Eu podia ter ido atrás dela, talvez até devesse ter feito isso, mas por toda uma história, acho que o certo era ficar e explicar pro "dito cujo" a respeito do que estava acontecendo, mesmo ele não tendo feito isso por mim, porque isso fala a meu respeito e não sobre ele, não era sobre ele... não mais.
– Que história é essa? – Me perguntou ele atordoado.
– Foi isso o que você ouviu, eu estou apaixonada pela Débora.
Meu coração parecia que ia sair pela boca de tão nervosa que eu estava, porque não era algo fácil isso, de dizer pro seu ex que você está apaixonada pela sua amiga de quem ele tinha ciúme, ainda mais sabendo que esse sentimento começou a nascer antes da gente terminar, por mais que você só tenha se dado conta depois.
– Então você realmente me traiu? – Perguntou, chocado.
– Não, eu nunca te traí.
– Mentira! Eu via como você ficava por causa dessa mulher!
– Não grita, fala baixo, fica calmo. – Pedi, pois ele se exaltou no tom de voz.
– Como que eu posso ficar calmo com você me dizendo isso? – Perguntou, tentando falar mais baixo.
– Você não vai entender, mesmo que eu tente te explicar, então acho melhor essa conversa parar por aqui.
– Negativo, você vai me contar, eu preciso saber.
– Pra quê? Pra você surtar e gritar? Você não vai ouvir.
– Eu vou enlouquecer se você não me contar. – Disse ele ficando vermelho, provavelmente de raiva.
– Olha como você ta. Eu quero ser sincera com você, mas você não vai ouvir.
– Me conta, Andréa, que história é essa de você estar apaixonada por aquela mulher?
Como disse, existem coisas que falam mais sobre nós, do que propriamente sobre a outra pessoa e, na minha opinião, era justo que ele soubesse, mesmo que não tudo, sobre o que estava acontecendo, ou sobre o que havia acontecido. Seria?
– Olha, a questão é que eu não sei quando aconteceu, mas só me dei conta disso por agora e paciência, essa é a verdade... eu to apaixonada por ela.
– Você já sentia isso antes, então? É isso? – Perguntou, nervoso.
– Parece que sim, mas eu não sabia, ou não me permitia enxergar.
Guilherme se levantou atordoado e começou a andar pela sala, como se estivesse prestes a ter uma crise de ansiedade, ou qualquer coisa semelhante a isso. Eu permaneci sentada, olhando-o e até com um certo medo, porque infelizmente é inevitável, por mais que ele não fosse esse tipo de pessoa... o tipo de pessoa agressiva.
– Eu não to conseguindo acreditar. – Disse ele, mais pra si do que pra mim.
– Eu imagino.
– Não, você não imagina a dor que eu to sentindo aqui dentro. – Me disse parando e olhando pra mim, com um olhar raivoso, o rosto vermelho, mas com os olhos marejados.
– Eu nem sei o que te dizer, na verdade nem esperava que você fosse aparecer.
– Lógico, você já tava vivendo o seu "romancezinho". Quanto tempo levou pra você esquecer que eu existo?
– Não é justo você perguntar isso assim, você terminou comigo do nada, sem explicação, e sumiu, enquanto eu to aqui tentando te explicar as coisas. – Precisei jogar na cara.
– O que você fez foi muito pior.
– Pior por quê? Você nem sabe o que aconteceu, ou como aconteceu. Eu fiquei na merda por sua causa, até porque não entendia o que tava acontecendo, eu também achei que você tinha outra pessoa, cheguei a imaginar várias coisas horríveis a esse respeito...
– Só que nada disso era real, já o seu sim. Percebe a diferença?
– Olha, Guilherme, essa é uma conversa que não vai chegar a lugar algum. Eu sinto muito por tudo isso, mas hoje vejo que a gente já não existia há muito tempo, e isso não tem nada a ver com a Débora, então, por favor, acho melhor a gente encerrar essa conversa. – Falei.
– Pra quê? Pra você sair correndo atrás daquela mulher?
– Eu vou, eu vou sim, eu tenho que ir, porque não quero mais fugir do que to sentindo, não quero mais fingir que isso não existe. Eu sei que é difícil, mas nada disso foi fácil pra mim também.
– Por que você ta fazendo isso? Eu fui tão ruim assim? Por que você ta me trocando por ela?
– Aí é que ta, não é sobre você, eu não tenho como dizer que isso aconteceu porque você fez ou deixou de fazer alguma coisa, o sentimento simplesmente aconteceu e é isso.
Silêncio... nós fomos envolvidos por um silêncio ensurdecedor e fiquei sem saber o que fazer, porque queria que ele fosse embora, mas não queria ter que pedir. É tão triste quando uma relação chega nesse ponto, independente de qualquer coisa, até porque ele foi sim um bom namorado... enfim.
– Eu vou embora. – Disse ele, olhando pro nada, com ar de reflexão.
– Ta bom.
– É isso o que você quer? Tem certeza?
– Tenho.
– Então ta bom. – Disse, por fim.
Eu o vi caminhar na direção da porta e, sem me levantar, apenas escutei o som dela sendo aberta e dela sendo batida. O silêncio dentro do meu apartamento, agora, era reconfortante. Respirei fundo. Era difícil processar tudo que estava acontecendo, tanto sobre os últimos dois meses, quanto sobre aquele dia.
Débora havia aparecido, de surpresa, e me pego sendo beijada, pela segunda vez, só que, dessa vez, pelo meu ex, que terminou comigo por causa dos ciúmes que sentia dela. Eu disse, com todas as letras, pro meu ex, que tanto esperei voltar, que estava apaixonada justamente pelo motivo de seus ciúmes. Débora foi embora sem ouvir nenhuma dessas palavras, e era isso, o leite estava derramado... me restava pegar o pano pra limpar, ou seja, eu tinha que ir atrás dela, como já devia ter feito há muito tempo.
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LGBT - Ao Meu Lado
RomanceDepois de cinco anos de relacionamento, Andréa, uma mulher adulta e bissexual, se vê solteira, triste e confusa com seus próprios pensamento e sentimentos. Em meio ao seu caos, existe uma mão amiga pra lhe trazer o mínimo de paz, além de outras emoç...