– Eu não quero mais.
Me disse meu namorado, por mensagem de celular, faltando três dias pro nosso aniversário de cinco anos. Tentei argumentar, tentei reverter, mas não obtive sucesso, pois ele estava determinado em colocar um fim na nossa história.
Sabe quando você não sabe o porquê quer manter alguém em sua vida? Esse era o meu sentimento, mas mesmo assim não conseguia ficar bem com isso. Cinco anos... cinco longos anos. Haviam tantas memórias, tantos bons momentos... tantas coisas. Era difícil conseguir abrir mão de uma história como a nossa, mesmo que tenha sido "mágica" só pra mim. Será que foi?
Comecei a me questionar se eu não estava me tornando uma pessoa chata e que, talvez por isso, ele tenha enjoado de mim. Tenho trinta e dois anos, trabalho como assistente administrativa no mesmo emprego há nove anos e moro em um pequeno apartamento na Zona Norte do Rio de Janeiro, ou seja, tenho uma vida normal.
Não sei o porquê ele fez isso, não entendi seus motivos, até porque ele não explicou nada direito, pelo contrário, em resposta ficou me dizendo coisas sem sentido misturadas sempre a frase de que eu merecia alguém melhor. Não sou criança, tenho muitos amigos homens, então não tem nada que tire da minha cabeça que seu motivo na verdade era outra pessoa.
Fiquei mal, fiquei arrasada, mas como todos nós da vida adulta, eu não podia parar a minha por causa dessa situação, minha única sorte foi que isso aconteceu perto do final de semana. Passei aqueles dias na merda e completamente afundada em cigarro e álcool, só levantava da cama pra ir ao banheiro... por sinal, eu até tinha um rolo de papel higiênico perto de mim, pois eram tantas lágrimas e tanta dor, que meu nariz parecia querer chorar junto comigo.
Tentei falar com ele, tentei insistir em uma conversa, mas acabei bloqueada em todas as suas redes sociais. Eu era tão ruim assim pra tudo terminar daquele jeito? Ele não me deu o direito nem de um "olho no olho"... provavelmente a outra pessoa devia ser realmente muito especial pra tudo aquilo estar acontecendo daquela maneira.
Sim, insisto, pra mim ele tinha outra pessoa, porque nada fazia sentido, nem suas ações e nem suas palavras. É bem típico esse tipo de coisa, o cara ficar empolgado com alguém e não conseguir enxergar mais nada à sua frente e, por isso, vir a por um fim ao relacionamento estável que tiver.
Decidi que precisava de um tempo pra mim, precisava refletir e tentar me entender, me enxergar sem a presença dele em minha vida, e foi o que comecei a fazer, mesmo em meio a dor. Tem gente que logo corre pros braços de outra pessoa, mas não foi o que quis fazer, eu preferi ficar na minha, viver minha vida, rever meus conceitos e objetivos, até porque, agora, eram todos focados apenas em mim.
Assim já dizia uma pensadora contemporânea, "sua profissão nunca vai acordar no dia seguinte dizendo que não te ama mais", e era sobre isso que estava refletindo. Eu era jovem, mesmo que não mais tão jovem, mas ainda era, e precisava pensar no meu futuro. Eu queria mesmo passar o resto da vida no mesmo emprego? Queria mesmo me aposentar dentro daquela empresa, por melhor que ela fosse pra mim?
Vejo muita gente nova olhar pra pessoas da minha idade esperando um poço de maturidade e estabilidade, sendo que, vamos ser sinceros, não somos nem perto disso, pelo contrário, nossa cabeça é tão fodida que quem não está fazendo terapia, no mínimo, deveria, mas tem preconceito, ou não tem grana pra tal coisa.
Pessoas da minha idade vivem no limbo, pois não somos tão jovens e nem tão velhos, estamos no meio termo da vida adulta, mas com o sentimento de que acabamos de sair da adolescência... pelo menos muitos são assim, os que não são, parecem que já abraçaram a terceira idade e julgam os que ainda não o fizeram... opinião minha, vale lembrar.
Enfim, agora eu precisava reaprender a viver sem ele, mais uma vez, o que eu sabia que era apenas questão de tempo, até porque sempre fui uma pessoa relativamente forte e independente, então não seria impossível, no máximo seria apenas bem doloroso, mas não era a primeira vez, então sabia que era só questão de tempo.
Às vezes é disso que a gente precisa, relembrar quem nós somos e nos valorizar, independente de quem está ao nosso lado, ou não... mas quem eu quero enganar? Eu tava na merda enquanto filosofava diversas dessas idéias e conceitos, e desejava receber qualquer mensagem que fosse, não importava qual, eu só queria receber.
A gente tenta se enganar, se iludir, mas não é que a ideia não fosse correta, e não é que eu não a fosse colocar em prática, mas ainda estava em luto, sofrendo, chorando, me acabando em cima da minha cama, torcendo que a segunda-feira pudesse demorar um pouco mais a chegar, mas o tempo não para pra nossa dor.
Aquele primeiro dia útil desgraçado chegou, mas não consegui levantar da minha cama e pensei "eu nunca falto, ou me atraso, e nem estamos em um período puxado do mês... acho que eu mereço tirar esse dia pra mim". Mandei mensagem pra minha chefe avisando sobre o que tinha acontecido... pra minha sorte, nós éramos relativamente amigas e ela pareceu me entender.
Permaneci, então, em minha cama, sem nem abrir as cortinas do quarto, porque era disso que estava realmente precisando. Em algum momento do fim de tarde, consegui ligar a televisão e coloquei um filme pra assistir, mesmo que pouco prestasse atenção no que estava acontecendo naquela história, o importante é que já era uma vitória o fato de tê-lo feito.
A noite foi começando a surgir sem eu nem ter percebido as horas passarem. Eu só tinha me levantado pra ir no banheiro e pra beliscar qualquer coisa de fácil acesso na cozinha. Falando assim pode parecer que estava em depressão, mas garanto que aquele dia estava sendo melhor que os anteriores.
Minha campainha tocou, o que muito acelerou meu coração. Corri até a porta e olhei pelo "olho mágico", mas não era quem eu gostaria que fosse, embora isso não desmereça a pessoa que estava ali.
– O que você tá fazendo aqui? – Perguntei pra Débora, minha chefe, que estava de mochila e com uma embalagem de comida nas mãos.
– Eu vim passar uns dias com você, e não adianta me dizer que não. – Sorrindo, suspendeu a embalagem e completou. – Trouxe comida, agora vai tomar um banho.
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LGBT - Ao Meu Lado
RomanceDepois de cinco anos de relacionamento, Andréa, uma mulher adulta e bissexual, se vê solteira, triste e confusa com seus próprios pensamento e sentimentos. Em meio ao seu caos, existe uma mão amiga pra lhe trazer o mínimo de paz, além de outras emoç...