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ELE

Saio do banheiro depois de usar quase tudo do que havia comprado de Mike, hoje mais cedo. Minha mente está turva e o barulho está me tirando a consciência, então resolvo sair até a calçada, onde sento. Não sei direito onde estou. Mas sei de Katherine, a única coisa que queria esquecer. Aperto os olhos com força.

-Aqui. - Alguém diz, oferecendo um punhado de gelo enrolado em algum pano laranja.

Percebo que é a vocalista da banda, que havia aberto a porta do camarim. Não lembro de seu nome. Sinto que deveria lembrar. A confusão me faz perceber que não lembro do meu nome.

Ela fica em pé, estendendo a mão com o gelo para mim. Em surpresa, aceito o gelo e agradeço. Ela parece confortável e senta no meio-fio ao meu lado. Seu cabelo rosa e curto voa com o vento gelado que vem da rua, trazendo seu cheiro doce e frutado até mim. Coloco o pano em meu olho e murmuro um palavrão ao sentir a dor me consumir quando o gelo toca meu machucado. A vocalista continua a me encarar, puxando seus joelhos para perto de si, ela os abraça e parece estar com frio, pois está com os braços arrepiados. A olhando reparo no quão específico é o tom de sua pele. Não consigo definir em cores, mas é escura e reluzente, fazendo um contraste interessante com seu cabelo. Não sei dizer se já havia escutado seu nome e me esforço para lembrar.

-É Becky.- Ela responde, parecendo triste, sem tirar os olhos de mim.

Dou um pequeno sorriso de canto de boca, o qual ela sedutoramente retribui.

-Você estava se perguntando se sabia meu nome, não é? - Pergunta outra vez.

Apenas assinto, e dou uma pequena risada pelo fato de ela ter basicamente lido meus pensamentos.

-Desculpe, eu não tenho uma memória muito boa. - A digo, encarando meus próprios pés, mas voltando à encarar logo em seguida.

-Eu sei. - Ela diz confiante.

Franzo o cenho e afasto um pouco meu rosto dela para a encarar melhor, percebendo o quão próximos estávamos. Ela sorri com os lábios fechados. Encaro sua boca por alguns segundos até desviar minha visão para seus olhos novamente.

-Já nos conhecemos.

A encaro, esperando uma resposta, mesmo que eu tenha afirmado. A percepção de talvez ela não estar se enganando e eu ter esquecido dela me deixa um pouco envergonhado.

-Eu realmente não lembro, me desculpe. - Respondo dando um riso fraco, para disfarçar meu sentimento.

-Tudo bem. - Ela diz, mas não parece bem.

Ficamos em silêncio por um curto período de tempo, até eu murmurar mais um palavrão pela dor que vinha de um lugar específico atrás do meu olho. Becky muda sua expressão de leveza e se atém à uma feição de neutralidade. Não conseguia identificar o que ela estava pensando. Não consigo identificar o que eu estava fazendo.

-Você não tem que voltar? - Pergunto.

Ela abre a boca e parece um pouco sem jeito pela minha pergunta.

-Desculpa, você só deve querer ficar sozinho. Eu só achei que podia ajudar o... o seu olho. Ou ajudar em algo.

Ela levanta, mas toco em seu cotovelo. Ela para quando a toco, meus dedos encostam em sua pele sutilmente e ela me olha com estranheza. Não quero ficar sozinho. Não agora. Com ela de pé, reparo no quão escultural é seu corpo. Ela usa um vestido preto e muito apertado, deixando seu decote marcado e chamativo, a saia extremamente curta que cobre pequena parte de suas pernas e abraça suas coxas com perfeição. Quando começo a encarar obsessivamente suas pernas ela ri, atraindo minha atenção.

Onde Reside o Desejo (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora