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ELA

-George não tem um lindo cabelo? Isso deveria ter um peso, não é? - Louise pergunta, quebrando o silêncio sagrado que eu estava apreciando enquanto tentava fazer minha lição de casa na biblioteca.

-Acho que sim. - Digo, apenas para que ela volte a concentração para o livro de geometria.

-Eu estive pensando sobre George ontem, antes de dormir. Assim como todas as últimas noites. Isso também deveria ter um peso. - Não consigo ver a cara que minha amiga está fazendo, pois minha mão está traçando números em meu caderno. - As coisas mudaram entre nós desde minha festa do pijama.

Levo o "x" de um lado para o outro da equação e tento pensar no que preciso fazer para terminar.

-George me disse coisas que me deixaram pensativa desde o sábado passado, não nos vimos desde então. Eu o estou evitando. Com certeza ele já deve ter se arrependido de tudo o que disse no sábado.

-Hoje ainda é quinta. - Murmuro, sorrindo por ter conseguido terminar a questão.

-Não há felicidade nisso, Maria!

-Shhh! - Uma única garota que está na biblioteca nesse horário, sentada a algumas mesas de distância pede silêncio, me fazendo levantar a cabeça pela primeira vez.

-Não há felicidade nisso, Maria. - Ela repete, agora sussurrando. Reparo em sua trança feita com capricho, adornando o formato pontudo de seu rosto marcado. Louise tinha um rosto bem delineado, com os ossos faciais bem desenhados naquele maxilar que eu morreria para ter. - Estou ficando ansiosa para ver George.

-O que ele disse de tão interessante? - Volto minha atenção para o caderno, mas antes que a caneta volte para a folga, Louise puxa o tubo transparente da minha mão, me fazendo a olhar.

-Eu já disse para você.

Ela já tinha dito. Sobre George falar que talvez ela fosse a melhor amiga que ele já teve, sobre sua bondade fascinante, sobre sua beleza e coisas específicas no sorriso de Louise. Era fofo, mas digamos que minha cabeça estava flutuando nessa última semana. Que eu estava mais distraída do que o normal, em todos os lugares. Fugindo de um garoto alto que me dava arrepios ao revisitar memórias específicas da madrugada de sábado.

-Desculpa. Eu estou distante, não foi legal. Você acha que ele gosta de você?

Louise fica vermelha e morde o lábio inferior.

-Ele não deixou claro, mas eu talvez queira que sim. George me passa uma segurança, ele me deixa confortável, me faz sentir especial. Não é como Seth, mesmo que ele seja o certo pra mim.

Sorrindo, estico minha mão para tocar a dela em cima da mesa.

-Você é especial.

Ela agradece e parece se dar conta de algo, olhando em seu relógio caro, porém singelo, no pulso.

-Eu preciso ir, quero falar com Arthur sobre algo antes de nosso ensaio. Te vejo no ballet daqui duas horas?

Assinto com a cabeça, enquanto ela levanta e recolhe suas coisas, me entregando beijinhos no ar. Volto minha atenção para o caderno, pegando outra caneta pois Louise havia levado a minha por engano, o que me fez rir. Termino minha atividade de geometria, percebendo que sou a única pessoa visível nessa área da biblioteca onde há mais livros do que mesas e antes que inicie minha atividade de francês para amanhã, alguém tampa meus olhos. Mãos com dedos longos e gelados, que me fazem sorrir involuntariamente, esquecendo todo o temor, insegurança e ansiedade que estava sentindo desde então.

Onde Reside o Desejo (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora