ELA
-Você pode ir.
Refaço o discurso e as razões plausíveis na minha cabeça que conveceriam minha avó a me deixar ir e... Espera.
Eu posso ir?!-O que? - questiono, incrédula, soltando a laranja que estava em minha mão na pia.
-Você pode ir. - ela diz colocando as compras retiradas da sacola de papel na mesa.
Passei o momento das compras inteira criando coragem para pedir sobre a festa quando chegar, e só preciso de uma pergunta para conseguir?
-A água está derramando, hija. - Abuela diz em alerta, com aquele tom grave de sua voz.
Volto a minha função de lavar as frutas que compramos, ainda em choque.
Teresa está nos observando sentada enquanto separa os frios dos secos na mesa. Ela parece tão perplexa quanto eu.-Gosto que ande com Louise, é uma boa menina. - Minha avó diz, guardando as sacolas no armário e organizando as compras. Ela é uma menina rica, isso sim.
Sua postura é de indiferença, mas a conheço muito bem. A conheço o suficiente para notar alguns detalhes que ela deixa escapar por trás daquela muralha emocional. Como a pequena fenda ao lado esquerdo de sua boca, demonstrando a minúcia de um sorriso.
Apesar da surpresa e desconfiança de minha parte, apenas engulo minhas dúvidas. Não digo mais nada. Não posso, é muito arriscado. Eu vou e pronto, a não ser que ela mude de ideia. Mas talvez ela esqueça que eu vá se eu ficar quieta e então quando for, será tarde demais para desmarcar e minha avó nunca me impediria de negar um convite sem desmarcar e...
-Maria!
-S-sim? Abuela? - questiono num sobressalto, derramando água e uma laranja no chão.
-A água. - Teresa me alerta, sorrindo discretamente.
Lanço uma careta para seu tom de ''eu sei o que você estava pensando''. Desligo a torneira, seco as laranjas e as coloco, com cuidado, no cesto de frutas. Abuela sai da cozinha minúscula, deixando Teresa livre para soltar uma risada.
-Você poderia ser menos óbvia? Talvez ela não deixe a gente sair mais pela sua ocorrência de choque e terror toda vez que vai pedir alguma coisa.
Reviro os olhos. Se minhas respostas fossem motivo para minha avó, ela teria mais compaixão por minhas lágrimas de cansaço nos ensaios ao longo dos anos. Teresa que era óbvia. Óbvia em não notar a frieza nos olhos daquela mulher quando descobre que tenho algo a pedir.
-Claro que não. - digo jogando o pano de prato nela - Me choquei por não ser grupo de estudos, missa ou qualquer outra coisa que ela talvez aprovasse de cara, e sim uma festa. E Louise nem falou sobre o que seria a festa.
-E sobre o que é a festa? - minha irmã perguntou curiosa, colocando os cotovelos na mesa enquanto segura o rosto com as mãos.
Dou de ombros.
-Eu não sei, Lou apenas me disse que seria no sábado. Nem sei o que usar.
Teresa suspira, como se só o fato de eu andar com gente que tivesse dinheiro fosse um conto de fadas. Ao olhar a quantidade de compras que gastamos com quase todo o salário de vovô, talvez um dia na mansão Castilho se aproxima bastante de abóboras virando carruagem e sapos se tornando príncipes.
-Como eles são?
Volto minha atenção para minha irmã interessada. Penso em como deve ser ainda mais difícil para ela, que não conhece nada do mundo em comparação ao que eu conheço.
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Onde Reside o Desejo (Concluído)
Storie d'amoreNorte da Califórnia, 1987. Em busca de um futuro melhor, a bailarina Maria tem segredos com o objetivo de ir embora e ter mais do que a vida que lhe é proposta, ela só não esperava conhecer Dale, muito menos que ele também tivesse segredos. Na cid...