Onde Reside o Desejo (Concluído)

.18.

ELE

Acordo no chão de meu quarto, com uma dor latejante em minha maçã do rosto esquerda. A primeira coisa que sinto são minhas veias vazias, a coceira agonizante em minhas mãos e uma vontade horrível de vomitar. Pelos meus cálculos, estava sem usar nada há dezessete horas, e já me sinto morrendo.

Levanto do chão, sentindo meu corpo pesando ao empurrá-lo para cima. Quando chego ao banheiro e me vejo no espelho, percebo que meu rosto está mais roxo que o normal. Os flash's da noite passada me dominam sem a minha permissão, e a dor do gancho de direita que meu pai me deu no corredor de casa me levam até ontem. Eu já estava tentado a usar qualquer coisa que fosse pela revelação de ontem. Mas Frank não me daria o privilégio de me deixar assimilar as informações, ele estava muito impaciente quando entrei em nosso hall de entrada ao sair da Toca. Nos encaramos por apenas dois segundos antes de ele puxar a gola do meu casaco e ter me colocado contra a coluna ao lado da porta.

-Você estava usando, seu merda?

Todo o controle que eu tinha criado até aquele momento foi embora, meu coração acelerava feito bala e poderia jurar que meus pulmões pararam de funcionar. Mas usei o resto de sanidade que me restava para dizer que não.

-E quem era a garota? - Senti sua respiração acelerada em meu rosto, quando ele fechou mais os punhos em meu tecido, os nós dos dedos encostando em meu queixo.

-Que garota?

-A puta que ligou pra cá! Eu falei pra você que não era pra usar a porra do telefone pra suas sujeiras. E você nunca escuta não é?

Ele estava falando de Becky. Ou Maria.

-Não sei do que você está falando. - Consegui dizer, puxando o ar.

Meu pai precisou suspirar duas vezes antes de puxar e jogar meu corpo contra a parede uma única vez, foi o suficiente para me fazer tossir de dor. Ele me permitiu respirar para segurar meu rosto com uma única mão, e me arrependi amargamente de ter subido meu rosto até o seu e ver todos os meu medos na cor verde de seus olhos.

-Você sabe que dia é amanhã? - Ele perguntou. Fiz que sim, o que o fez sorrir e minha espinha gelou. - Amanhã é o dia de Louise, e nem você nem suas merdas vão atrapalhar. Você estará lá e não vai usar nada, vai se comportar e estar impecável. Sabe porque? Apenas porque ela me pediu, você sabe muito bem que a última coisa que eu poderia querer era sua presença.

Ele me soltou, mas não se afastou nem foi embora.

-Eu não estava usando. Eu juro. - Senti que precisava dizer. Mas eu não consigo escolher e acertar, e foi isso que fez meu pai atingir seu punho fechado contra o meu rosto, o que empurrou minha cabeça até a parede e me fez cair no chão, onde permaneci até ele ir embora.

Agora, no espelho, parece pior do que quando fui dormir. Tons de roxo e vermelho no meio do meu rosto branco e pálido. Depois de escovar os dentes, a luz do sol me diz que deve ser bem cedo, junto com o silêncio da casa quando saio do quarto e tranco a porta, me dizendo que deve ser mais cedo ainda, pelo fato de Louise não ter acordado e estar andando de um lado para o outro. Entro sorrateiramente no quarto de Louise e dou um sorriso ao perceber que ela dorme exatamente como eu lembrava, como se estivesse pintada em um quadro. O sono de minha irmã é o mais pesado de todos na casa, o que me permite deitar na cama ao seu lado.

Encaro Louise, seu cabelo enrolado em pedaços de plásticos para fazer cachos, com alguns fios que escapam e caem no travesseiro marfim. Gosto de vir aqui e encarar Louise dormir, pois me dava esperança de que valia a pena lutar por ela, que ela era inocente demais para ser tratada como Arthur. Passo meus dedos lentamente em seu rosto, o que a faz suspirar. Mas segue dormindo, respirando profundamente.
Olhando para ela assim, lembro que a amo, quando ela não está me entregando olhos de pena, ou diante de suas tentativas de me incluir e fazer parte de tudo. Uma tristeza me toca quando lembro que hoje ela será apresentada, hoje ela fará parte de um mundo que eu luto para fugir. E eu não poderei fazer nada para impedir.