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ELE

Uma batida na porta me faz levantar a cabeça. Minha mente dói um pouco pelo esforço que faço ao levantar da cama. Foi uma péssima ideia ter passado tanto tempo longe de qualquer coisa, e meu hematoma no rosto ainda dói. Quando abro a porta pesada, Louise está do outro lado. Seus olhos estão mais claros pelo contraste com a pele avermelhada ao redor. Estava chorando muito.

-Posso entrar? - As mãos delas se remexem à frente do corpo. Reparo que ela ainda está de pijama, mesmo sendo tarde.

Pondero mais do que o normal sobre sua pergunta, mas era Lou. Dou espaço para que ela entre, verificando se o banheiro estava mesmo fechado. Estava.

-Eu queria conversar com você. - Ela já está chorando, colocando as mãos à frente do rosto.

Cruzo os braços e me escoro na cômoda.

-Pode falar.

Ela abre a boca algumas vezes, mas não diz nada.

-Eu sei que vai parecer estupido pra você, como tudo que eu faço...

-Lou, não acho você estúpida. Ou as coisas que você faz. - A interrompo.

Ela sorri, colocando o cabelo atrás da orelha.

-Acha sim. Está tudo bem, Dale. - Algumas lágrimas caem em seu rosto. - A questão é que eu sinto que ferrei tudo ontem à noite. Acho que me empolguei mais que o considerado normal, fiz papai passar vergonha...

-Acho que ninguém percebeu. - Tento a consolar, mesmo tendo sido um pouco estranho termos saído tão cedo.

-Você acha que ele está com muita raiva de mim? - Ela põe a mão, com as unhas perfeitamente pintadas, na testa. - Ele não falou nada comigo a manhã inteira.

Vou até ela e coloco uma mão em seus ombros.

-Ele ama você, tenho certeza que vocês vão voltar a se falar.

Ela chora mais e tenta limpar seu nariz na calça, o que a faz chorar mais ainda.

-Eu estraguei tudo! - Ela faz uma cara de choro, soluçando algumas vezes e se joga contra o meu peito. Meu corpo fica meio imóvel pelo contato inesperado mas a abraço.

-Shh. - Passo a mão em suas costas, a acalentando. - Ele ama você, está tudo bem. Você bebeu um pouco demais. Mas estava linda. Eu juro.

Algo estranho passa em meu peito quando falo aquelas palavras. Talvez por sentir que não fico tão satisfeito em falar para ela sobre meu pai. Sobre o homem que não me tocou, mas que me deu um sermão horrível hoje de manhã. Louise se afasta e enxuga os olhos. Ela tenta sorrir.

-Você foi até minha festa ontem, e foi tão legal. Obrigada, Dale. - Ela me abraça de novo, eu suspiro, mas permito. Nunca soube lidar com o fato de ela ser tão sensível.

-Por nada. Mas porque você veio falar comigo?

Ela fica calada, mas eu já sei a resposta.

-Achei que você me entenderia sobre papai estar chateado. - Ela consegue falar, o que me faz a afastar de mim.

Não estou com raiva de Louise, porque é a verdade. De todos na casa, eu entenderia. Mas ainda dói.

-E obrigada por ter dado apoio para Maria ontem. Sei o quanto nossa família consegue ser difícil as vezes.. - Meu coração dá um nó em si mesmo e começa a bater mais forte ao escutar o nome dela.

-Por nada. - Apenas digo.

-Mas Dale. - Louise parece precisar de coragem para falar. - Ela é minha amiga. Eu gosto muito dela.

Onde Reside o Desejo (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora