá com você.
Os ombros de Lexa relaxaram, e ela pegou minha mão. Imaginei que suas mudanças de humor continuariam enquanto durasse aquela turbulência emocional que eu havia causado. Saímos na tarde fria e viramos à direita, passando pelas vitrines da rua. O trajeto que Lexa fazia para o trabalho era o mais curto do mundo. Olhei para o Serendipity, do outro lado da rua. Precisava passar lá depois para encarar Indra. A porta tilintou quando entramos no Inked Armor, e o silêncio desabou sobre o estúdio.
— Oi — falei com voz fraca, enquanto Harper e Monty me encaravam. Para minha surpresa, nenhum dos dois parecia chocado ao me ver. De trás do caixa, Harper se levantou de um pulo e foi correndo na minha direção.
— Que bom que você voltou para casa! Quando você chegou? — Ela me
abraçou com tanta força que me deixou sem ar.— Ontem à noite — respondi, retribuindo o abraço.
— Devia ter me mandado uma mensagem — sussurrou ela para que ninguém mais ouvisse.
Harper era a única com quem eu tinha mantido contato constante. E só porque ela havia me mandado mensagens persistentes o tempo todo. Era uma pessoa difícil de ignorar. Apertei seu braço para indicar que eu tinha ouvido.
— Ela sabe que a gente manteve contato com você — murmurou ela, dando um passo para trás. — Você emagreceu — observou, com um ar de reprovação. — E o que aconteceu com o seu rosto?
— Não foi nada.
Olhei para os fundos da loja, onde ficava o escritório dela e as salas privativas. Eu precisava ficar sozinha com Harper para perguntar como Lexa tinha descoberto. Aquilo explicava o comentário dela na noite anterior, explicava por que meu silêncio a machucara tanto, para além das razões óbvias. Os olhos de Harper se voltaram discretamente para Lexa. Ela cruzou os braços e abaixou a cabeça, olhando para o chão. Eu tinha certeza de que assim que eu saísse ela perguntaria a ela o que não podia perguntar para mim.
Monty me salvou de mais questionamentos me puxando para um abraço.
— Sentimos muito a sua falta.
Quando ouviu toda a movimentação, Jasper saiu do depósito, carregando um monte de coisas.
— Clarke! Você voltou! — Ele largou as coisas na superfície mais próxima e me ergueu. — É bom ver você, garota. — Então me colocou no chão. — A Raven tentou te ligar ontem à noite, depois de ouvir as mensagens. Foi por culpa minha que ela não atendeu, para ser sincero — explicou ele, abrindo um sorriso encabulado.
Ri, embora lágrimas escorressem pelo meu rosto. Harper me deu um lenço, e Lexa passou um braço protetor pelo meu ombro, pressionando o nariz em meu cabelo úmido.
— Foi emoção demais em muito pouco tempo? — perguntou ela.
— Fiquei um pouquinho sobrecarregada, só isso — respondi, envergonhada.
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Marcadas para sempre
RomanceSegunda temporada de flor da pele. Depois de perder Clarke, a tatuadora Lexa Woods volta a ser atormentada por seu passado traumático, e suas noites são tumultuadas por pesadelos sobre a morte dos pais. A única maneira que encontra para ficar em pa...