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ELE

-Estou feliz por Louise, acho que seus pais vão gostar de George. - Olga passa a escova em seus cachos escuros.

A ansiedade me ataca levemente, pensando em Maria aqui essa noite. Quando ela descobrir sobre Teresa... Eu deveria ter contado antes. Mas ontem eu não queria estragar o momento agradável que estávamos tendo, eu não queria falar nada. Na sensação de paz que foi ver ela dormindo em meu peito, respirando lentamente com minha mão em seus fios unidos pela água.

-Você sabe de Arthur? Ele falou com você? - Minha pergunta sai meio desesperada enquanto cutuco a borda da janela do quarto de Olga que estou escorado.

-Dale, Arthur fará o que fizer mais sentido para ele. E se isso for namorar Teresa, e ela aceitar... Você não terá controle nenhum sobre isso.

Aperto os olhos e passo uma das mãos no cabelo.

-Eu sei disso, eu só não queria que...

-Isso não deveria ser sobre Maria. - Ela devolve a escova para a penteadeira e se senta no baú de madeira, ao pé da cama, para calçar seus saltos baixos. - É por isso que você está assim, não é?

Fico em silêncio, encarando o jardim na luz baixa, por trás do vidro levemente congelado.

-Você não irá mesmo para o jantar? - Ela continua falando. - Sei que Arthur e você não tem a melhor relação, mas Louise ficará triste. É um momento importante para ela e....

-Olga, você pode falar de outra coisa? Por favor.

Percebo que estou estressado, com o olho ainda dolorido e cansado. Tentei evitar usar muito desde ontem, e já me sinto morrendo. Deus, que nível de controle eu tenho sobre o meu corpo?

-Eu vou indo para a sala de jantar, ok? - Ela pergunta, esfregando as mãos e saindo lentamente do quarto.

Aguardo alguns segundos antes de tomar coragem e sair do cômodo, me segurando para decidir se irei enfrentar Maria ou fugir dessa situação toda. Quando fecho a porta do quarto de Olga e entro no corredor principal, vejo ela e a irmã. Quando a olho, percebo que não há nenhuma outra escolha em que ela não esteja inclusa. Me aproximo dela, o que faz Teresa franzir as sobrancelhas. Perco meu foco em sua cintura moldada pelo vestido branco, nos cabelos presos e em sua boca vermelha. Está magnífica.

-Maria, posso falar com você a sós, por favor?

Seus olhos escuros me encaram, reparando em minha camiseta branca surrada e em meus jeans, se dando conta de que não irei participar do jantar. Quando ela dá um passo em minha direção, encarando a irmã por cima do ombro, a puxo até um corredor mais estreito, o que leva ao escritório do meu pai.

-Ei, eu preciso te contar uma coisa. - Minha respiração está pesada pela presença dela tão perto. - É importante.

Maria inclina a cabeça lateralmente.

-Eu preciso voltar, deixar minhas malas lá em cima e falar com Louise. É uma noite importante para ela.

Faço que não com a cabeça.

-Esqueça a fadinha Louise por uns segundos. - Pego suas duas mãos, atraindo sua atenção. - Arthur pedirá Teresa em namoro essa noite. Daqui a pouco, naquela mesa.

Alguns segundos de silêncio se passam, até que ela pisque algumas vezes, recuperando o raciocínio.

-O que? - Maria encara o chão, uma de suas mãos colocando a alça fina do vestido de volta ao ombro, pois estava caída.

-Arthur pedirá Teresa...

-Eu entendi da primeira vez. - Ela sobe a mão até a altura do rosto, parece confusa. - Você sabia disso?

Passo uma de minhas mãos pelo queixo, minha barba já rala arranhando meu dedos.

-Esse não é o ponto, eu só queria te avisar antes de entrar ali. - Aponto em direção a sala de jantar.

-Seus pais irão aceitar? - Sua pergunta sai arrastada.

-Eu não sei, mas acho que eles não questionariam Arthur.

-Mas ela... - Maria não termina de falar. - Como tem certeza disso?

Há um leve início de lágrimas em seus olhos, toco sua mão direita e saio puxando seu corpo até o andar de cima. Ao chegarmos ao caminho que dá para os quartos, desaceleremos os passos, entrando no quarto de Arthur sorrateiramente ao perceber que as luzes estavam apagadas e o chuveiro estava ligado. É claro que ele iria se atrasar, reviro os olhos. Maria tenta falar algo, mas eu peço silêncio com o indicador, o que ela acata. Em cima do aparador, ao lado da porta, há uma caixa retangular de veludo e quando a abro, um colar prata está depositado com uma única pedra de safira. Maria arregala os olhos quando rapidamente mostro a peça, fechando a caixa segundos depois.

Saímos do quarto e eu continuo a puxando, ela tenta voltar a falar, mas eu a interrompo, pedindo calma. No salão principal de recepção, há uma grande foto emoldurada em madeira escura, de meus pais antes de casar. Minha mãe usa o mesmo colar.

-Isso foi alguns meses antes de eles se casarem, minha mãe usava esse colar como símbolo de compromisso. Logo, se Teresa aceitar o colar, ela um dia usará o anel que está no dedo de minha mãe hoje.

Maria encara a foto de meus pais jovens, Frank com uniforme militar. Ela parece em choque.

-Como sabia que o colar estaria lá? - Ela pergunta.

Vergonha enche meu estômago.

-Pois quando fui ao cofre pegar algo de valor para vender, ele não estava lá como sempre esteve.

Silêncio.

Maria engole em seco, talvez percebendo a burrada que Teresa estaria cometendo um grande erro em querer fazer parte das fotos que estão na parede à nossa frente.

-Dale...

Olho em sua direção.

-Eu não quero ver isso... Me leve pra longe, por favor. - Ela toca meu bíceps, implorando.

-Para onde?

-Longe. - Ela fala sem pensar. - Não quero ver uma garota da idade de Katherine se dando bem aos olhos de seus pais hoje, me leve embora.

Penso em silêncio alguns segundos até perguntar.

-Você disse para sua avó que voltaria quando? - Ela pisca, confusa.

-Segunda, durante a tarde para meu ensaio de ballet e a festa no colégio a noite. Porque?

Dou um sorriso que a assusta levemente.

-Porque só voltaremos segunda.

-Porque só voltaremos segunda

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07/12/23

Surpresinha.... Mais tarde terá mais! ♥️

Onde Reside o Desejo (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora