10- Se Encontraram

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No dia seguinte fomos trabalhar e eu sentia ainda aquela pulga estranha atrás da minha orelha, mas decidi que ia ignorar, decidi que era apenas coisa da minha cabeça e, se não tinha motivo, então não existiria pra mim.

Passei o dia bem, almocei sozinha, embora Caio e Henrique tenham me chamado novamente. Eu precisava ficar sozinha e ter um bom dia dessa vez... pelo menos tentar. Fui sozinha sim, até porque nem Débora falou nada, mas foi o que precisava que tivesse sido, comi em paz e foi perfeito.

– "Hoje é sexta-feira, bora sentar num barzinho mais tarde?" – Me perguntou Caio pelo chat.

– "Quem mais vai?"

– "Ainda não falei com ninguém, por quê?"

– "Vê se as meninas querem ir, vou falar com a Débora também, aí se geral topar, a gente vai sim."

– "Não quer ir só comigo, é isso?"

– "No momento preciso de amigos, não de um novo relacionamento." – Respondi, seca, do jeito que precisava fazer.

Perguntei pra Débora se ela topava, ela me perguntou quem ia, eu disse que seria o Caio e as outras duas meninas do setor dele, e ela topou, o que pra mim era ótimo, porque me senti confortável em beber, pois sabia que ela estaria lá pra me ajudar, se houvesse necessidade.

O expediente acabou e fomos todos pra um bar relativamente próximo ao nosso trabalho. Eu fui a primeira a sentar, em seguida Caio se sentou do meu lado, Débora na minha frente e as meninas nas outras cadeiras vagas. Confesso que aquela configuração me deixava desconfortável, mas não tinha como controlar onde cada pessoa ia sentar, quando vi, já tava assim.

Começamos a beber e a conversar, e estar ali com eles tava me fazendo muito bem, porque a gente ria e isso me distraía, mas houve algo que mexeu comigo. Em determinado momento da noite, Débora se levantou dizendo que ia ao banheiro, mas o tempo foi passando e ela não voltava, então começaram a zoar.

– Acho que ela se arranjou por aí. – Brincou Paula.

– Como assim? – Perguntei tentando manter a naturalidade.

– Tinha uma mulher olhando muito pra ela, você não viu porque ta de costas. – Disse Laura.

Bêbada, me levantei dizendo que também ia ao banheiro, mas era lógico que queria saber onde ela tava. Caminhei pelo espaço, fui realmente até lá, cheguei a usar, mas não a vi. Quando saí e olhei pro lado no qual ainda não tinha ido, eu a vi, de longe, realmente beijando uma mulher.

Fiquei alguns segundos olhando sem entender o que estava sentindo. Será que eu tava com ciúme? Não sabia, só sabia que foi a primeira vez que alguma definição realmente surgiu em minha mente, mas não havia o que pudesse fazer a respeito, então voltei pra mesa, me sentei e, tentando sorrir, disse:

– Realmente ela ta com uma mulher lá do outro lado do bar.

Todos riram, enquanto Caio se aproximou do meu ouvido e, sussurrando, disse:

– A gente podia estar fazendo a mesma coisa.

Eu o olhei por um instante e, sem saber o porquê, o beijei, na frente das meninas mesmo, como se precisasse daquilo, mas, por fim, não me causou o sentimento que gostaria que tivesse causado, pois continuava me sentindo mal pelo que tinha visto, por tê-la visto com outra mulher... "outra" mulher?

Débora voltou poucos minutos depois e parecia bem, parecia alegre, e isso me deixou ainda mais estranha, principalmente porque as meninas a zoaram e ela ficou constrangida, mas não era algo triste, pois ela sorria, achava graça, enquanto que, pra mim, não havia nada de engraçado naquilo.

– Acho melhor eu ir embora, não to muito bem. – Falei.

– Quer que eu te leve? – Perguntou Caio.

– Não, não precisa, Débora vai comigo. – Olhei pra ela. – Não vai?

– Vou sim. – Respondeu ela mudando de fisionomia.

Pegamos um carro de aplicativo, já que ambas estavam bêbadas, e fomos pra casa... pra minha casa, no caso. Fomos em silêncio e chegamos em silêncio. Ao entrar, fui pra cozinha, me apoiando pelo caminho, pra beber água. Peguei meu corpo e me encostei na pia enquanto ainda processava o que tava acontecendo dentro de mim.

Débora também pegou água, se aproximou e também se apoiou na pia, de frente a mim, como na outra vez, e perguntou:

– O que você tem?

Eu não conseguia olhar pra ela, porque havia tanta coisa acontecendo por dentro que nem sei explicar. Débora se aproximou um pouco mais, alisou meu cotovelo e disse:

– Ei, fala comigo.

Eu a olhei, séria, olhei cada pedacinho de seu rosto, mesmo estando bêbada, pois estava, então me virei, ficando de frente pra ela, coloquei meu copo sobre a pia e continuei olhando-a em silêncio... como dizer que não me sentia nada bem por tê-la visto beijando outra mulher? O que a palavra "outra" significava exatamente pra mim? Eu não sabia.

– Fiz alguma coisa que te irritou? – Perguntou parecendo receosa.

Será que ela sabia? Será que ela tinha percebido? Será que não era segredo que eu estava me sentindo mal por causa do que tinha visto? Como explicar? O que explicar, exatamente? Eu nem sabia o que tava sentindo, não tinha como falar sobre algo dessa maneira.

Devagar, ergui minha mão e toquei seu rosto,estranho foi que essa ação me gerou uma emoção estranha... não cheguei achorar, mas me senti mexida. Também devagar, aproximei meu rosto, até encostarnossos narizes... abri minha boca, como quem anseia por algo, mas sem saber bemo quê. Senti sua mão em minha cintura e em momento algum ela me afastou, atéque, segundos depois, nossos lábios finalmente se encontraram... sim, eu abeijei... nós nos beijamos... finalmente?


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