Meu dia seguinte foi mais um dia normal, focada em trabalhar e garantir meu pão de cada dia. Quase não falei com Débora, ela passou o dia saindo de uma reunião pra outra e acabei almoçando sozinha, mas não por falta de convite, pois Caio chegou a me chamar, só que eu queria ficar sozinha, queria ficar comigo mesma e meus pensamentos, e o foi o que fiz.
No final do dia, resolvi fazer o que não fazia há dias, resolvi ir pra academia, já que dizem que exercício físico também serve como uma boa terapia e, eu havia comido tanta besteira nos últimos tempo que precisava colocar aquelas calorias pra fora, então fui, sem pretensões maiores, já que não andava indo.
Cheguei, guardei minhas costas, me alonguei e fui pro setor de cárdios, pois minha intenção era fazer um pouco de bicicleta e esteira. Por lá já estava há algum tempo quando Flávio surgiu, sorridente. Parei meu exercício e nos abraçamos, enquanto ele me perguntava, dizendo:
– Como você ta? Senti sua falta aqui pra me animar.
– Acho que to um pouco melhor, mas ainda caminhando.
– Imagino, é difícil mesmo, mas acho que foi a melhor coisa que te aconteceu.
– Por que acha isso? – Perguntei intrigada.
– O seu namoro não parecia estar indo muito bem, se parar pra pensar bem, você vai enxergar isso, mas agora tenho que ir lá em cima fazer minhas séries, daqui a pouco eu volto aqui. Vai embora que horas?
– Vou ficar mais um pouco, vim só pro cárdio mesmo, to há muitos dias parada.
– Ta bom, mas não vai embora sem falar comigo, pode ser?
– Pode sim, te procuro se acabar antes de você.
Flávio era uma mistura do Caio com o Henrique, ele era um cara simpático, com ar de safado, mas ao mesmo tempo era gentil, além de ser muito bonito e, confesso, sempre tive uma certa queda por ele, mas é lógico que nunca explorei por estar comprometida, a questão é como dizem, eu namorava, mas não era cega.
As vezes fico pensando se esse é um pensamento correto, ou se estou errada em pensar assim, mas talvez não haja um certo ou errado nesse aspecto, sei lá, até porque tem coisa que vai além do nosso controle, por exemplo isso, eu nunca fiz nada, nunca dei condição pra nada, mas seria hipocrisia dizer que ele não seria do meu interesse.
Enquanto fazia minha caminhada, fiquei pensando se agora eu não estaria pronta pra começar a conhecer novas pessoas, já que já havia quebrado esse tabu na sexta e no sábado. Será que era isso o que aconteceu poderia significar pra mim? Será que foi a vida tentando me dizer que eu podia sim me relacionar com outras pessoas? Ou será que era apenas o que eu queria acreditar pra poder seguir com mais facilidade?
Ninguém nos ensina a superar situações ruins, esse é o papel da vida, é ela quem faz isso com a gente se utilizando de inúmeras formas diferentes. Às vezes é difícil pensar desse jeito, porque existem coisas muito ruins no Mundo, mas sei lá, só sei que esses pensamento acabam sendo reconfortantes e acho que as coisas são sobre isso também.
Nós sempre buscamos motivos pra tudo, inclusive pra conseguir seguir com nossas vidas depois de situações desagradáveis, a gente sempre procura por motivos, como eu, que acredito firmemente que meu ex me trocou por alguma outra pessoa... acho que preciso acreditar nisso, pra poder me convencer do que preciso fazer.
Enfim, falei e falei, mas na verdade eu não sabia o que precisava fazer, então resolvi só viver e, quando terminei meus exercícios, peguei minhas coisas e fui pro andar de cima, que era o andar da musculação, pra ver Flávio antes de ir embora, mas não porque ele havia me pedido, já que era o que queria fazer.
– Achei que não ia vir aqui. – Me disse ele ao me ver.
Flávio tava todo suado e com um enorme sorriso no rosto. Eu sorri de volta, mas dessa vez com um ar de timidez, porque senti que havia um clima diferente entre nós. Eu já sabia do interesse dele, por causa de brincadeira de outros tempos e por causa da ultima vez que nos falamos por mensagem, então sabia que, se eu quisesse, provavelmente rolaria algo entre nós.
– Você me pediu pra passar aqui antes de ir embora, então eu vim, ué. – Brinquei.
– Mas você já ta indo embora?
– To sim, o meu de hoje ta pago.
– Não quer me esperar terminar? A gente podia sentar em algum lugar e conversar. – Me disse, se aproximando um pouco mais, e com um ar de sedução.
– Hoje não dá, ainda é terça-feira, mas eu volto, até porque preciso voltar a minha rotina de academia.
– Então você fica me devendo, hein. Vamos sair pra beber e jogar conversa fora.
– Vamos sim, mas agora eu preciso ir, to doida pra tomar um banho e descansar.
Nos abraçamos novamente, só que dessa vez havia algo diferente no ar e no jeito com o qual ele me envolveu em seus braços. Não vou mentir, eu gostei daquele contato e fui embora com aquela sensação em minha mente, o que foi ótimo, porque consegui não pensar em mais nada além daquilo... pelo menos por algum tempo.
– "Você ta bem? Não te vi ir embora." – Me perguntou Débora, por mensagem.
Eu já tinha chegado em casa e estava saindo do chuveiro quando olhei meu celular. Por um instante fiquei paralisada, olhando pro aparelho, sem saber o que dizer, ou o que responder, mas foi o que falamos em nossa conversa, nós éramos amigas e isso era o mais importante da nossa relação, independente do quão bom tenha sido termos ido além disso.
Respirei fundo e não respondi de imediato, deixei o celular sobre o braço do sofá e fui pra cozinha preparar algo mais saudável pra comer. Não, eu não estava plena a respeito da mensagem e não deixei de responder por ser algo sem importância pra mim, o meu problema era justamente o contrário.
Voltei da cozinha, depois de comer, apaguei todas as luzes, peguei meu celular e fui pro meu quarto. Já deitada, já debaixo das cobertas, olhei novamente pra aquela mensagem e paralisei, de novo. Abaixei o aparelho, colocando-o sobre o meu peito, e olhei pro teto, me utilizando da pouca luz que ainda havia dentro do meu quarto... respirei fundo, o abri novamente e, impulsivamente, respondi:
– To bem. To com saudade.
Fazer o quê? Aquela era a mais pura verdade. Coloquei o aparelho no silencioso, depois o pus de lado e fui dormir... era apenas o que me restava fazer... dormir.
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LGBT - Ao Meu Lado
RomanceDepois de cinco anos de relacionamento, Andréa, uma mulher adulta e bissexual, se vê solteira, triste e confusa com seus próprios pensamento e sentimentos. Em meio ao seu caos, existe uma mão amiga pra lhe trazer o mínimo de paz, além de outras emoç...