Onde Reside o Desejo (Concluído)

.54.

ELE

Minhas pupilas estão tão fechadas que não consigo enxergar quase nada. Minha visão está turva e meu equilíbrio está disfuncional. Estico minhas mãos, a procura de apoio, mas não encontro e simplesmente caio no chão, batendo a cabeça. Um zunido caminha por meu ouvido, me fazendo levar as mãos até a cabeça. Quando aos poucos minha audição retorna, eu escuto alguém chorando.

Vejo a formação do corpo de uma garota à minha frente. É ela que chora. Uma de suas mãos estão em sua barriga e a outra dentro de seus cabelos. O que ela tem? Um homem está a sua frente, pedindo para ela se acalmar. Tento levantar, mas meu corpo parece tão pesado, que simplesmente desisti. Meus dedos estão azuis, eu os aperto algumas vezes, querendo trazer minha circulação de volta.

-O que houve? - Pergunto, com a voz rouca, a qual eu não reconheço.

Os dois se viram para mim, e quando os olhos da garota bonita chegam até mim, meus batimentos voltam a desacelerar. Ela treme os lábios e enxuga algumas lágrimas, borrando ainda mais a maquiagem preta em suas bochechas. Quando ela se coloca na minha frente, suas mãos encostam em meu peito, fazendo minha pele acender.

-Você é um desgraçado! - Ela me empurra até me derrubar no sofá. - Como pode fazer isso comigo, como pode?!

-Ei. - O cara se aproxima, tentando puxá-la. - Vem, eu vou te levar pra casa.

Ela o empurra.

-Vai embora, Chad. Isso não é sobre você. Eu preciso conversar com Dale.

Dale. Esse era o meu nome. O cara apenas afirma, devagar, e sai do cômodo. Ela volta a olhar pra mim, o rosto mais triste que eu já havia visto. Suas mãos pequenas cobrem seu rosto e ela senta no sofá ao meu lado. Vejo ela soluçar diversas vezes. Quero tocá-la, mas não quero que ela se assuste. Minha respiração está tão falha que estou de boca aberta. Acho que a amo.

-Ei. - Sussurro, a fazendo abrir os olhos. - Você pode dizer o que estava acontecendo?

-Você morreu, Dale. - Ela leva as mãos até seus joelhos, tentando controlar a respiração.

Vejo que no chão há uma poça do que parece ser vômito. Eu estava ali. Alguns minutos atrás.

-Desculpa. - Digo, e não sei exatamente o porquê. Mas logo meu cérebro começa a raciocinar e as lembranças vem devagar. Meu pai. As coisas que eu contei. As coisas que eu vivi. Sem esperar, minhas lágrimas caem em meu rosto. O frio chega até mim, me fazendo perceber que estou completamente molhado.

A garota levanta, parecendo estar sem paciência para minha clara desorientação. Ela anda de um lado para o outro.

-Porquê fez isso? - Ela pergunta, parando a minha frente.

-Eu não sei.

-Porquê fez isso?! - Ela levanta a voz.

-Eu não sei! - Levanto, fazendo-a levantar o rosto para me encarar.

-Eu tive que salvar você!

-Eu não pedi por isso! - Seus olhos se arregalam tanto que a íris de seus olhos se perde ao espaço branco e avermelhado pela maquiagem borrada. Sua mão se abre em meu rosto, ardendo.

-Eu odeio você, odeio! - Ela esmurra meu peito, deixando a área dolorida.

Minha cabeça está tonta, então caio no sofá outra vez, ela cai em meu colo, me batendo. Uso o pouco de força que me resta para a abraçar, mesmo que ela continue me batendo, igualmente perdendo as forças enquanto chora. Maria desiste, chorando em meu peito.