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ELA

Ele acidentalmente matou um bebê.

Dale chora compulsivamente como uma criança que acabou de cair e se machucar. E machucar muito. Seu peito nu está vermelho, e suas narinas hiperventilam.

Tento tocar em sua mão, mas ele se afasta. Não sei se devo falar, não sei o que devo fazer. Quero me mostrar compreensível, quero me mostrar apta a receber sua dor. Quero que ele venha até mim.

-Dale...

Ele aperta os olhos com as mãos, fazendo barulho ao chorar, algo que parece com choro. Mesmo que não pareça certo, toco em suas mãos. Quero que ele me veja. Gentilmente puxo seus dedos para seu colo, me aproximando dele.

-Dale, respire, eu só quero... - Ele me puxa contra seu corpo, me colocando entre suas pernas.

Me abraçando com muita força, seus braços se encontram em minhas costas, enquanto ele afunda o rosto em meu pescoço. Sua mão direita sobe em meu cabelo, os dedos fazendo círculos, como se tentasse me acalmar. Abraço ele com força, passando as mãos em suas costas. Sinto algumas lágrimas tímidas caindo em minhas bochechas. Deposito beijos em seu ombro nu e em seu maxilar.

-Shh... - Sussurro enquanto beijo sua orelha. - Só tente respirar.

-Não vai embora... - Suas palavras saem cortadas e graves em meu cabelo curto. - Só não vai embora.

Deixo que ele chore pelo que eu acho ser mais de vinte minutos. Quando ele levanta, sem me soltar, ele continua abraçado comigo, as lágrimas mais calmas e sua respiração mais controlada.

-Quer que eu... - Começo, mas ele me abraça mais forte. Apenas fico ali.

-Posso dormir? - Ele pergunta, o que eu concordo. Dale me puxa para a cama em que ele iria dormir, e se deita de lado, de frente para mim na cama apertada.

Percebo que em poucos segundos após deitar, ele adormece, respirando fundo, seu rosto ainda molhado. Eu, por outro lado, sinto minhas pálpebras com determinação de não fecharem. Não consigo dormir. Passo o que presumo ser algumas poucas horas, deitada. Cogitei levantar e preparar algo para que possamos comer quando ele acordar, mas temi pela reação de Dale caso ele acordasse e eu não estivesse aqui.

Vencida pelo cansaço, eu pego no sono, o que parece ser apenas uma piscada mais longa. O relógio na parede diz que, na verdade, eu dormi por cinco horas. Dale ainda dorme na mesma posição de quando fechou os olhos. Encaro sua feição de calma enquanto ele parece sonhar. Minha memória começa a retornar, sobre tudo que ele me contou, e como tudo faz mais sentido agora. E, ainda assim, eu estava com muitas dúvidas a sanar.

Dale não confiava em seus pais, então ele tinha dúvidas sobre o que havia acontecido naquela noite? Como ele voltou para casa, e o que aconteceu na clínica em que ele ficou? Porque Arthur nunca fez nada para ajudar o irmão durante esse tempo todo?

Como se pudesse ouvir minha mente maquinando, Dale acorda de supetão.

-Maria... - Ele me chama, se assustando por perceber que ainda estou ao seu lado. Fechando os olhos com força, Dale se joga na cama com força, apertando minha mão. - Desculpa, eu só acordei assustado.

-Tudo bem. - Digo, mesmo que tenha me assustado por sua reação. Inesperadamente, ele sorri, e meu estômago embrulha, pois passei tanto tempo o vendo chorar que quase havia esquecido o quão bonito seu sorriso era. - O que foi?

-Eu lembrei que você não sabe dirigir, então não teria como ir embora mesmo. - Ele dá uma risadinha, virando de lado para me encarar.

-Você achou mesmo que eu iria embora? - Seu sorriso morre com minha pergunta e ele aperta nossas mãos ainda juntas. Meus olhos preocupados passam por seu rosto bonito. Dale ficava absurdamente bonito ao acordar. Seus olhos pareciam ainda mais escuros com essa luz do meio dia que entra pela janela. Quero pegar em seu cabelo espesso e elogiar o quão charmoso acho os fios escuros cobrirem suas orelhas. Quero passar minhas unhas curtas em seu maxilar destacado em seu rosto magro, no princípio de barba que se mostra rente a sua pele rosada pelo frio. Quero encostar minha boca em seus lábios ainda inchados do sono. Sinto uma lágrima sair de meu olho e cair na cama, a qual Dale seca com a mão livre, se aproximando.

Onde Reside o Desejo (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora