30- Apaixonada

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Fiquei em completo silêncio enquanto sentia todo o meu corpo se arrepiar. Pus meu celular de lado, me encostei e fixei meus olhos no teto. Respirei fundo. Lágrimas escorreram, lentamente, por meus olhos. Meu coração palpitava tão rápido e tão forte que quase podia ouvir seus batimentos... meus, no caso.

Além de perder meu namorado, agora estava prestes a perder uma das melhores amigas que já tive. Não fazia mais nenhum sentido ficar com medo de perder sua amizade, já que ela estava prestes a ir embora da Cidade. O que isso significava? O que eu deveria fazer, ou dizer?

Eu não queria que ela me deixasse, não queria perdê-la e ela me prometeu que sempre estaria comigo, mas não seria justo pedir que ficasse e deixasse de ser promovida... seria?... não sei, só sei que não queria, só sei que aquela notícia me rasgava da mesma forma que o término havia me rasgado e, mais uma vez, a minha sorte é que era sexta-feira.

– "Independente da sua decisão, eu torço e torcerei sempre pelo seu sucesso." – Enviei.

Parece uma loucura, mas como dizer que não era? Como disse, eu não podia tentar impedir seu crescimento, pois isso seria muito egoísta da minha parte, embora meu desejo fosse implorar pra que ficasse, pra que negasse, pra que não me deixasse. Não tinha como não sentir aquela dor.

Lembro que, quando terminei, Débora me apoiou sem me dizer sobre seus sentimentos, mas não digo isso como se esse fosse o certo, até porque nem sei o que seria certo ou errado, já que cada história é uma história, mas foi isso o que ela fez, ou seja, ela não se priorizou por pensar no que seria melhor pra mim, e eu só queria retribuir o favor.

– "Ainda não sei como vai ser isso e se vai realmente acontecer... to meio confusa sobre algumas coisas." – Me enviou ela.

Chorei ainda mais, porque sua frase dava a entender que eu fazia parte de sua confusão, já que no outro dia havia me dito isso, sem mencionar a tal promoção. É bem ruim quando as pessoas falam em códigos ao invés de dizerem com objetividade aquilo que pensam e gostariam, mas acho que a maioria de nós faz isso... eu faço, pelo menos.

– "Você precisa pensar no que é melhor pra você e no que vai te fazer feliz." – Respondi, aos prantos.

Era foda... uma notícia daquelas depois de Débora ter se chateado a respeito de Flávio... às vezes parece que o Universo faz as coisas de sacanagem com a gente. Sabe aquela lei que diz "tudo que está ruim sempre pode piorar"? Pois é, parecia que o sentimento era esse... sei lá.

– "To fazendo isso... to tentando, pelo menos." – Respondeu ela.

– "Vou sentir sua falta."

Não resisti e confessei, pois precisava, como se fosse enlouquecer se não colocasse aquilo pra fora, mesmo sabendo que havia coisas mais bonitas e sinceras que poderia ter sido ditas além daquilo. Por que a gente pensa tanto antes de dizer o que a gente sente? Eu sabia o que sentia, mas o medo continuava me travando e atrapalhando... burrice.

– "Vai nada, rapidinho você encontra alguém pra colocar no meu lugar." – Me mandou ela.

Acho que era isso o que o Flávio a estava fazendo sentir, como se fosse fácil encontrar alguém que me fizesse sentir tudo que ela fez, tanto sexualmente, quanto na amizade. Queria eu que a vida fosse mais simples, mas não era, e se tem uma coisa difícil de se encontrar, é esse tipo de conexão... Claudinha tinha razão.

– "Você não faz ideia do que você representa pra mim." – Disse.

– "Acho que não faço mesmo."

– "Você é uma das pessoas mais importantes da minha vida e sou muito grata por te ter nela, por isso não tem como te substituir assim, não existe essa possibilidade." – Confessei, aos prantos. – "Acho que é mais fácil você me trocar."

– "Acho que tem muita coisa que nunca dissemos uma pra outra."

Essa era a mais pura verdade, tanto da minha parte, quanto da dela, até porque ainda não conseguia acreditar no que havia me dito na noite com Flávio, sobre seus sentimentos a meu respeito, pois aquilo ainda me parecia como uma fantasia, ou algo do tipo, e eu... bem, eu também tinha muito a dizer, mesmo sem saber exatamente o quê.

É engraçado esse negócio de alguém próximo se declarar pra gente, ainda mais em certos tipos de situações, porque acho comum haver essa sensação de dúvida, como se aquilo talvez não tivesse realmente acontecido, como se tivesse sido mais uma fantasia da nossa cabeça, mas eu sabia que era real, até porque Débora não falaria se não fosse, e isso me deixava ainda mais mexida a respeito.

– "To doida pra você voltar." – Confessei, ainda aos prantos.

– "Já, já to aí, mas agora vou dormir, to bem cansada."

Ela poderia realmente estar muito cansada, o que faria total sentido, mas havia um sexto sentido me dizendo que talvez o motivo fosse outro, como se ela também pudesse estar igual a mim, em algum lugar, processando seus sentimentos, como eu estava, sentada no sofá daquela sala.

– "Boa noite pra você, bom descanso... saudade." – Enviei.

– "Pra você também, meu anjo."

Depois de desidratar pelos olhos, consegui começar a me recompor, pois acho que aquela conversa foi importante pra mim, mesmo que tenha sido curta e resumida, mas é que falar as coisas que falei, como aconteceu com Claudinha, parecia tirar uma parte do enorme peso que trazia em meu coração.

Sobre sua última mensagem, eu senti falta dela me dizer que também estava sentindo a minha falta, mas preferi não e apegar a isso porque acredito que Débora já tenha se exposto emocionalmente bem mais do que eu havia feito até ali, então preferi não pensar nisso, me levantei, lavei meu rosto e fui pro quarto.

Me deitei em minha cama com o sentimento de que meu tempo estava acabando e que precisava tomar uma decisão urgente, pois se ela aceitasse aquela proposta, só Deus sabe se nos veríamos novamente e, mesmo que não tentasse convencê-la a ficar, eu não poderia deixá-la ir sem dizer o que realmente importava... dizer que eu estava apaixonada.

– "Oi, podemos conversar?" – Olhei meu celular, no dia seguinte, e era Guilherme, o meu ex.


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