Onde Reside o Desejo (Concluído)

.06.

ELE

Meu amigo Mike tem uma estranha habilidade de segurar uma garrafa de cerveja em cada ombro sem derrubar. E é exatamente isso que ele faz, fazendo as pessoas à nossa volta aplaudir e darem risadas. Conheci Mike em uma festa no subúrbio de Old Hill um ano atrás. Ele estava vendendo a cocaína de maior qualidade que eu havia visto, mas eu estava sem dinheiro nesse dia, então lhe fiz uma proposta. Quando perguntei o que ele queria que eu fizesse em troca de quarenta dólares em cocaína, ele disse que seria se eu conseguisse vinte seringas limpas e novas. Mas ele não sabia que isso seria fácil pra mim.

-Me dá meia hora-disse.

Quando cheguei a casa de Eleanor, suado de tanto correr, ela me atendeu na segunda batida, com uma cara de poucos amigos, enviei para ela meu melhor sorriso.

-O que você quer?- ela indagou.

Eleanor estava na residência de medicina em São Francisco, mas passava os fins de semana com os pais em Old Hill pois é mimada demais para lavar suas próprias roupas. Naquele dia eu iria dar início a uma grande parceria.

-Eu preciso de um favor, preciso de vinte seringas. Novas.

Ela pareceu em choque com o pedido e fechou a porta de entrada atrás de si.

-Porque você acha que eu teria isso e daria pra você?

-Bem - eu comecei - Monique comentou uma vez que você mesma medica sua mãe que tem Doença de Crohn em casa.

-Minha irmã gosta de acreditar que vocês tem algo. Azar o dela. E o que diabos eu ganharia com isso?

-Escuta, eu preciso mesmo delas. Mas prometo te pagar sábado que vem.

Ela me encarou da cabeça aos pés, como se ponderasse se confiava ou não em mim.

-Vai te custar cem dólares- antes de eu fazer cara feia e reclamar ela continuou - É pegar ou largar, Castilho.

-Fechado- disse, à contragosto.

Eleanor fechou a porta e apareceu uns minutos depois com um pacote de papel.

-Fica longe da minha irmã- ela ameaçou antes de fechar a porta na minha cara.

O que ela não sabia é que continuaria vendendo as seringas para Mike pelo ano inteiro seguinte, ela queria o dinheiro pois não recebia mesada nenhuma dos seus pais ricos e Mike queria o material. Ele ficou tão feliz que me deu quatro gramas inteiras. Mas depois que ele parou de fornecer, e apenas usar, continuamos saindo juntos.

-Quem vai pra Toca hoje?- Patrick, um garoto alto de cabelo escuro perguntou. Eu não o conhecia tão bem, mas ele parecia sempre estar ali.

Toca era um galpão onde vários jovens iam se encontrar para dançar, transar, se drogar e escutar quem quer que estivesse tocando. Era pago para entrar, então sentia que o ambiente era um pouco mais selecionado que as ruas, onde naquela hora da noite, só habitavam os usuários do pior tipo de crack.

-Acho que todos. Você vem Dale?-Mike pergunta para mim, tirando a garrafa ridícula de seus ombros largos.

-Acho que sim- tomo o último gole da minha cerveja e jogo a garrafa no lixo, escutando o barulho ecoar na lixeira de metal.