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ELE

Minha consciência parece voltar quando acompanho Maria até a porta e ela sai, me deixando respirar novamente. Mesmo que não goste que ela tenha vindo até aqui, foi aliviante saber que ela não me odeia.

Subo novamente até o quarto de Kath, praguejando quando vejo que Arthur ainda está no quarto. Meu irmão anda até mim e me puxa pela gola da camiseta, como meu pai fez tantas vezes.

-Você contou pra ela? O que tem na cabeça?

Ele está próximo o suficiente para que eu veja os poros de seu rosto dilatados.

-É minha amiga. - Encoberto a parte que ela estava lá quando descobri. - Quer que eu mate todos que sabem? Você deveria se preocupar com as pessoas que não sabem.

Ele engole em seco, seus olhos claros furiosos, quando me solta.

-Dale, isso não é uma brincadeira.

-Eu sei que não é. - Ajeito minha camiseta. - Posso falar com Kath a sós?

Minha irmãzinha está deitada, de costas para nós. Arthur assente e sai do quarto. Sigo até a cama e me deito, puxando ela contra meu peito. Ela aceita e chora em meu ombro.

-Dale, eu estou com medo. - A voz dela sai embargada. - E se papai descobrir? Eu tenho medo do que ele pode fazer com Alec.

Tento controlar minha raiva e dizer para mim mesmo que ela é uma criança, não está conseguindo ver que ele é o culpado.

-Kath, você sabe que não poderá mais vê-lo outra vez, não é? - Ela intensifica o choro, mas assente.

-Dale... - Sua voz tenta se sobressair aos soluços, as lágrimas molhando os cabelos loiros que caem em meu peito. - Eu sabia que isso não era certo, mas eu me sentia tão segura perto dele. Acho que estava fazendo o que era certo.

A abraço mais forte, beijando sua cabeça.

-Porque contou para Arthur, Kath?

Ela funga, limpando o nariz na barra da manga de seu suéter laranja.

-Eu precisava contar, porque eu... eu achava que estava grávida.

Sento na cama tão rápido que ela cai no colchão, encaro seus olhos inchados de chorar o dia todo.

-Kath... - Ela senta também e procura minha mão.

-Eu não estou, mas eu achei que estivesse. Precisava que alguém que não mataria nosso filho soubesse. Arthur cuidaria disso. E cuidou, ele comprou o teste, eu fiz, e descobri que não estava.

-Como você pode fazer isso? Não pensou em nenhum momento que poderia dar merda transar assim... - Paro de falar, as palavras me enojam.

-Está vendo? - Ela grita, suas bochechas vermelhas. - Por isso não contei pra você, e você nem estava aqui. Eu precisava de apoio.

-Kath, me prometa que não irá mais ver ele. - Ela esconde as mãos no rosto enquanto eu me aproximo dela e seguro sua cabeça com as duas mãos. - Ele é perigoso, e velho. Iremos superar isso juntos.

Ela chora com tanta profundidade que vejo seu pulmão inflar por baixo dos tecidos. A abraço com tanta força, que acho que dói.

Em meu quarto, choro contra a vontade de usar o que guardo na gaveta esquerda. Aperto a bancada de mármore do banheiro, tentando me controlar. As imagens de Kath criança correndo pela casa parece muito recente. Resolvo descer e espairecer antes que eu morra dentro de casa.

No caminho para o quarto de Olga, escuto a voz de Arthur no telefone de seu quarto, pela porta entreaberta. Estava passando direto até escutar algo que me interessava mais do que as drogas do meu quarto.

Onde Reside o Desejo (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora