– Senta aí um pouco. – Me disse Débora apontando pra cadeira do meu lado da mesa dela.
– Acho que to melhor... desculpa vir aqui assim, nem sei como vim parar aqui.
– Sem problema, mas o que houve?
– Nada demais, acho que foi algum gatilho... enfim, é melhor deixar pra lá, vou trabalhar.
Dei as costas e saí, pois não queria me aprofundar e contar sobre o que Claudinha havia me dito, até porque, se eu ainda estava processando aquilo, quanto mais faria quem era o alvo direto daquela abordagem. É incrível como as pessoas ainda possuem pensamentos tão ridículos como aqueles e, nisso tudo, só consigo me lembrar de Débora defendendo-a sobre a história do Henrique... enfim.
Voltei pra minha mesa sem falar nada com ninguém e, por sorte, Claudinha estava concentrada com alguma coisa de trabalho. Peguei meu celular e vi que tinha mensagens. Abri as pressas, não vou negar, pensando que poderia ser meu ex, mas era apenas o Flávio, meu amigo de academia, me perguntando como eu estava e o porquê de estar sumida.
– "Oi amigo, to mais ou menos, terminei meu namoro esses dias, por isso to sumida, mas semana que vem vou tentar voltar." – Respondi por mensagem.
– "Ah sim, que merda hein, se precisar de qualquer coisa me chama ou, se quiser, a gente pode sair pra conversar, sei lá."
– "Semana que vem a gente vê isso, por agora não to afim de sair."
– "Sem problema, mas, qualquer coisa, posso ir pra sua casa também, é só dizer."
– "Beleza, semana que vem a gente fala disso." – Respondi, por fim, e larguei o celular sobre a mesa.
Flávio era um cara legal, simpático e bonito, mas eu não sou criança, sei bem como funcionam esses convites e, de fato, não estava animada pra nada disso, pelo menos não por enquanto. Me concentrei no meu trabalho, pois era o melhor que tinha a fazer, e ignorei todo o resto do mundo, inclusive Claudinha, que ficava do meu lado.
– "Quer almoçar comigo?" – Me perguntou Débora, já beirando a hora do almoço, pelo chat coorporativo.
Respirei fundo, me espreguicei e percebi que algumas horas realmente já haviam passado... pra minha sorte. Peguei minha bolsa, pois ia passar na sala dela direto, mas fui interrompida por Henrique que, aparecendo no exato instante em que saía da minha mesa, me perguntou:
– Oi minha linda, vim te perguntar se você topa almoçar comigo?
Ele sorria e tinha um olhar malicioso, mas o real problema é que convites assim, feitos pessoalmente, me deixam constrangida. O que dizer? Eu não queria que ele ficasse chateado, lembrando que não cheguei a respondê-lo pelo chat no dia anterior, mas agora, com ele ali na minha frente, não havia escolha.
Coloquei minha bolsa sobre minha cadeira, o olhei e disse:
– Vou ali rapidinho e já volto.
Antes que ele pudesse dizer alguma coisa, de imediato o cruzei, peguei a reta do corredor e fui até a sala de Débora, que estava concentrada olhando pro computador e mal me notou entrar.
– Henrique me chamou pra almoçar, não sei o que dizer. – Falei, do nada.
Ela me olhou com cara de confusão e, após alguns segundos de reflexão, me perguntou:
– Mas você quer almoçar com ele?
– Não.
– Então qual é o problema exatamente?
– To sem graça de dar mais um fora. – Falei enquanto me sentava.
– Tem dado muitos foras, é? – Sorriu.
– O que você acha de irmos todos juntos?
– Não gosto do Henrique, se você quiser almoçar com ele, fique a vontade, mas eu não vou, até porque sabemos bem o que ele quer com esse almoço e não vou ficar de vela... ainda mais pra ele.
– É que não quero deixar ele chateado?
– E por que ele iria ficar chateado? – Me perguntou séria.
– Ah, não sei, só não queria. Vamos juntos, vai? Por favor.
– Ele não pode ser chateado e eu que serei obrigada a aturá-lo? Qual é o sentido disso que você ta me pedindo? – Respirou fundo. – Meu anjo, eu vou sair pra almoçar em cinco minutos, se você quiser vir comigo, você vem, mas se não quiser chatear o "seu amigo", aí é contigo e você faz o que bem entender.
– E aí, vamos? – Perguntou Henrique parado na porta da sala.
Olhei pra trás e lá estava ele, me olhando com o mesmo olhar e me deixando ainda mais constrangida do que já estava. Não sabia o que fazer, mas por algum motivo eu estava me sentindo muito mal em deixá-lo na mão mais uma vez. Olhei pra Débora, que estava fixa em seu computador, agindo como se não estivéssemos ali, e disse:
– Vai lá, Henrique. – Olhei pra ele. – Eu tenho umas coisas pra resolver com a Débora.
– Se quiser, eu te espero, ou posso ir com vocês. – Respondeu ele.
– É coisa de mulher.
– Eu não me incomodo, não. – Respondeu ele, novamente, pra minha angústia.
– Vocês podem resolver isso lá fora, por favor? Eu preciso terminar de mandar um e-mail e não to conseguindo raciocinar. – Pediu Débora.
Me senti muito sem graça e confusa com aquela situação, mas em respeito, saímos da sala. Fechei a porta e fiquei na direção da parede de vidro, que me permitia vê-la, mesmo estando do lado de fora. Era muito estranho o que estava sentindo... cheguei a ignorá-lo completamente diante de mim.
– Me ouviu? – Perguntou ele.
Eu o olhei, ainda atordoada, e disse:
– Depois a gente vê isso, pode ser? Mas hoje não vai rolar, desculpa.
Sem esperar por sua resposta, tomei meu rumo em direção a minha baia, que agora estava vazia. Me sentei, respirei fundo enquanto olhava pro nada... o que dizer? Enfim... olhei pro meu computador, fiquei pensativa por alguns segundos até que o desbloqueei, abri o chat e, pra Débora, enviei:
– "To te esperando, vou contigo."
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LGBT - Ao Meu Lado
RomanceDepois de cinco anos de relacionamento, Andréa, uma mulher adulta e bissexual, se vê solteira, triste e confusa com seus próprios pensamento e sentimentos. Em meio ao seu caos, existe uma mão amiga pra lhe trazer o mínimo de paz, além de outras emoç...