31- Fudeu

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É incrível como as coisas acontecem na vida da gente. Quantas foram as vezes que desejei receber aquela mensagem, quantas vezes sonhei com isso, e agora, mais ou menos dois meses depois, ele ressurge das cinzas. O que eu deveria fazer? Como deveria reagir? O que deveria sentir?

Fiquei abalada, confesso, não tinha como ser diferente, pelo amor de Deus, ficar afetada faz parte do pacote, afinal ele era meu ex e eu sofri muito quando terminou comigo, embora ainda sofresse, mesmo que não mais da mesma maneira, ou na mesma intensidade, mas ainda doía quando pensava a respeito, e agora ele tava ali, a uma mensagem de distância.

O que será que ele queria? Eu não sabia e isso começou a me gerar uma ansiedade angustiante que me travava, ou seja, por mais que quisesse muito saber, fiquei por algum tempo paralisada, sem conseguir responder, eu apenas olhava pro celular e para aquela pergunta.

– "Podemos sim." – Respondi, enfim.

– "Ta em casa? To por perto." – Respondeu logo em seguida.

– "To sim."

Era inevitável aquela minha resposta, sabemos disso. Guilherme chegou, como eu havia sonhado, e me abraçou, assim que abri a porta. Aquela era uma sensação estranha demais, porque o sentimento que tinha era diferente do que achei que teria. Nós nos olhamos. Ele parecia emocionado.

– Me perdoa. – Pediu.

– Não é tão simples assim, você sabe disso.

– Eu sei, por isso queria conversar.

– Então entra. – Disse, enquanto o soltava e me dirigia pra sala.

Nos sentamos no sofá e volto a dizer, havia um sentimento muito estranho em mim a respeito do que tava acontecendo. Às vezes fico me perguntando o porquê de algumas coisas acontecerem da maneira que acontecem e qual seria o significado disso. Eu não sabia o que fazer, ou dizer, ainda bem que não dependia de mim aquela conversa.

– Senti sua falta. – Disse ele.

– E você diz isso só agora?

– Eu precisava desse tempo pra entender o que tava acontecendo comigo, mas na época não sabia disso.

– E o que aconteceu contigo exatamente?

– Eu tava muito confuso e a gente parecia muito distante um do outro.

– Você conheceu outra pessoa? – Perguntei, finalmente, o que mais queria saber dentro daquela história toda.

– Não é isso. – Respondeu vagamente. – Eu achei que a gente não dava mais certo, que a gente não se amava mais e que eu era um peso na sua vida.

– Você não respondeu a minha pergunta.

– E por que seria tão importante isso?

– Guilherme... – Falei, tentando conter minha raiva enquanto me ajeitava no sofá. – você terminou comigo sem nenhum tipo de explicação às vésperas do nosso aniversário de cinco anos sem dar explicações e acha que minha pergunta não é importante?

– Eu sei que fui infantil, ou no mínimo covarde, mas é que não conseguiria fazer isso pessoalmente.

– Você foi covarde, concordo, mas tudo bem, agora responde o que te perguntei, mas responde com sinceridade, por favor. – Insisti.

– Não havia outra pessoa, te juro, me problema era comigo mesmo.

– Então me explica melhor, por favor.

Não sei se acreditava naquela resposta, o que pode ser visto como algo ruim, pela ideia de que não adiantaria perguntar já que não iria acreditar, mas eu precisava fazê-lo dizer, até porque se surgir alguma coisa que prove o contrário, ele já teria me respondido e isso só mostraria que, além de filho da puta e covarde, ele era mentiroso... mas tudo bem, até que se diga o contrário, todos merecem o benefício da dúvida, então escolhi acreditar.

– Acho que meu ciúme mexeu muito comigo também. – Disse ele.

– Ciúme de quê? – Perguntei impulsivamente incomodada.

– Dessa sua amizade com a sua chefe.

– Meu Deus, mas o que tinha demais nisso? Eu nunca nem pensei em nada além de você enquanto a gente esteve juntos.

Nesse momento me senti ainda mais chateada, porque aquela era conclusão de tudo que ouvi nos últimos tempos a respeito de Débora. Volto a dizer, caso já o tenha feito que, por mais que sim, existia um sentimento incubado, ele não era percebido por mim, ele não era consciente, então não vejo o porquê ele pudesse ser visto como traição, ou como um risco... posso estar errada, mas é assim que penso.

– Eu sempre soube que ela gosta de mulheres, até porque dá pra perceber, e você parecia gostar muito dela, você falava muito dela, das conversas, das brincadeiras, das zoações, e isso começou a me incomodar, porque você parecia gostar mais dela do que de mim, mas durante esse nosso tempo longe, eu pensei muito, e vi que acabei me afastando de você por causa de coisas da minha cabeça.

– É muita loucura tudo isso.

Não falei nada, mas falei tudo com apenas uma frase. Era sim muita loucura tudo aquilo, porque ele estava errado e certo ao mesmo tempo. Como falar sobre algo que nem eu tinha completa consciência a respeito? Afinal de contas, havia muita coisa que ainda estava lutando pra entender e enxergar, mas, como sempre, o pior ainda estava por vir.

– Agora é minha vez de perguntar, eu tava errado? – Perguntou, do nada.

– Como assim? – Retruquei desesperada.

– Realmente não existe nada entre vocês duas e tudo isso era fantasia minha, ou vocês realmente estavam me fazendo de bobo?

Agora eu te pergunto... como responder com sinceridade àquela pergunta? Não fazia ideia, só sei que, de tudo que passava na minha cabeça, o que era muita coisa, não havia nenhuma palavra que expressasse tão bem o sentimento que aquele questionamento me gerava além de... fudeu.


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