Onde Reside o Desejo (Concluído)

.65.

ELA

Meus pés empurram o chão da escada com força. Não me importo se estou sendo dramática e fazendo barulho numa casa que não é minha. Também ignoro as perguntas de alguns empregados em meu caminho. Eu só quero ir embora. Não sei o que eu esperava, mas com certeza não era a raiva que estou sentindo agora.

Uma mão puxa meu ombro quando eu passo a porta de entrada. Me viro para visualizar quem seja, mas não é um dos funcionários, e sim Louise. Era ela quem estava me chamando. A ignoro dizendo que estou com pressa e desço a escada principal, meus pés tocando o jardim. Minha amiga me segue pela grama e puxa meu ombro mais uma vez.

-Maria, espere. - Ela pede, então eu paro e cruzo os braços. Meus lábios tremem de nervosismo pela conversa que acabei de ter. - O que houve?

Encaro seu rosto perfeito com cachos loiros caindo em seus ombros.

-Eu não quero conversar agora, Louise. - Meu coração acelera ao perceber que ela sabe, dando sentindo a sua expressão carrancuda. Louise está com raiva. - Eu nem sei o que dizer.

-Porque não tenta se explicar como uma pessoa normal? - Ela questiona, seus ombros caindo pesados enquanto ela abraça seu suéter rosa claro. - Porque nem parece se sentir culpada?

Encaro meus pés, a bota surrada apertando meu tornozelo machucado. Precisava ir pra casa. Não queria encarar Lou chateada, não estou com emocional para isso.

-O que houve lá em cima? - Ela segue fazendo perguntas. - Dale se importa com você. Não seria legal você sair assim agora que ele...

-Eu não quero falar sobre isso! - Grito, a assustando que dá um passo para trás. - Não quero falar sobre seu irmão doente, sua família disfuncional ou a manipulação que todos vocês fizeram e...

Louise se empertiga e suas narinas dilatam, um tom vermelho passando em suas bochechas.

-Porque está tão na defensiva?! Você é a mentirosa aqui. Eu não tive nada a ver com isso e...

-Não teve? - A interrompo. - Você e seu irmão me dissuadiram o outono inteiro, de como eu estava obcecada pelo Dale, e iria acabar me machucando. Tudo porque vocês tinham muito medo de que eu descobrisse o segredinho sujo de vocês...

-Não fale do que não sabe.

-... e ainda assim, veja onde chegamos. Aqui estou eu, com todas essas informações as quais eu não sei o que fazer. Estou afundada nesse drama. - Coloco as mãos na cintura e suspiro.

-Eu poderia ter ajudado você, Maria. Você poderia ter me dado abertura.

Franzo a testa e a olho dos pés à cabeça.

-O que você poderia ter feito? Você provavelmente me diria que tudo daria certo, se eu me esforçasse muito. Sempre foi assim. Louise vem com sua grande energia positiva em cima dos meus problemas impossíveis de solucionar. Não mudaria em nada você saber ou não.

-Não estou chateada por não ter me contado sobre a guitarrista. - Ela fala, sua voz fraca enquanto seus olhos enchem de água. - Você sempre escondeu as coisas de mim. Quando ficou com meu irmão, sobre os livros, sobre o que houve depois de meu debute, sobre vocês dois terem sumido depois do jantar de Arthur e Teresa. Você nunca se esforçou para me incluir. Estou com raiva porque você sabe que eu sei, e não se importa. É tudo uma encenação pra você, e eu não faço parte do seu show principal. Não sou importante. Não somos amigas.

Mordo o interior de minha bochecha com tanta força que sinto um leve gosto de cobre na língua. Odeio que ela esteja certa.

-Porque nunca falou nada, então? - Pergunto, meus punhos cerrando. - Porque mudou de opinião sobre Dale?