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ELE

-Mamãe, eu não quero dormir. - Murmuro em seu colo, chorando.

-Mas você precisa. - A voz suave dela cantarola, o som chegando em meus ouvidos.

O quarto cheira a chuva e chá antigo, e não o cheiro de cloro e sabonete da clínica.

-Como irei me proteger dormindo? - Consigo sentir a pílula que ela colocou em minha língua fazendo efeito.

-Shhh. - Suas unhas curtas acariciam meu couro cabeludo. - Imagine um lugar feliz.

Minhas lágrimas quentes me protegem do frio, as pálpebras pesando.

-Tente. Um lugar feliz.

-Como a praia? - Pergunto, minha boca adormecendo.

A risada de minha mãe faz algo mexer em meu peito. Algo bom. Consigo dar um mini sorriso em meio às lágrimas.

-Como a praia. Você gosta da praia, meu pequeno menino? - Sorrio outra vez.

-É feliz. Eu gosto.

-Então se imagine dentro da água, querido. - Ela indica, se deitando comigo, me abraçando.

-A água está fria?

-Tão fria quanto o sol nunca esteve.

Eu caio num sono profundo.

Acordo do que eu julgo um cochilo rápido, com o peso leve do corpo de Maria em cima de mim

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Acordo do que eu julgo um cochilo rápido, com o peso leve do corpo de Maria em cima de mim. Sorrio lembrando do que fizemos. Sei que ela está acordada, pois seus dedos brincam na ponta de minha tatuagem na lateral de minhas costelas.

-Posso levar você pra casa. - Minhas mãos retorcem alguns fios de seu cabelo. - Você quer?

Ela assente e faz menção de se levantar, depositando um selinho em meus lábios no processo. Não encaro enquanto ela se veste, pois não a quero deixar desconfortável, mesmo que fosse uma tentação ver seu corpo mais uma vez. A sigo de exemplo e começo a me vestir. Viro meu rosto para ela quando escuto o zíper de seu vestido. Maria está tão linda que me arranca um sorriso.

-A gente pode passar em um local antes? - Pergunto, andando até ela.

-É longe? - Ela questiona, fechando um dos olhos e sorrindo. - Se não, acho que podemos.

Ela entrega minha camisa e jaqueta que estavam no sofá. Antes de vestir, tiro uma nota da carteira e coloco dentro da maçaneta quebrada. Maria encara meus movimentos com atenção enquanto arruma sua bolsa.

-Para o conserto. - Digo, rindo ao imaginar a cara de Alec. Pego Maria pela mão após me vestir e saímos pela janela, andando pelas ruas escuras e movimentadas.

Onde Reside o Desejo (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora