Fomos em silêncio, pois havia um clima estranho entre nós e isso fazia com que me sentisse mal, até porque eu era o motivo principal daquele impasse. Confesso que não conseguia entender o porquê do problema, mas preferi ficar quieta em respeito... pelo menos até sentarmos.
– Estamos bem? – Perguntei.
– Estamos. – Respondeu secamente e sem me olhar.
– Não é o que parece.
Ela me olhou, tentou sorrir, e disse:
– Ta tudo bem, relaxa.
– Me desculpa se eu te chateei.
– Meu anjo, você nem sabe se eu to ou o porquê eu estaria chateada, então não precisa se desculpar, deixa isso pra lá, te chamei pra almoçar porque você não parecia bem hoje cedo e queria te ajudar a ficar melhor.
– Você sempre ajuda. – Falei de cabeça baixa e me sentindo entristecida.
Débora pôs sua mão sobre a minha, eu a olhei e, sorrindo, ela me disse:
– Então fica melhor, tá tudo bem, juro.
Aquele olhar mais doce e aquele sorriso conseguiram realmente me tranquilizar, mas era incrível como aquele dia estava sendo extremamente desafiador pra mim... cada hora tinha uma coisa nova pra superar e não me sentia à vontade pra desabafar sobre isso com ela, pois não queria magoá-la com as palavras de Claudinha.
Almoçamos bem e com tranquilidade. Conversamos sobre assuntos aleatórios e tenho certeza que ela fez isso justamente pra me distrair. Combinamos o que comer à noite, no meu apartamento. Voltamos pro trabalho, mas decidimos não subirmos juntas pelo mesmo elevador.
Confesso que fui eu quem propôs aquilo me baseando no que ela havia dito logo no começo do dia, pra não ter que mencionar a Claudinha, pois não queria começar a levantar fofoca dentro do setor, ainda mais envolvendo Débora, que era minha gerente direta dentro da empresa.
Acho engraçado, pois quando ela terminou seu relacionamento, eu vivia indo em sua sala e ninguém nunca questionou o meu comportamento, mas agora que está acontecendo comigo, já surgiu logo aquele comentário infeliz sobre eu ser vista como isso ou aquilo... acho que as pessoas realmente não me enxergam como eu realmente sou.
Chegamos separadas, como havíamos combinado e fomos cada uma pro seu destino. Passei a minha tarde tentando me concentrar em trabalhar enquanto lutava com pensamentos que me remetiam ao meu ex. Em meus momentos de angústia, me levantava e ia tomar um café, sempre passando em frente a sala de Débora e olhando pra ela... depois da situação com o Henrique, eu não conseguia não passar por ali e não olhar pra ela.
Por sorte o resto do dia foi bem tranquilo, não ocorreram mensagens e nem propostas novas e consegui me recuperar do mal estar ocorrido pela manhã. Claudinha se concentrou em seu trabalho e eu fiz o mesmo, embora tenhamos nos falado sobre assuntos aleatórios e nada íntimos.
No final do dia encontrei Débora no estacionamento, justamente pra começar a não chamar a atenção das pessoas. No caminho paramos em uma padaria e compramos algumas coisas gostosas e menos calóricas do que nos entupir de pizza a noite... uma vez ou outra tudo bem, mas todo dia não dá, mesmo estando na merda, emocionalmente falando.
Em casa fizemos como na noite anterior, abrimos um vinho e comemos nossas besteiras sentadas no chão da sala, enquanto a televisão tocava música, porque eu ainda não estava com cabeça pra conseguir assistir alguma coisa, fosse filme ou série, não importava, eu simplesmente não conseguia me concentrar.
O álcool começou a fazer seu efeito, dessa vez mesmo estando sentada, e senti meu corpo ficar mais leve, assim como minha mente. Pedi licença e deitei minha cabeça sobre as coxas dela e aquilo estava extremamente agradável, se não fosse pelas palavras que, em seguida, ela me proferiu, dizendo:
– Acho que já dá pra eu voltar pra casa.
Me ergui e a olhei, olho no olho, numa distância inferior a um palmo, e perguntei:
– Como assim?
– Quando eu vim pra cá nem banho você tava tomando, agora ta comendo e tudo mais, por isso acho que já dá pra eu voltar pra casa. Não acha? Não quero te atrapalhar.
– Você não me atrapalha e é um grande alívio saber que você vai estar aqui comigo, então por favor, não vai agora.
Senti meus olhos encherem d'água e confesso que mal entendi o porquê daquilo, afinal não era a primeira vez que terminava um namoro e nunca precisei de um tratamento tão vip quanto aquele que ela estava me dando, mas eu realmente não queria que fosse embora, porque realmente era um alívio saber que teria sua companhia no final do dia.
– Vou segurar mais um pouco então, talvez até o domingo. Pode ser?
– Ta ótimo, até porque vai ser o segundo final de semana sem ele e acredito que vou ficar um pouco mexida por causa disso.
– Tudo bem, mas me promete uma coisa?
– O quê? – Perguntei, tensa.
– Me promete que se eu estiver te atrapalhando, você vai me dizer independente de qualquer coisa?
Segurei seu rosto com ambas as mãos e beijei-o, primeiro de frente, bem na dobra do nariz com a bochecha, depois indo pra lateral... acho que foram uns três beijos, no total. Afastei meu rosto, olhei-a nos olhos, sorri e, emocionada, disse:
– Você tá sendo um anjo pra mim, mas pode ficar tranquila, qualquer coisa eu te aviso sim, só não me deixa agora.
Débora se ajeitou e se sentou um pouco mais próxima, apoiou um dos braços sobre o sofá e segurou seu próprio rosto enquanto me olhava. Com a mão livre, acariciou meu rosto com tanto carinho que cheguei a fechar os olhos. Fizemos silêncio por alguns instantes, até que ouvi sua voz me dizer, em resposta:
– Não vou te deixar... juro.
Curte, comenta e compartilha
Cap novo toda quarta
Me segue no insta: kakanunes_85
VOCÊ ESTÁ LENDO
LGBT - Ao Meu Lado
RomanceDepois de cinco anos de relacionamento, Andréa, uma mulher adulta e bissexual, se vê solteira, triste e confusa com seus próprios pensamento e sentimentos. Em meio ao seu caos, existe uma mão amiga pra lhe trazer o mínimo de paz, além de outras emoç...