epílogo

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ELA

Minha vida é podada em pequenos atos. Dale Castilho foi meu ato dramático, meu pico de energia em vida. A cada noite percebo mais que não há nenhuma possibilidade de minha alma se desprender da sua. Ele é meu sonho preferido por ter sido unicamente meu por um curto período de tempo, deixando apenas o gosto amargo de sua perda e o frio da falta.

Eu costumava achar que as nossas escolhas moldavam o mundo à nossa volta, mas percebi que isso não é possível por não termos domínio da maioria de nossas escolhas. Estive ocupada demais adoecida pelo desejo de ter Dale arruinando meus planos para simplesmente me importar em como minhas ações poderiam ter consequências tão irreparáveis. O desejo me abalou mais do que a possível perda de um dom, do que o ódio dos que eu achava amar, dos sonhos de futuros perturbados. O desejo teve esse poder por ser possibilidade. Possibilidade da busca de ser enfim amada. Meu erro com ele foi ter pensado que durante a busca eu teria uma recompensa, mas esse desejo veio até mim como um barquinho de papel tentando nadar na chuva. Nunca tive chances, mas o desejei ainda assim, pois estou viciada.

Meus dedos tocam a carta que se torna mais áspera a cada dia, como se fosse possível que o papel sentisse o tempo e tivesse escolhido me punir demonstrando minha covardia em abrí-lo. Abraço o edredom e minhas fraquezas, apagando o abajur para deixar meu quarto completamente escuro. A cor dos olhos de Dale me coloca para dormir enquanto eu penso nas palavras que me leem por trás do envelope ao meu lado.

Onde Reside o Desejo (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora