23. Lexa

287 41 10
                                        

Abaixei o vidro da janela e esperei. Murphy ia me provocar. Era um talento que ele tinha de sobra.

- Sra. Woods. Que surpresa agradável. Registro do veículo e carteira de motorista, por favor - disse ele com frieza.

Estiquei o braço e abri o porta-luvas.
Clarke tinha revirado tudo em sua busca pelos lenços, então os documentos não estavam onde eu os deixava. Ela se aproximou para ajudar e a luz interna iluminou seu rosto. Sua pele estava manchada pelo choro, seus olhos estavam vermelhos e as pupilas, dilatadas. O rímel escorria pelas bochechas, deixando rastros escuros. Na lateral do pescoço havia uma marquinha vermelha dos meus dentes. Murphy apoiou o braço na porta e olhou para dentro enquanto eu pegava o registro no porta-luvas. Fechei o compartimento, extinguindo a luz.

- Srta. Griffin?

- Olá, agente Murphy - cumprimentou Clarke, erguendo a mão em um aceno breve.

Ele apontou a lanterna para o registro e o analisou enquanto eu pegava a carteira no bolso de trás. Como eu vestia calça social, claro que não estava ali. Tive que remexer tudo no banco traseiro, onde todos os presentes estavam espalhados, para achar meu blazer. Murphy iluminou o banco com a lanterna e eu encontrei o casaco. Peguei a carteira de motorista e a entreguei. Murphy estava ocupado demais fitando Clarke para perceber.

- Como você está? - perguntou ele, inspecionando-a de uma maneira de que não gostei.

- Estou bem - respondeu ela, abrindo um sorriso fraco.

- Tem certeza? Você não parece bem.

A lanterna dele desceu do vestido amarrotado para as pernas dela. Suas meias estavam rasgadas e ela, descalça. Puta merda. Os sapatos tinham ficado na garagem.

- Minha carteira de motorista - anunciei, erguendo o documento bem na cara dele.

Ele deu uma olhada rápida antes de baixar os olhos frios para mim.

- De onde vocês estão vindo e para onde vão?

- Estávamos na casa da minha tia jantando e estamos indo para casa -
respondi, determinada a resolver aquilo o mais rápido possível. Não queria que ele olhasse muito para Clarke.

- Você consumiu alguma bebida alcoólica esta noite?

Murphy continuou iluminando o carro com a lanterna. Clarke se encolheu sob o brilho ofuscante quando a luz chegou muito perto de seu rosto.

- Tomei dois copos de uísque com gelo entre três e cinco da tarde - respondi.

Não tinha por que mentir. O álcool já tinha saído havia muito tempo do meu
organismo. A lanterna passou pelo capô, parando no pequeno amassado e nos arranhões recentes. Ele se aproximou para olhar melhor e voltou os olhos calculistas para mim.

- Você se envolveu em algum acidente?

- Não.

- Está ciente de que tem um belo de um amassado e alguns arranhões no seu capô?

- Sim.

- Deve ter sido algo pesado, considerando o carro. Por acaso sabe de onde vieram?

- Sim.

Não me alonguei na resposta, apesar de perceber que Cross esperava mais
explicações.

- Estacione e desligue o carro, sra. Woods.

- Por quê?

- Porque eu estou mandando.

Suspirei, mas segui as instruções dele. Eu já tinha armado uma cena com Murphy antes; se fizesse isso de novo, um par de algemas entraria na história. Nunca tive histórico criminal, e começar naquele momento por ignorar o comando de um policial ou por dar um soco no filho da puta não era algo que eu estava disposta a fazer.
Parei o carro no acostamento e desliguei o motor. Murphy contornou o veículo até chegar ao capô, iluminando o estrago com a lanterna. O casaco de Clarke tinha uma fivela nas costas, e os movimentos fortes repetitivos tinham arranhado a pintura até o aço. Murphy foi até a janela de Clarke, aproximando-se bastante com a lanterna. Passou o dedo por um dos arranhões, que ficou preto.

Marcadas para sempre Onde histórias criam vida. Descubra agora